MONSENHOR JOSÉ SOARES MACHADO

 LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.






A literatura de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentos artigos sobre história, ciências, humor, crônicas locais, crítica, política e religião, que publicou como cronista do Jornal “O Cachoeirense”. Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, o nosso agradecimento pelo acesso aos originais.



Jornal “O Cachoeirense” Ano II, Ed.Nº. 64, 07 a 13 de agosto de 1978.

MONSENHOR JOSÉ SOARES MACHADO
NELSON LORENA


Por várias vezes havemos dito que o homem é o que é; sua memória se eterniza pelo que foi. Sempre, no sacrário de nossas recordações nos lembramos de Monsenhor Machado, não somente por aniversariarmos quase no mesmo dia, mas também pela tenacidade com que em seu jornal “A Voz” combatia em bom combate, a filosofia religiosa que esposamos. Dia 10 deste mês, falecia em nossa cidade esse apóstolo do catolicismo, pelo ano de 1939. Naquela ocasião escrevemos um artigo que, em sua memória, passamos a reproduzir.

UM HOMEM

Contam que certa vez, um cidadão romano mandara seu escravo às termas de Pompéia a fim de que viesse preveni-lo logo que seus freqüentadores ali chegassem. À porta das Termas, talvez deixada por algum garoto travesso, estava uma pedra a dificultar-lhe o acesso. Todos por ela passavam. Uns, desviando-se, outros passando por cima, outros ainda, nela tropeçando; ninguém se dava ao trabalho de removê-la do lugar. Por fim, um último indivíduo que ali chegara, tropeçando no obstáculo, como já fizeram tantos, abaixa-se, segura o tropeço e fortemente o arremessa para longe. O Escravo que a cena observara, volta apressadamente ao lar de seu senhor e lhe diz que, às Termas, chegara “um Homem”. Nós pensamos como esse escravo. O homem que compreende a razão de ser de sua existência e a consagra em benefício do próximo, em defesa de uma convicção sincera, de um ideal nobre, que se curva, enfim, para retirar a pedra de tropeço do caminho, é um Homem. Em Cachoeira, tropeçam-se em múltiplos problemas, verdadeiras pedras colocadas às portas, emperrando-lhe o crescimento. E o benemérito indivíduo das Termas de Pompéia, longe está de aparecer. Monsenhor Machado, dentro da missão que abraçou, foi para nós o cidadão das Termas, e seriamos insinceros para conosco mesmos se silenciássemos, ao invés disto proclamar. Nossas almas se curvam reverentes ante a memória do ilustre prelado. Sincero em suas convicções, rigoroso no cumprimento dos preceitos católicos, coerente com a Fé que abraçou e pregou, trabalhou ininterruptamente para a maior glória da Igreja Católica. Pela força de sua austeridade, pelo dinamismo de sua ação, fez pela sua religião tudo quanto pode, pode tudo quanto quis e quis tudo quanto um sacerdote deve querer. Divergíamos em matéria de Fé, mas isso jamais impediu que o achássemos grande, dentro do seu catolicismo. Defeitos os tinha, mas quem não os tem? Estes mesmos, mirraram-se à sombra da grandeza de suas obras. Aplainou o caminho de sua trajetória, despojando-se dos escolhos, varrendo-lhe as pedras de tropeço. Um Homem, sim. Um Homem na penumbra de nossa inatividade; “lucerna ardenti, in caliginoso loco” na expressão de Pedro, apóstolo. Com Monsenhor José Soares Machado, morreu um HOMEM!


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