LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
Com sua característica fertilidade, Nelson Lorena escreveu, em forma de crônicas, sobre história, ciências, retratos do cotidiano, crítica, política e religião, entre outros temas. Do seu acervo literário produzido entre 1977 e 1990, a matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº. 106, de 04 a 10 de junho de 1979.
AS GLÂNDULAS E O COMPORTAMENTO DO HOMEM
NELSON LORENA
Quando adolescentes, assistimos no cinema um filme em que, no Coliseu de Vespasiano, em Roma, lutavam os gladiadores até à morte, para distração do César romano e divertimento do poviléu, que sempre pedia “pão e circo”. A certa altura do “divertimento”, havendo perdido sua rede de malhas, um dos gladiadores, já sem esperança de vencer o adversário, foge à luta, apavorado ante a iminência da morte, fatal que era, sob os apupos da multidão. Subitamente, para e enfrenta, mesmo em disputa desigual, o “inimigo”; parece se agigantar, aceita a luta e num golpe imprevisível, vence-o e mata-o aos olhos atônitos da plebe, ante o desfecho inesperado do duelo. Durante muitos anos, embora sempre pesquisando a razão das coisas, não conseguimos saber por que a fraqueza de um derrotado na vida, se transforma em fortaleza; por que as emoções fortes, o medo, como no caso citado, desperta estímulos que aumentam a capacidade física! Em Tampa, EUA, um jovem suspendeu, por meio de um “macaco”, seu automóvel, deitando-se sob ele para reparar o tanque de óleo; de repente, o “macaco” desliza e o carro abate sobre o rapaz que, aos gritos, desperta seus pais, que em seu socorro acodem. Enquanto o pai procura outro macaco para suspender o veículo, a mãe, não pensou; agarrou o pára-choque traseiro e ergueu um carro de 1700 quilos! O filho rolou por terra, saindo ileso do acidente. Disse ela após: “Eu só sabia que tinha de salvar meu filho”. Esta senhora pesava 39 quilos e, não estava bem de saúde. Em 1945, durante a guerra, um porta-aviões estava em manobras, quando alguém inadvertidamente deixou cair no tombadilho, uma granada armada, pronta a explodir; um marinheiro encontra-a, levanta-a, corre para a amurada e a atira ao mar, salvando sua vida e a da tripulação; no dia seguinte, os colegas trazem-lhe outra granada igual, com 100 quilos de peso, desarmada, e pedem-lhe para fazer o mesmo; o rapaz não conseguiu, nem mesmo, demovê-la do lugar. Para não alongarmos muito, vamos contar o que se passou nas oficinas da Central, onde trabalhávamos: no embarcadouro de gado ali existente, embarcavam um belo exemplar de reprodutor indiano, com aproximadamente vinte e cinco arrobas de peso, que saltando o gradil de trilhos, envereda pelo “triângulo” de manobras e entra, subitamente, nas oficinas. A bondade do Mestre Carvalho, permite que o Ary, atacado de artrite reumatóide, apoiado em uma muleta, pouco trabalhasse, pela sua dificuldade de locomoção. Ante o pânico que a visita inoportuna criou, era de se ver, como o Ary, abandonando a muleta, atirando-a dentro da vala de limpeza de máquinas, corria para qualquer canto de proteção. Dia seguinte, aparece novamente ao serviço, com a muleta e os mesmos males artríticos, sob o riso, galhofas e comentários dos colegas! Inspiramos nossa crônica no “Um caso de Fantasma” da Ruth Guimarães, para demonstrar como que “a necessidade põe a lebre no caminho”. Certa vez, escrevemos sobre os efeitos negativos das emoções, em nossa saúde. Elas parecem, também, exercer ação positiva, à vista dos casos expostos. A hipótese científica é a de que a pessoa, presa de amor, medo, ódio, ou de alguma emoção primitiva, que parece estar fazendo algo tão importante ao ponto de outros pensamentos serem varridos de sua mente, pode operar o milagre físico, considerando que esse estado mental, estimula as glândulas de secreção interna a produzirem maior quantidade de hormônios, num excesso, que ativa músculos, nervos e o desdobramento de energia. Pessoalmente consideramos essa hipótese, uma verdade científica, pois já a experimentamos certa vez. O cientista, sabe o que pensa; mas nós, os leigos, pensamos que sabemos e, às vezes, achamos que também a nossa mente (espírito ou alma) abalada pelas emoções, transmite à hipófise, às glândulas do estômago, às suprarrenais, ao timo, aos glóbulos brancos do sangue, esse estado depressivo anímico, diminuindo sua capacidade produtiva de hormônios, com conseqüências negativas em nossa saúde. São evidentes os efeitos físicos e psicológicos refletidos em nossa fisionomia, ante a perda do ente amado, do amigo que partiu, do filhinho que nos deixou. Ao contrário, a alegria se transborda manifestada em nossos semblantes, ao lado do ente que amamos, do amigo que de longe veio, após muitos anos de ausência, do filhinho que nasceu. Cabe pois, agora, à Ciência dos homens descobrir uma substância capaz de ativar normalmente a capacidade secretora de nossas glândulas endócrinas para que, fisicamente, nos pareçamos mais fortes. Sim, fisicamente, dizemos, por que, psiquicamente, será o homem por muito tempo ainda, o mesmo animal predatório, imune aos preceitos morais, trazendo exteriormente, no peito, a cruz do Crucificado e internamente, no coração, a hipocrisia na qual o mundo ainda se apraz.
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Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do Jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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