A CALÇADA DO LORENA

Bernardo José de Lorena, Governador de São Paulo, foi um grande administrador. Estão entre os melhoramentos que fez na capital paulista: a construção do quartel da cidade, do chafariz do Largo da Misericórdia, da ponte sobre o rio Anhangabaú, o calçamento das ruas e a construção do Teatro da Ópera. Mandou fazer o levantamento topográfico e demarcou os limites das capitanias de São Paulo e Minas Gerais, participando ainda da fixação da fronteira com a América Espanhola. Elevou à condição de vila a Freguesia de Nossa Senhora da Piedade, que depois tomou o nome de Lorena. Acertou as contas da capitania com a Metrópole e equipou as tropas e os regimentos da Infantaria. Atendendo ao desejo da Coroa de fortalecer as atividades comerciais da colônia, adotou duas medidas que foram responsáveis pelo início do desenvolvimento da economia paulista: estabeleceu o monopólio comercial do porto de Santos e realizou o calçamento do caminho entre São Paulo e Santos na Serra do Cubatão, a Calçada do Lorena. Bernardo de Lorena, que recebeu o título de Conde de Sarzedas, soube em seu governo montar uma estrutura básica que colocaria São Paulo em posição de destaque no comércio internacional.
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CALÇADA DO LORENA
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Foi o seu trabalho mais importante no Brasil. Devido ao aumento do comércio no porto de Santos, decidiu solucionar o problema do tráfego e favorecer, com melhores condições de transporte, os agricultores do interior paulista. Mandou então, em 1790, construir a estrada que, pelo seu ineditismo e grandeza, ficou conhecida como “Calçada do Lorena”, com 8.000 metros de extensão e 3 metros de largura, toda calçada em pedra e projetada em ziguezague para vencer o desnível de mais de 800 metros da Serra do Mar. Causou grande admiração pela qualidade de sua construção e Bernardo de Lorena escreveu assim seu nome na História, sendo o mentor daquela que foi, em sua época, a estrada mais moderna da América do Sul.
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Entre os engenheiros do Real Corpo de Engenheiros de Lisboa que vieram fazer a demarcação das fronteiras do Brasil, de acordo com o Tratado de Santo Ildefonso entre Portugal e Espanha, estava o brigadeiro João da Costa Ferreira, que se destacara nas obras de reconstrução de Lisboa, destruída pelo terremoto de 1755. Ferreira, depois de executar todos os levantamentos topográficos necessários, realizou o projeto da nova estrada na Serra de Cubatão, propondo algumas soluções técnicas que, ainda hoje, desafiam a nossa engenharia.
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Ao subir pela Calçada do Lorena, o mineralogista e explorador John Mawe escreveu que havia 'justo motivo de espanto pela realização de uma obra tão cheia de dificuldades'. E concluía dizendo: 'Poucas obras públicas, mesmo na Europa, lhe são superiores, e se considerarmos que a região por onde passa é quase desabitada, dificultando, portanto, muito mais o trabalho, não encontraremos nenhuma, em país algum, tão perfeita, tendo em vista tais desvantagens'. Gustavo Beyer, que veio da Suécia, em 1813, subiu a Calçada do Lorena e descreveu-a como "obra gigantesca", afirmando ainda que ela "contribui para dar uma idéia da energia do brasileiro e da sua inclinação para grandes empresas".
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ESTRADA DA INDEPENDÊNCIA
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A Calçada do Lorena prosseguiu em sua importância, pois passa, em 1822, a ser a “Estrada da Independência”. As boas condições de tráfego permitem que por ela o Príncipe D. Pedro, em 07 de setembro, partindo de Santos, da casa de José Bonifácio, ultrapasse os ranchos do Largo do Sapo em Cubatão e chegue a São Paulo, sendo interceptado, às margens do Ipiranga pelo mensageiro real. Por pouco, a Independência não é proclamada às margens do Rio Cubatão.
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“Uma ladeira espaçosa, calçada de pedras por onde se sobe com pouca fadiga, e se desce com segurança. Evitou-se a aspereza do caminho com engenhosos rodeios, e com muros fabricados junto aos despenhadeiros se desvaneceu a contingência de algum precipício. Por meio de canais se preveniu o estrago, que costumavam fazer as enxurradas; e foram abatidas as árvores que impediam o ingresso do sol, para se conservar a estrada sempre enxuta, na qual em conseqüências destes benefícios já se não vêem atoleiros, não há lama, e se acabaram aqueles degraus terríveis.” – Carta de Frei Gaspar da Madre de Deus a Bernardo de Lorena datada de 06/03/1792.
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MONUMENTO PADRÃO DO LORENA
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O primeiro centenário da Independência do Brasil foi comemorado com a inauguração de um conjunto de monumentos ao longo do Caminho do Mar, pelo então presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís. Relata-se que, durante a cerimônia de inauguração desses monumentos, Júlio Prestes pronunciou célebre discurso, do qual merece citação o trecho: "...por ela (Calçada do Lorena), os patriarcas de nossa emancipação política conduziram D.Pedro I, e as trompas da liberdade retroaram na alvorada da nacionalidade, acordando a alma alvoroçada do Brasil ao grito de Independência ou Morte!".
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