OSLORENAS: O PRAZER DAS MORENAS

CARNAVAL EM CACHOEIRA PAULISTA

“Sociedade Carnavalesca Prazer das Morenas”

As antigas sociedades musicais que surgiram a partir da chegada da corte portuguesa em 1808 e se espalharam por todo o país, tinham como principais características, o aprendizado a partir da prática musical e uma forte ligação com a igreja católica, estando presentes em todas as suas festas e rituais. Essas filarmônicas ou corporações musicais civis do final do século XIX e início do século XX, passaram a divulgar diversos gêneros musicais, que eram apresentados às famílias e aos interessados em ouvir música de qualidade através das retretas nos coretos das praças públicas. A popularização das festas profanas e a organização de desfiles e bailes carnavalescos, deram origem a um novo campo de atuação para as bandas musicais, com oportunidade de utilização do crescente poderio sonoro dos seus metais.

Os Lorena, foram mestres nesse gênero e a “Sociedade Carnavalesca Prazer das Morenas”, presidida pelo Maestro José Randolpho Lorena, tornou o Carnaval de Cachoeira Paulista famoso por todo o Vale do Paraíba. Sua música, sua família, seus filhos e filhas tiveram ativa participação nesses acontecimentos, dos quais conseguimos recuperar para as nossas memórias algumas imagens e informações.

Fundação da “Sociedade Carnavalesca Prazer das Morenas”
Texto original extraído das memórias datilografadas pelo próprio Maestro Lorena.

“...aproximando-se a época do carnaval, um grupo de trabalhadores do Depósito da Estrada de Ferro resolveu formar uma sociedade carnavalesca e, no primeiro dia dos festejos, um grupo de pretos humildes, pedreiros que moravam no Alto da Igreja, desciam o morro cantando com os pandeiros e fantasiados, foram surpreendidos pelos “cabeças” da Sociedade do Depósito, que obrigaram os humildes pretos a voltarem não consentindo que eles percorressem as ruas! Achei esse fato indigno e, no dia seguinte, com a Banda de Música XV de Novembro, que eu dirigia, compareci com alguns amigos, fizemos os pretos passearem, deram baile e fundaram a Sociedade Carnavalesca “Prazer das Morenas” da qual fui eleito presidente, durante sete anos. Fiz cordões carnavalescos obedecendo a enredos os mais chics e caros, préstitos com carros, alegóricos, críticos, tudo bem disciplinado e obedecendo tudo a verdadeiro requinte de luxo, tendo sido qualificado por vários viajantes, como o melhor carnaval do Estado de São Paulo. Nos 3 dias de festejos, acorreram para esta cidade, grandes quantidades de automóveis, vindos de Piquete, Guará, Pinda, Lorena, Cruzeiro, Rezende e até de Barra. Trabalhei muito, comprei a casa onde era a sede com a obrigação de dar 2 contos todos os anos, com a condição de, um ano que deixasse de pagar no dia aprazado, o dono teria o direito de tomar conta da casa, perdendo a Sociedade, tudo que tivesse. Só deixei a sociedade depois que a entreguei sem dívida e com a escritura, não devendo coisa alguma. Durante 3 anos e meio, mantive os bailes de domingueiras, das 9 as 12 da noite, para manter a freqüência das famílias, com os músicos: Nelson Lorena, Biloca, Rossete, Pedrico e Milton Lorena, que por solidariedade a mim, tocaram todo esse tempo gratuitamente. Hoje o Clube tem outro nome, um novo prédio em lugar do velho e mudaram o nome para Clube Literário, embora ali ninguém trate de literatura. Muitos sócios com as diretorias que sucederam, pela janela, são os que mandam e os antigos que alicerçaram a Sociedade, como não são dotados de fortuna pecuniária, foram votados ao esquecimento. Durante minha gestão, nunca bebi, nunca joguei e nunca negociei com a Sociedade. Trabalhei bastante, dei o máximo que podia e saí com a consciência e as mãos limpas. Quando fiz todo esse trabalho, ainda se acreditava nos homens.”

O Carnaval de Cachoeira Paulista em quatro gerações de Lorenas. (clique nas fotos para ver ampliações)

OS MÚSICOS

(sentados: à esquerda Nelson Lorena, ao centro o Maestro Lorena)
Carnaval em Cachoeira - 1923.