A BATALHA DE NANCY


A BATALHA DE NANCY




A Batalha de Nancy, comandada pelo duque René II de Lorena, encerrou o ciclo de conflitos denominado, Guerras da Borgonha e que culminou com a morte de Carlos, o Temerário duque de Borgonha. O principal beneficiário desta batalha foi o rei Luís XI, que tomou posse de parte dos estados da Borgonha e avançou na consolidação da França como um estado unificado. Permitiu também, ao ducado de Lorena afirmar-se e permanecer como um Estado independente.
Os exércitos burgúndios foram derrotados em Grandson, aos 2 de março de 1476 e em Morat, aos 22 de junho de 1476. A sorte de Carlos, o Temerário declinou abruptamente, ele havia perdido seus bens, suas provisões de víveres, seu exército e seu comboio de artilharia, este último, pela segunda vez em Morat, e, agora as suas finanças, sempre distendidas, também fracassavam. Os mercenários não pagos, se amotinaram e desertaram em massa e, uma por uma, as cidades ocupadas na Lorena eram retomadas pelas guarnições de René II duque de Lorena. A guarnição dos burgúndios em Nancy, rendeu-se aos lorenas em 6 de outubro de 1476 e, essa perda, Carlos dificilmente conseguiria suportar.
Tendo ele conseguido reunir um pequeno exército, de 12.000 a 13.000 homens, se dirigiu, com a habitual imprudência, contra Nancy, apesar do frio e da neve de um inverno excepcionalmente rigoroso. A Confederação Suíça recusou envolver-se diretamente, mas permitiu ao seu aliado de outras vezes, René II, recrutar mercenários, dentro dos cantões suíços. Ele consegue, financiado por Luis XI, rei da França, levantar um exército de mais de 26.000 homens, com um esquadrão de 5.000 cavaleiros, tropas dos ducados da Alsácia e da Lorena e 10.000 suíços.
Carlos fez uma primeira movimentação, afastando-se do cerco a Nancy, de forma a se posicionar contra as tropas de René II. Ele montou um bloqueio, com esquadrões de lanceiros, em um vale estreito, apoiado por poucas dezenas de canhões fixos que ainda mantinha e colocou a cavalaria em ambos os flancos, ladeando a infantaria e os canhões. Os suíços enviaram um grande pelotão Forlorn Hope¹ adiante, como um chamariz, disfarçando o movimento de seus principais esquadrões, a vanguarda (Vorhut) e o centro (Gewalthut). Uma pequena retaguarda (Nachhut), com apenas 800 homens armados, principalmente, com arcabuzes, seguiu por trás do pelotão Forlorn Hope, pronta para servir como reforço para qualquer dos esquadrões principais, que contornaram furtivamente o bosque de Jarville e avançaram através da floresta de Saurupt, sobre a encosta coberta de neve. No meio da tarde, o esquadrão central (Gewalthut) estava posicionado bem acima do flanco direito da Borgonha. Apoiados pela cavalaria lorena, os suíços formaram uma cunha de lanceiros e arcabuzeiros e desceram agilmente o declive pelo flanco direito sobre a retaguarda dos burgúndios.
Os canhões de Carlos, fixos, não puderam ser remanejados para quebrar o ataque, que colidiu com os esquadrões da Borgonha em um grande choque de tiros, empalamentos, lancetadas e jatos de sangue. A vanguarda (Vorhut) invadiu a artilharia de Carlos e dispersou sua cavalaria no flanco esquerdo. A infantaria da Borgonha estava agora exposta e em grande desvantagem numérica. Seus homens quebraram a formação e fugiram, deixando os companheiros serem abatidos sob um ataque impiedoso e sem cobertura.
Na retaguarda, os homens que fugiam haviam sido detidos por um grupo de aliados, menos nobres, de Carlos, que viraram a casaca e entregaram antigos campanheiros-de-armas para a selvageria suíça, em uma barganha traiçoeira, de suas vidas pelas deles. Carlos também tentou fugir, mas foi pinçado e derrubado de seu cavalo por um alabardeiro suíço e agredido no chão, até a morte.

Forlorn Hope¹, eram alas de um esquadrão suíço, geralmente, compostas de besteiros e arcabuzeiros, sem a cobertura de proteção dos lanceiros no centro da formação. Em Nancy (1477) um numeroso Forlorn Hope foi utilizado como isca e ludibriou os burgúndios em suas posições defensivas, colocando-os vulneráveis para o ataque da vanguarda (Vorhut) pelo flanco.


***



Carlos, o Temerário encontrou a morte diante das muralhas de Nancy, em 5 de janeiro de 1477. As convenções de guerra, que ele mesmo havia violado com o enforcamento de Suffren Baschi, o Maitre d’Hôtel, determinavam que uma pessoa importante não seria morta, mas capturada e resgatada. Por ironia do destino, um alabardeiro suiço, surdo, incapaz de ouvi-lo gritando "Salve a Borgonha", encerrou os dias do Temerário. Seu corpo foi encontrado alguns dias depois preso no gelo da Lagoa São João, perto da Comendadoria, meio comido por lobos e foi exibido e velado em uma casa na Rua Grande, cuja localização é indicada desde o século XIX pela data "1477" inscrita no pavimento. Seus soldados repousam ao redor da Igreja Notre Dame de Bonsecours, conhecida como "Capela dos Burgúndios”, construída por René II no local da batalha. A morte de Carlos, o Temerário, encerrou o antigo sonho burgúndio medieval de reconstituir na Borgonha o Reino da Lotaríngia, um Estado forte que serviria como um tampão entre a França e o Sacro Império Romano. Os territórios de Carlos o Temerário, foram partilhados entre a França e o Sacro Império Romano e o ducado da Lorena afirmou-se como um estado independente a partir de 1477. Depois da Batalha de Nancy, a Lorena tornou-se uma potência militar considerada, foi organizada administrativamente, estabeleceu as suas leis e costumes, por escrito, e René II reconstruiu magnificamente o centro simbólico do seu poder, o Palácio Ducal de Nancy.




“Renatus a civibus intra Nanceium exceptus. Ea illi reddita a Burgundis.”
René II ataca a cidade de Nancy. Os burgúndios a restituem em 7 de outubro de 1476. Gravura sobre madeira, uma das ilustrações originais de La Nancéide (Líber Nanceidos).

LA NANCÉIDE (LIBER NANCEIDOS) POR PIERRE BLARRU

O poema Liber Nanceidos de Pierre de Blarru, composto de mais de 5.000 versos em latim, peça maior da literatura Lorena, foi publicado em 1518 em Saint-Nicolas-de-Port, pelas impressoras de Pierre Jacobi.
Legado ao esquecimento, Ferdinando Schutz deu-lhe uma segunda vida com uma tradução francesa, acrescida da apresentação do sistema de pontuação e abreviaturas, adotado na Idade Média, de uma análise filosófica, de poesias, documentos históricos e diversas gravuras. No longo poema em prosa, Pierre Blarru, cônego de Saint Die e conselheiro do duque René II de Lorena, narra sob a forma de uma epopéia, a famosa batalha na qual Carlos, o Temerário foi morto. Seu objetivo é imortalizar este grande feito militar, que custou a vida de tantos homens: "A terra bebeu o sangue e engoliu os cadáveres. Muitos soldados estão mortos. (...) Quem estará lá para louvar a coragem dos lorenas? Quem dirá do perdão de René II, oferecendo um funeral de príncipe, ao Temerário morto na batalha? (...) Tudo nessa história, revela a mais bela epopéia. É David abatendo Golias às margens do Meurthe.”
A tradução remete com saborosa fidelidade ao clima deste episódio glorioso da história da Lorena, ao mesmo tempo em que exalta o espírito da cavalaria e a tristeza que pode advir do seu esquecimento. Fernando Schutz, anexou algumas litografias feitas a partir de seus próprios desenhos, criando um contraste impressionante com a sobriedade do antigo charme, fora de moda, mas muito ao estilo das xilogravuras originais, que acompanham a primeira edição de Pierre Blarru. Dedicada ao General Drouot, traça um paralelo surpreendente entre esta figura militar emblemática, originária da Lorena, e a bravura do duque René II, na Batalha de Nancy, vencida contra Carlos, o Temerário em 1477.

***

Carlos o Temerário contava com 44 anos de idade quando enfrentou o duque de Lorena René II, com apenas 23 anos, a quem considerava uma criança, em três batalhas famosas e, foi vencido em todas elas. Em Grandson, perdeu seus bens e suas armas, em Morat, perdeu o seu exército e em Nancy ele perdeu a vida.




CASTELO DE GRANDSON

Na batalha de Grandson, em 2 de março de 1476, aconteceu a primeira derrota de Carlos o Temerário, para René II, aliado da Confederação Suiça. Ele teve que fugir para salvar a própria vida, perdendo seu acampamento com um rico espólio de bens e víveres, além do poderoso comboio de artilharia com 400 canhões.




A BATALHA DE MORAT

Em 22 de junho de 1476, Carlos Duque de Borgonha sitiou a cidade de Morat, às margens do lago. Foi vencido pelos confederados suiços com o apoio da cavalaria da Lorena e da Alsácia, perdendo cerca de 10.000 soldados e novamente sua artilharia. Esta ilustração mostra os líderes dos reforços da Alsácia e da Lorena. Da esquerda para direita: Conde Oswald von Thierstein da Alsácia, Duque René II de Lorena, e Conde Ludwig von Oettingen.





Canhão Falcon burgúndio, do final do século XV.

Utilizados por Carlos, o Temerário, os canhões sobre rodas, com cano longo e mira regulável, estabeleceram novos padrões de desempenho e precisão para a artilharia.


“The Burgundians shot from behind their palisades with large heavy cannon. They had a deadly effect against the Confederates in their formation ... I saw a few horsemen who were shot in two - their upper body was blown away and their legs remained in the saddle.” PETER ETTERLIN, SIEGE OF MORAT


“Os burgúndios atiraram por detrás das paliçadas com canhões grandes e pesados. Eles tiveram um efeito mortífero contra as formações dos Confederados... Vi alguns cavaleiros partidos em dois - sua parte superior atirada ao longe, enquanto suas pernas permaneciam sobre a sela.” PETER ETTERLIN, O CERCO DE MORAT





O Rei da França, Luis XI, apoiou financeiramente
René II, contra Carlos, o Temerário.





Carlos, o Temerário, por Peter Paul Rubens,1618.
Galeria Imperial de Viena




O jovem duque de Lorena René II.
Libertou a Lorena invadida pelos burgúndios e concedeu a
Carlos, o Temerário um funeral com honras de príncipe.




Mapa da batalha de Nancy




Alabardeiro Suiço na Batalha de Nancy,1477



Alabardas suiças do final do século XV, armas em uso pelos
confederados suiços à época dos conflitos com a Borgonha. 




A morte de Carlos, o Temerário na batalha de Nancy
por Eugene Delacroix,1831.



O corpo de Carlos, o Temerário, encontrado e reconhecido por
seus servos dois dias após a batalha de Nancy.



Carlos, o Temerário encontrado depois da batalha de Nancy.
por Auguste Feyen-Perrin (1826-1888), tela de 1865, Museu de Belas Artes de Nancy



Morte de Carlos o Temerário, 1477.
Transparency, collodion on glass

Briggs Co American (active 1868-1930)
Beale, Joseph Boggs - American (1841-1920)
3 1/4 X 4 IN. Gift of the 3M Company







Nesta casa foi exibido e velado o corpo de Carlos, o Temerário,
morto na batalha de Nancy em 05 de Janeiro de 1477.



Pavimento da Rua Grande com a inscrição “1477”, em frente
a casa onde foi velado o corpo de Carlos, o Temerário.




 Carlos, o Temerário, velado e reverenciado por René II - Vitral




Tumba de Carlos, o Temerário
na Igreja de Nossa Senhora, em Bruges
Fotografia de Dan Fellows Platt

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