LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
Com sua característica fertilidade, Nelson Lorena escreveu, em estilo de crônicas, sobre história, ciências, retratos do cotidiano, crítica, política e religião, entre outros temas. Do acervo produzido entre 1977 e 1990, destacamos a matéria publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano I, edição nº. 23, de 22 a 27 de outubro de 1977.
GERALDO ROCHA BARBOSA
Um cachoeirense, gênio do piano
Um cachoeirense, gênio do piano
NELSON LORENA
Como é simples o amanhecer das grandes coisas. O Sahara, com seus seis milhões de quilômetros quadrados, começa com um grão de areia. O nosso Amazonas, o maior rio do mundo em volume de água, nasce em pequenos veios de água, a maior expressão humana de todos os tempos, nas palhas de uma manjedoura. As longas caminhadas para a glória, começam com um simples e vacilante passo... Era a casa do Sr. João Thomaz, esquina da Rua Major Batista com Bernardino de Campos. Muitas vezes, ao passar por ali, ouvia de seu antigo piano, sons rudimentares de lições de aprendizado. Casa baixa, janelas amplas, vidraças de guilhotina, telhado colonial com beiral protegido com calhas, como todas as casas primitivas de nossa cidade, quem por ela passasse, veria como eu muitas vezes vi, um menino de uns cinco anos, calças curtas, cabelo à Joana d’Arc, estudando piano. Era Geraldo Rocha Barbosa, filho de meu saudoso professor e amigo, Salvador Barbosa. Nascido em lar simples e humilde, seu destino seria como o das grandes coisas; Aristoginton Guimarães, ministra-lhe as primeiras lições de piano, seguido de Da.Cotinha. Aos sete anos, já se exibia em público como pianista. Dedicou-se à requinta, a conselho de meu pai, por que seus dedos pequenos não se adaptavam a clarineta. Aos doze anos, sua tia Idalina Rocha Pereira da Silva, discípula de Cavallier d’Arbily e detentora da Medalha do Imperador, levou-o para o Rio de Janeiro. Considerado unanimemente pela crítica como revelação, como menino prodígio e outros adjetivos que caracterizam o gênio, Geraldo inicia sua escalada para a glória da maneira mais promissora, com orgulho para a terra em que seus olhos se abriram pela vez primeira. Tudo quanto se disse de Geraldo Rocha Barbosa como intérprete do piano, será pouco para retratá-lo com fidelidade. Temos em mãos o currículo resumido de sua atividade profissional, que todos nós devemos conhecer, num período que vai de 1944 a 1975, entre concertos e recitais: Temporada Oficial do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com o 4º Concerto de Beethoven, regente Eleazar de Carvalho; Recital na Escola Nacional de Música do Rio de janeiro; Recital na Cultura Artística de Curitiba; Orquestra Sinfônica Brasileira, Concerto de Griec, regente Eugen Szenkar; Associação Brasileira de Imprensa, recital de obras de Henrique Oswald, ilustrando conferência de Helza Cameu, Recital no Clube Itajubense de Itajubá, recitais na Cultura Inglesa do Rio de Janeiro, na Secretaria de Educação e Cultura de Salvador, na Escola Nacional de Música, na Cultura Artística de Itajubá e no Lions Clube de Copacabana; com Orquestra Sinfônica Brasileira, II Concerto de Liszt, regente Jean MacNab, Saguão da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, regente Henrique Nuremberg, Orquestra Sinfônica de Recife, IV Concerto de Beethoven e II Concerto de Liszt, regente Guido Mansuino; Temporada oficial da Orquestra Sinfônica de Recife, Concerto de Tchaikoviski, regente Vicente Fittipaldi. Apresentações como solista com as orquestras dos Teatros Municipais de São Paulo e Rio, em função de Ballet, atuando com o Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio, da Ópera de Paris, Les Etoiles de Paris e Ballet da Dinamarca. Cerca de cinqüenta atuações incluindo, os Concertos em Sol menor de Saint Saens, em lá menor, de Griec; Variações Sinfônicas de Cezar Frank; Concerto II de Chopin; II Concerto de Mendelsson. Rapsody in Blue, de Gershwin, Aubade de Poulen; Danças Sagradas e Profanas de Debussy e Dança da Morte de Liszt. Atuou como solista convidado na Inauguração do Teatro Castro Alves, de Salvador, tocando o Concerto em Ré Maior de Bach, regente Henrique Morelenbaum. Inauguração do Teatro Amazonas de Manaus, como solista convidado, executando o Concerto sobre Formas Brasileiras, de Heckel Tavares, regente Henrique Morelembaum. Atuou como solista, na comemoração do Centenário de Chopin, convidado da Rádio da Educação do Rio de Janeiro. Atuou na inauguração da TV Jornal do Comércio de Recife. Aperfeiçoou sua técnica com o professor Barcowitz, em Campinas e Tomás Téran, no Rio de Janeiro. Dono de uma assombrosa memória musical, recebeu de Oscar Guanabarino, Eurico Nogueira França, Ayres de Andrade, Magdala da Gama Oliveira, Andrade Muricy, Arthur Imbassay e críticos de vários jornais, os maiores e mais justos elogios, quando de suas exibições. Pretendíamos e conseguimos trazer aos nossos conterrâneos, a imagem do extraordinário artista que é Geraldo Rocha Barbosa que, pela tenacidade e amor à arte que abraçou, conseguiu atingir como intérprete clássico o nível dos maiores pianistas da atualidade. Eis pois, o nosso Geraldo, talento e orgulho de nossa terra.
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