O “OVIRUDÚ PIRANGA”

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.






Com sua característica fertilidade, Nelson Lorena escreveu, em forma de crônicas, sobre história, ciências, retratos do cotidiano, crítica, política e religião, entre outros temas. Do seu acervo literário produzido entre 1977 e 1990, a matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº.105 , de 28 de abril a 03 de maio de 1979.



   O “OVIRUDÚ PIRANGA”


NELSON LORENA 


Em minha vida funcional, conheci em Barra do Piraí um engenheiro, que me pediu para projetar uma planta de uma casa, de um pavimento, em seu terreno em Paulo de Frontin, sob a alegação de que não sabia projetá-la, o que se confirmou pelo rascunho infantil e primário que me deu. Também, conheci um médico aqui em Cachoeira, que me convidou, eufórico, para ver o microscópio que adquirira, entusiasmado com seu manuseio, pois, durante seus estudos, jamais conseguiu por os olhos numa ocular microscópica, apesar da microbiologia no currículo; já poderia, pois, estabelecer “de visu” a diferença entre o necator americano e o bacilo paratífico. Temos conhecimento de professores, que não resolvem a equação mais simples; que olhando a lua no telescópio, estranharam não ver o São Jorge montado no cavalo!
Daí, não ser de admirar, o que se conta por aí, sobre uma visita que o governador de Minas Gerais, Benedito Valadares fizera a uma escolinha rural. Recebido com as honrarias devidas, ao fim da visita, pediu à professora, talvez leiga, talvez não, que mandasse as crianças cantar qualquer coisa. A professora, encabulada, desculpou-se alegando que os alunos nada cantavam. “Mas, não sabem cantar nada, nada mesmo?”, disse o governador. E a professora: “Eles somente cantam um tal de “ouvirudú”.” “Pois que cantem esse “ouvirudú”.”, pediu o visitante. Dado o sinal, os alunos entoaram: “Ouvirudú piranga as margens plácidas”...era o hino nacional, que a professora não conhecia!!!
Se verdade, não é para rir, e sim lamentar. Por este Brasil afora, ninguém sabe cantar o hino nacional. Assistimos uma audição por .término de curso ginasial, em que o hino pátrio foi cantado eivado por erros melódicos, pelo corpo docente, alunos e povo. Os vícios de audição incidiram-se, somente na primeira estrofe, sobre os 2º, 4º,6º,7º,8º,10º,16º,20º,22º,26º,36º,37º, e 38º compassos!
Se, em cinqüenta anos, não conseguiram aprender a melodia, radicalizando os vícios e, se em Lógica rudimentar, o senso comum é critério de verdade, modifique-se a melodia aceitando-se os erros incorrigíveis e, pois, o que é deplorável, seja o nosso país o único em que não seja seu hino cantado corretamente. Agora, nós, filhos do Estado mais “culto” da Federação, temos o direito de sorrir ante o “ouvirudú piranga” da professorinha mineira?
E, diante de tudo isso, a evidente e triste conclusão: a precariedade do nosso Ensino.

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Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário Jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.



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