LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
A literatura de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentos artigos sobre história, ciências, humor, crônicas locais, crítica, política e religião, que publicou como cronista do Jornal “O Cachoeirense”. Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, o nosso agradecimento pelo acesso aos originais.
Jornal “O Cachoeirense” Ano III, Ed.nº.104, 21 a 27 de maio de 1979.
JESUS VOLTARA?
NELSON LORENA
A Fé é a convicção que possuímos em alcançar determinado objetivo. Ela se manifesta por estímulos exteriores e interiores. Exteriores, quando nossa razão estimulada por conceitos emitidos por valores de alto conceito moral, os aceita. Interiores, quando, como que de nosso íntimo brotasse, dando-nos a certeza absoluta da posse de uma Verdade. Assim, os estímulos poderão vir de fora para dentro e de dentro para fora. A Fé no princípio teológico Geocêntrico, não foi duradoura. O pronunciamento ditado por valores culturais e morais, somente por que são humanos, não estão isentos de falibilidade e, tanto assim que, a Razão, este deus íntimo que possuímos, provou a inconsistência do principio. “Jesus breve voltará.”, esse o slogan pregado por aqueles que, movidos pela Fé, isso esperam. Como são felizes os que a possuem! De nós, como temos as nossas dúvidas, sentimos não usufruir da felicidade dos que a alimentam! Se Ele votasse, o que Lhe aconteceria?
Entre 1969 e 1970, Aparecido Galdino Jacinto, após ouvir “uma voz”, começou a benzer animais e pessoas enfermas; sua fama logo se espalhou. Como boiadeiro e líder messiânico católico de uma comunidade religiosa, foi incurso na Lei de Segurança Nacional. Julgado pelos médicos como esquizofrênico paranóico, foi internado no Manicômio Judiciário de Franco da Rocha. O fato é longo e triste, mas iremos abreviá-lo o mais possível. "Uma vez por ano, sim, uma vez por ano, segundo a reportagem, ele é examinado por psiquiatras e durante dez minutos!” (sic). Conserva perfeito estado de lucidez e saúde, apesar de viver junto com doentes mentais. Defende-se dessa influência mental, lendo, estudando e trabalhando. Conta que, para defender sua família e suas terras ameaçadas pelas águas da barragem da Ilha Solteira, formou um “exército” de quatorze pessoas, desarmadas. Em 1º de outubro de 1970, estavam orando, quando a polícia chegou e o grupo teria resistido à violência policial. Isto não foi provado, sendo absolvido pela Justiça comum. Contudo foi denunciado à Justiça Militar, como esquizofrênico e perigoso à sociedade. Os laudos médicos contém contradições grosseiras e os psiquiatras se limitam a copiar os pareceres anteriores, dado que, por falta de tempo para um exame minucioso. A Organização Mundial de Saúde recomenda quarenta doentes mentais para cada médico; no Franco da Rocha são 240 para cada psiquiatra! Há exames que concluem pelo “déficit de senso crítico e afetividade” e, em seguida, afirmam que o doente vem sendo tratado com neurolépticos e tranqüilizantes fortíssimos que dopam qualquer pessoa, tornando-a indiferente à crítica e à afetividade. As conclusões, sempre apressadas, são, invariavelmente, as mesmas nesses seis últimos anos. “Do exposto, somos de parecer de que o examinando, continua doente perigoso, devendo continuar nosocomiado, para segurança da sociedade”. Os psicólogos Joel Bruno e Jussara Lins, afirmam: “Uma coisa é certa. Na verdade, nos encontramos diante de mais um caso em que a Medicina, revestida de toda sua aura de cientificismo, se converte em instrumento de tortura psicológica e aniquilamento moral”. O Presidente da Comissão de Justiça e Paz, admite que Galdino jamais foi um louco, mas sim, “vítima de um período neurótico em que todos éramos vistos como subversivos”. A primeira Auditoria Militar de São Paulo autorizou o exame, pela Coordenadoria de Saúde Mental do Estado, do ex-líder messiânico, em princípios deste ano. Agora, a Coordenadoria deu o seu parecer julgando-o um homem normal e vai ser posto em liberdade. Quem vai responder pela segregação injusta de um chefe de família durante esses oito anos? "Orar, benzer, curar, foi seu grande crime“!
Que aconteceria a Jesus se Ele voltasse? Um padre holandês denunciou Arigó como curandeiro; que foi, por isso, condenado e libertado por indulto do grande Juscelino. Quando Jesus viesse e dissesse: Eu sou o Cristo de Deus, quem o levaria a sério? Para que manicômio o levariam quando dissesse ao primeiro paraplégico: Levanta-te e anda! Para que prisão O levariam se mandasse o paralítico deixar seu carrinho de rodas? Onde poria os pés na Terra? Em que lugar? Na Irlanda, onde católicos e protestantes se exterminam há dez anos? No Líbano onde, outrora, a beleza cênica que de Beirute, Biblos, Saida e Trípoli atraia turistas, é hoje convulsionada pela luta entre Cristãos maronitas e muçulmanos, em nome de um deus desconhecido? Não há lugar na Terra onde o filho de Maria possa, sem magoar os pés, voltar. A paz que nos legou está morta, envenenada que foi pela maldade e hipocrisia humanas. E se, por ventura, isso acontecesse, ninguém O tomaria a sério, quando proferisse: Eu sou Jesus de Nazareth! O riso e o sarcasmo causticante da turba, abafariam sua voz. Pior aconteceria se, como outrora, dissesse a seus discípulos “Que o coração entre eles era um só, e a alma uma só. Que nenhum deles falasse que o que possuía era seu, mas de todos. Que tudo fosse em comum. Que os bens fossem vendidos e repartidos com todos, conforme a necessidade de cada um." Seria taxado de comunista, subversivo, curandeiro, seria preso, torturado e talvez aparecesse “suicidado”, como Herzog. Por todas essas razoes, é que não cremos em Sua volta, em pessoa! Quando os governos de todas as nações não mais ensinarem seus filhos a matar seus irmãos, quando as armas de extermínio do próximo, forem transformadas em cultura da terra e do intelecto, em pesquisas científicas contra as enfermidades que nos assolam, quando os orçamentos para as guerras forem aplicados na cura do câncer e outras moléstias degenerativas, quando um sentimento, realmente, fraterno envolver todos os homens e a hipocrisia for desmascarada em todas as religiões, inclusive na que esposamos, poderemos proclamar: Aleluia, Aleluia! Jesus Voltou!
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