UM POUCO DE HUMOR

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.






A literatura de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentos artigos sobre história, ciências, humor, crônicas locais, crítica, política e religião, que publicou como cronista do Jornal “O Cachoeirense”. Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, o nosso agradecimento pelo acesso aos originais.



Jornal “O Cachoeirense” Ano II, Ed.Nº. 68, 04 a 10 de setembro de 1978.

UM POUCO DE HUMOR
NELSON LORENA


O COMENDADOR PINDELA

É sempre bom quebramos a aridez de certos aspectos da vida, contando alguns casos de humor sadio; e por que não, se até o novo Papa com seu sorriso constante, o usa?! Vamos ao caso: Era em 1839. Domitilia de Castro Canto e Melo, a já célebre, Marquesa de Santos, abandonara a corte, indo para São Paulo, assim diz a crônica. Junto com ela ia a sua filha, com D.Pedro I, Maria Isabel Brasileira de Alcântara. As festas e saraus em seu palacete eram constantes; não faltavam ali, a alta roda e a nobreza. Assíduos freqüentadores eram Afonso Celso e Tobias de Aguiar, o filho, se não me foge à memória. Numa das festas, apresentou-se antecipadamente à hora marcada, o Comendador Francisco Pindela de Carvalho. O mordomo português, que ainda não o conhecia, formulou a clássica pergunta: “A quem debemos anunciaire?” “Diz à Senhora Marquesa que o Pindela acaba de chegar”. O mordomo retira-se, vai à Marquesa e lhe diz: “Senhora Marquesa, o Pin de Bossa Exçulência acaba de chegaire”.

A LUTA CONTRA O TRABALHO

Depois que “Deus” impôs ao homem o sofrimento e o trabalho como castigos pela transgressão de suas recomendações, começou a luta contra o trabalho. O sentimento de liberdade e independência imprimiu no homem seu caráter. “Deus” lhe deu a obrigação de cultivar o solo, lavrá-lo, mas não lhe deu ferramentas. Ademais, a ameaça que lhe pesava de morrer de morte, por haver comido a maçã, lhe atormentava; mas, felizmente para Adão, isso não aconteceu, pois viveu cento e trinta anos! Quando arranjou noras, estranhou-lhes os umbigos. Eva tinha a barriga lisa, sem a fissura umbilical. Mas, isso não vem ao caso. A luta contra as intempéries, contra as feras, contra os elementos da natureza, contra o solo que reclamava trato e cultivo, obrigou-o a inventar ferramentas e utensílios que tornassem menos rude e menos exaustiva a sua luta. Criou o machado de quartzo impuro ou sílex e outros instrumentos de pedra com os quais edificava suas cabanas e preparava o solo. E o progresso tomou um impulso extraordinário com a maior invenção de todos os tempos: a Roda. O homem, o progresso, a humanidade enfim, caminha sobre ela. E a luta contra o trabalho continua. Invenções e mais invenções, descobertas e mais descobertas, tornam o homem mais preguiçoso. O tear faz o trabalho de milhares de tecelões, assim como os britadores, as motoniveladoras, os veículos de transporte, as locomotivas e os aviões! D.Pedro levou quatro dias do Paço de São Cristóvão a Cachoeira, a cavalo. Hoje, faria o mesmo percurso, quarenta e oito vezes mais rápido, de automóvel. A máquina dominou o homem e o substituiu. Adoro o trabalho e o considero não um castigo, mas uma benção divina. Em quase todas as repartições, há os interessados em emprego e os desinteressados pelo serviço. Lembro-me que, quando funcionário do escritório da Central, mandamos avisar a um candidato a emprego, sua admissão aceita e que se apresentasse no escritório. Dia seguinte, surge o rapaz, todo eufórico, barulhento. O chefe, coitado, que Deus o tenha em bom lugar, transformara o escritório num claustro; ninguém conversava; somente nos era permitido quando passávamos um pelo outro dizer: “Lembre-se irmão, que temos de morrer um dia”. O rapaz do emprego, metendo a cabeça no guichê, em voz tonitroante quebra aquele silêncio, com o espanto do Chefe: “Então já chegou a ordem para eu trabalhar?” “Já.” “O Sr. se apresente ao Escalante, que lhe dirá o que tem a fazer”. “Graças a Deus, graças a Deus arranjei emprego!” mas, isso, com o botão no máximo do volume. E, mal transpõe a porta, volta novamente e “risum teneatis” exclama: “É verdade, ia-me esquecendo, quando é que eu entro de férias?” A despeito da luta contra o trabalho, o mundo continua a girar.

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