A ESCOLA DE NANCY E A ART NOUVEAU

A ART NOUVEAU E A ESCOLA DE NANCY



Documentário dirigido por Françoise Levie/ França 2004 / 52 min / Cor / Dolby 2.0 / 1.33:1 / NTSC / Inglês ou Língua Francesa.


Françoise Levie, o premiado documentarista especializado em biografias de indivíduos únicos, dirige o documentário sobre Siegfried Bing. Promovendo artistas tão diversos e talentosos como Munch e Toulouse-Lautrec, Bing foi a inspiração e a força do movimento artístico conhecido como “Art Nouveau”. Levie mostra como ele colocou sua marca pessoal no mundo da arte no final do século 19, realizando exposições desde a Europa até a Ásia, promovendo as artes decorativas e o trabalho de artistas-chave.


MAISON DE L'ART NOUVEAU

Siegfried Bing, de origem alemã, (Hamburgo, 26-02-1838 / 06-09-1905, Vaucresson) foi um negociante de arte, colecionador e mecenas, também conhecido como Samuel Bing depois de naturalizar-se francês . Em 1884, ele abriu uma loja na Rua Chauchat 19, em Paris e, ao visitar a vila de Henry Van de Velde, em Bruxelas, percebeu a importância da renovação artística e renomeou sua loja com o nome de Maison de l’Art Nouveau, origem do nome francês do movimento.



Vista exterior da Maison de l’Art Noveau na esquina da rue de Provence, 22 e rue Chauchat, 19 em dezembro de 1895. Fotografia por E.Pourchet, Instituto Francês de Arquitetura, Paris.


Comercializando móveis de Van de Velde, Colonna, Georges de Feure, Gaillard, jóias de Morren e Lalique, artigos de vidro de Gallé e cerâmica de Finch, Bing tornou-se representante dos bronzes, cerâmicas, jóias, tapeçaria e arte em vidro de Louis Comfort Tiffany, em França, enquanto este lhe retribuia a cortesia nos Estados Unidos. Bing criou uma revista “A Arte do Japão” e instalou um estúdio de criação junto à loja para apoio aos artistas, escultores e decoradores, o que lhe possibilitou ter um pavilhão na Exposição Universal de Paris em 1900.



Entrada da galeria Art Nouveau de Bing na
Exposição Universal de Paris, em 1900.

O projeto de decoração apresentado pela galeria de Bing propiciou visibilidade e reconhecimento internacional ao movimento, que ficou conhecido como Art Nouveau. As fronteiras entre belas-artes e artesanato foram atenuadas e, materiais como o ferro, o vidro e o cimento foram amplamente utilizados. Os ofícios e os trabalhos manuais foram valorizados, assim como a lógica e a racionalidade das ciências e da engenharia, acompanhando de perto os rastros da industrialização.


A Art Nouveau se expressa através da habilidade na exploração de traços obtidos na natureza. As formas de plantas e animais evidenciam a diferença entre o labor artístico e a reprodução realizada pelas máquinas, caracterizando uma reação aos ditames da sociedade industrial emergente. Todas as áreas criativas e técnicas foram envolvidas; os materiais deveriam reforçar a singularidade artística e ser trabalhados por processos que não se adequassem aos moldes da produção industrial emergente. Uma engenhosa provocação ao poder que as máquinas galgavam naquela época.


A ESCOLA DE NANCY

Os principais centros franceses da Art Nouveau foram Paris e Nancy, mas coube à pequena cidade revelar os seus mais ricos aspectos florais e simbólicos.

A Escola de Nancy foi oficialmente fundada em 1901. Emile Gallé (1846-1904), seu primeiro presidente, redigiu os Estatutos cujos objetivos eram desenvolver e promover as artes decorativas e industriais da Lorena.



O MUSEU

O Museu da Escola de Nancy  é um dos poucos museus franceses dedicados a um movimento artístico, o Art Nouveau nanciense. Membro da Associação de Jardins da Lorena, dispõe de uma grande variedade de plantas e seu jardim, com lagos e plantações projetados por horticultores nancienses contemporâneos da Escola de Nancy, foi completamente restaurado em 1998.

Localizado na antiga propriedade do mais importante patrono e colecionador da Escola de Nancy, Eugène Corbin, tem em seu acervo peças de vidro, mobiliário, vitrais, cerâmica, couro, ferro, arquitetura, representativos deste vasto movimento de renovação das artes decorativas que, ainda hoje, marca a cidade de Nancy.

JEAN-BAPTISTE EUGENE CORBIN (1867-1952), colecionador e mecenas, fundador da loja de departamentos Magazines Reunidos de Nancy, atraído pela modernidade e fascinado com a Escola de Nancy, tornou-se um dos seus principais patrocinadores. Atento às preocupações com o ensino e a divulgação, Corbin participou da criação de várias competições organizadas pela Escola de Nancy, em 1909, e fundou a revista Arte e Indústria em colaboração com Emile Goutière-Vernolle.

Como colecionador, Corbin fez uma importante doação para a cidade, em 1935, com mais de 600 peças. Apresentada pela primeira vez nas galerias Poirel, esta coleção foi transferida, em 1964, para a Rua Sargento Blandan, no endereço da antiga residência de Eugene Corbin e atual Museu da Escola de Nancy.



Residência de Eugène Corbin, atualmente Museu da Escola de Nancy.


EVENTOS IMPORTANTES

A Art Nouveau desenvolveu-se pelo mundo por volta de 1900. Relacionamos alguns dos principais eventos culturais colocando em perspectiva a Escola de Nancy.

• 1889, Paris, Exposição universal. Emile Gallé: Grande Prêmio (vidro), medalha de ouro (cerâmica), medalha de prata (mobiliário). Participação de Louis Majorelle (mobiliário). Emile Friant, medalha de ouro (pintura). Victor Prouvé, medalha de bronze (pintura).

• 1893, Paris, Primeira menção de uma escola lorena de artes decorativas, sobre as associações modernas integradas por Victor Prouvé, Camille Martin e René Wiener.

• 1894, Nancy, exposição de arte decorativa e industrial nas galerias Poirel. Primeira exposição da futura Ecole de Nancy com mais de 70 expositores lorenas.

• 1900, Paris, Exposição universal. Cinqüenta artistas lorenas premiados.

• 1901, Nancy, Criação oficial da Escola de Nancy (Aliança Provincial das Indústrias de Arte). Emile Gallé foi seu primeiro presidente.

• 1903, Paris, Pavillão de Marsan. A Escola de Nancy expõe seus trabalhos, a convite da União Central das Artes Decorativas.

• 1904, Nancy, Morte de Emile Gallé. Abertura da Exposição da Escola de Nancy nas galerias Poirel.

• 1909, Nancy, Exposição Internacional do Leste da França. Última grande participação da Escola de Nancy.


PRINCIPAIS ARTISTAS

EMILE GALLÉ
Nancy, 1846 - 1904
Industrial, mestre vidreiro, marceneiro e ceramista.

Após um período de aprendizagem em diferentes cidades da Europa, Emile Gallé se associa com a empresa de fabricação de faiança e cerâmica decorativa em vidro de seu pai. Premiado na Exposição da Terra e do Vidro em 1884, Emile Gallé é consagrado na Exposição Universal de Paris, em 1889, com três prêmios por sua cerâmica, seus vidros e seu mobiliário. Como sua cerâmica não agradou ao público direcionou seu trabalho para o vidro, desenvolveu e criou novos processos de fabricação que resultaram em duas patentes em 1898, uma relacionada à marchetaria em vidro e outra à pátina em vidro.
Em sua obra a natureza ocupa um papel predominante, mas não exclusivo. Seus compromissos patrióticos e políticos são evidenciados nas exposições internacionais de Paris em 1889 e 1900, em peças como o quadro "O Reno" (que reivindica a devolução da Alsácia-Lorena à França) ou em instalações espetaculares como "Os sete jarros Marjolaine" (em prol da reabilitação de Dreyfus). Emile Gallé difundiu peças de qualidade em série, graças à industrialização de sua produção. Em 1901, foi o fundador e primeiro presidente da Escola de Nancy, "Aliança Provincial das Indústrias de Arte”.



Etagére Bambou-Emile Gallé

Móvel com prateleiras assimétricas feito em 1894 por Emile Gallé. Decorado com flores de maçã e borboletas de bronze em estrutura que evoca motivos japoneses.



Vaso em cristal entalhado,
Museu de Belas-Artes de Dijon.



Vaso Marguerite,
atualmente no Petit Palais em Paris.

















EUGENE VALLIN
Herbévillers, 1856 – 1922, Nancy
Marceneiro e arquiteto

Eugene Vallin aprendeu escultura e modelagem de madeira com Charles Pètre na escola municipal de desenho. Tornou-se um designer de móveis, trabalhando apenas por encomenda e recusando em industrializar sua produção. Vallin faz salas de jantar, salas de estar, escritórios de grandes mecenas de Nancy como Corbin, Masson, Bergeret, Kronberg, etc.

Após uma produção de móveis religiosos de inspiração gótica, o artista desenvolveu sua arte, usando a dupla experiência como construtor e escultor-entalhador. Em colaboração com Georges Biet, fez algumas construções em estilo moderno, inclusive sua própria casa no Boulevard Lobau, primeira manifestação da arquitetura Art Nouveau em Nancy, em 1895, e também a vila de Georges Biet, Rua da Comendadoria, 22. Realizou, em 1896, a porta do atelier de marcenaria de Gallé, preservado até hoje no jardim do Museu da Escola de Nancy.

Em 1901, foi vice-presidente da Escola de Nancy. É o autor, em 1909, do pavilhão da Escola de Nancy na Exposição Internacional do Leste da França, em Nancy, em colaboração com Victor Prouvé.



Porta de carvalho em uma parede livre no jardim do museu. A inscrição “La racine est au fond des bois", pode ser traduzida como "A raiz está na base da árvore", num belo jogo de palavras.



 Sala de jantar Masson, Vallin (1904)


LUCIEN WEISSENBURGER
Nancy, 1860 - 1929
Arquiteto

Lucien Weissenburger estudou na Escola de Belas-Artes em Paris, nos estúdios de Jules André e de Victor Laloux. Voltou para Nancy, em 1888 e tornou-se arquiteto municipal de Luneville onde construiu o teatro. Colaborou com Henri Sauvage, desde 1900, controlando a construção da vila de Louis Majorelle. Demonstra grande ecletismo e variadas inspirações (Art Nouveau, regionalismo, referências históricas) e uma diversidade de comandos (fábricas, casas, hotéis particulares, grandes lojas de departamento, as primeiras HBM de Nancy). Foi membro do Comitê Diretor da Escola de Nancy, desde a sua criação em 1901.



Vila Majorelle



Villa Lang (1905-1906), parque de Saurupt, Nancy


JACQUES GRUBER 
Sundhausen, 1870 – Paris, 1936
Decorador e pintor-de-vitrais

Jacques Gruber estudou em Paris na Escola de Artes Decorativas, na Escola de Belas-Artes e frequentou o ateliê do pintor Gustave Moreau. Em 1893, ingressou na firma Daum, como decorador-chefe, e foi professor da Escola de Belas-Artes de Nancy até 1916. Embora principalmente interessado sobre a técnica da vidraria, Jacques Gruber não abandona os outros aspectos das artes decorativas. Colabora com vários industriais e artesãos nancienses aos quais fornece modelos e decorações para móveis, encadernação de livros e objetos de faiança requeimada. Desenhou igualmente menus e programas para gráficas nancienses.
É o mestre vidreiro nanciense preferido de Louis Majorelle, Eugene Corbin, Albert Bergeret, e também da Câmara de Comércio, da Cervejaria Excelsior, do Credit Lyonnais, dos Magazines Reunidos, etc. Sua obra tem grande qualidade gráfica e pictórica de inspiração naturalista e também simbólica, é uma verdadeira síntese das técnicas de fabricação de vidro da época. Foi membro da Comissão diretora da Escola de Nancy desde 1901.



"Aquarium" construído em 1904 por Lucien Weissenburger, com vitrais de Jacques Grüber, na casa de campo de Eugène Corbin, atualmente Museu da Escola de Nancy.



Eugène Vallin, Emile André, Jacques Gruber: Porta de um salão do
Magazins François Vauxelaire et Cie., Museu d'Orsay.



Vitral Tiffany (1908), de Jacques Gruber. O impressionante vitral
decora o teto da entrada do Gran Hotel, na Cidade do México.


LOUIS MAJORELLE 
Toul, 1859 – 1926, Nancy
Industrial, artista decorador e marceneiro. 

Frequentou os cursos de Theodore Devilly e Charles Pêtre na Escola de Belas Artes de Nancy sendo admitido ao ateliê do pintor Aimé Millet, na Escola de Belas-Artes em Paris, em 1877. Após a morte de seu pai retornou a Nancy e dedicou-se à empresa da família e a fabricação de móveis e porcelanas.
Em 1894, Louis Majorelle substituiu o verniz e a pintura em estilo japonês do mobiliário por uma decoração em marchetaria com referências naturalistas e simbolistas. Reconhecido principalmente por seu trabalho como um marceneiro, Louis Majorelle desenvolveu a produção de móveis em dois níveis: o mobiliário de luxo, fabricado em Nancy na Rue du Vieil Aître, e a linha de móveis populares produzidos nas oficinas de Pierre Majorelle, em Bouxières, próximo de Nancy.

Nas suas oficinas desenvolve a confecção dos bronzes decorativos e também das luminárias, em colaboração com Daum. Produziu cerâmicas em diversas oficinas da região da Lorena e fabricou modelos de objetos em arenito para Alphonse Cytère (Rambervillers) e os irmãos Mougin. Suas muitas atividades o levaram a abrir vários showrooms, incluindo Paris, Lyon e Lille. Em 1901, foi vice-presidente da École de Nancy.



Louis Majorelle, Buffet de Salon “Les Algues” (1904-1905),
 Museu da Escola de Nancy.



Louis Majorelle, “meuble d’appui” (1885), Museu da Escola de Nancy



Mesa com orquídeas (1903), em mogno com bronze dourado e vidro,
produzida por Louis Majorelle e Irmãos Daum, em 1878.



Louis Majorelle, “guéridon Nénuphars” (1902), Museu da Escola de Nancy



Leito "Nénuphars" (1905-1909) em mogno e bronze dourado, 
de Louis Majorelle, Museu d'Orsay.




VICTOR PROUVÉ 
Nancy, 1858 – 1943, Setif
Pintor e artista decorador.

Victor Prouvé ingressou na Escola de desenho de Nancy e, em seguida, no atelier de Cabanel na Escola de Belas-Artes de Paris. Residindo em Paris até 1902, mas sem deixar de participar da vida artística nanciense, tornou-se o segundo presidente da Escola de Nancy após a morte de Emile Gallé, em 1904.
Foi pintor retratista e paisagista, escultor e gravador; trabalhou com couro e metal e produziu desenhos para bordados e joias, colaborou com vários artistas e industriais da Escola de Nancy. Projetou diversos conjuntos e objetos de vidro e mobiliário para Emile Gallé, realizou pesquisas em gesso para Eugène Vallin, criou motivos para bordados para Fernand Courteix e Heymann Albert, editou estatuetas dos irmãos Mougin e Daum para os bronzeiros parisienses, etc. Realizou também numerosos menus, programas, vinhetas, cartazes e ilustrações de livros.
Sua participação nos Salões de Paris e de Nancy, desde 1882, garantiu-lhe reconhecimento nacional e várias solicitações públicas e particulares. Revolucionou a arte da encadernação, com Camille Martin e o encadernador René Wiener na Exposição do Champ-de-Mars de Paris, em 1893, o que valeu à Escola de Nancy seu primeiro reconhecimento nacional e internacional. De 1919 a 1940, Prouvé foi diretor da Escola de Belas-Artes de Nancy, sem abrir mão de uma fecunda carreira pessoal.



Piano de cauda "A Morte do Cisne" (1903-1905),
Louis Majorelle e Victor Prouvé, Museu da Escola de Nancy.

Piano destinado ao colecionador e mecenas, Jean-Baptiste Eugène Corbin. Louis Majorelle encarregou-se da produção geral do móvel e Victor Prouvé foi o autor dos desenhos de marchetaria, que configuram a cena da morte do cisne  atravessado por uma flecha, inspirados pela ópera de Wagner, Lohengrin, em tema simbolista do século XIX.


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