BOA, MAS FEIA!

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano V, edição nº.237, de 26 a 31 de dezembro de 1981.




BOA, MAS FEIA!

NELSON LORENA



Li em “O Cachoeirense” a notícia da desapropriação, pela Prefeitura, da área de precisamente 15.775 m² em frente à Quadra Coberta, naturalmente pra aproveitamento em melhoramentos de nossa cidade. Foi aventada a idéia de se construir ali um campo de futebol, o que já se tornou mania a toda praça que se constrói. A cidade é boa, clima salubérrimo, mas, feia. Urge embelezá-la! Há 45 anos, em 1936, pois, escrevi um artigo em “A Notícia” sobre urbanismo, no qual sugeri o aproveitamento daquela área para a construção de uma mini-quinta, nos moldes da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Lago, ilhas ligadas por pontes rústicas, caramanchões, pérgulas, botes para passeios, bares, coretos para bandas, cercada em toda sua extensão por uma pista de água de cinco metros de largura, destinada a dificultar o acesso de estranhos e, seu aproveitamento para competições de natação e regatas. Em 1978, Agostinho nos contou através da imprensa, em “Problemas Municipais”, que Plínio de Godoy, engenheiro, lhe disse que a forma em cancha da área citada, na Europa já teria sido aproveitada, justamente para construção daquilo que em 1936 eu preconizara. O momento tornou-se mais que propício. O seu aproveitamento para o futebol é praticamente impossível. A forma irregular do terreno, em forma de “raquete”, as despesas milionárias com aterro, consolidação do terreno, muro de contorno, 60.000 tijolos e fundações de cimento armado, etc., afastam toda a possibilidade. Em 1978, por sugestão do Sr. José Mário Pinto e beneplácito do Sr.Prefeito, elaboramos, eu e meu filho, uma “maquete” na qual retratamos o aspecto futuro da área, com ilha para macacos, ilhas ligadas por pontes, ilha para retretas da banda de música, pracinha ajardinada, onde um quarto do terreno seria aterro e três quartos, de água, trazida por gravidade do Paraíba ou por bomba, ou ainda por derivação parcial da água que vai para o depósito da Central, após entendimento com sua administração. A “maquete” exposta no Museu Maestro Lorena, tem sido admirada e elogiada por todos que o visitam. Unânimes são em proclamarem-na como o mais belo parque municipal do Vale. Um alambrado de 410 m o circundaria e a pista aquática de contorno completá-la-ia da invasão clandestina. Sugerimos até que se desse ao Parque o nome da professora Da. Nina, uma das muitas senhoras de valor, esquecidas dos poderes públicos. Chegou, pois, a hora de embelezarmos nossa terrinha, considerada por ilustre médico, filho de Cachoeira, em pesquisa realizada há anos, como a de melhor condição sanitária do Vale, sem epidemias, sem endemias, clima ótimo, povo hospitaleiro e bom, cidade enfim, boa, mas feia!



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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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