LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
Com sua característica fertilidade, Nelson Lorena escreveu, em forma de crônicas, sobre história, ciências, retratos do cotidiano, crítica, política e religião, entre outros temas. Do seu acervo literário produzido entre 1977 e 1990, a matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº.109, de 25 de junho a 01 de julho de 1979.
COLCHA DE RETALHOS
NELSON LORENA
Nossa imprensa nos dá a notícia de que a Prefeitura tomou providências no sentido de melhorar a fisionomia da cidade, com o fechamento dos terrenos em abertos e construção de calçadas. Muito certo, concordamos. Achamos somente que a medida não veio no momento oportuno, pois a cidade está assoberbada com os impostos e, sem um prazo para desafogo, receber uma intimação para muitos é impossível de ser cumprida. Sugeríamos, não como crítica mas como cooperação, que melhorássemos, primeiramente, aquilo que mais profundamente impressiona o forasteiro, que mais contundente crítica sofre da população: as entradas da cidade, muito particularmente os trechos das ruas São Sebastião e Edgard Ferraz, a Avenida Sarah Kubitschek, onde um São Cristóvão cortado ao meio atesta a indiferença à fé, de quantos a possuem e, a Praça Prado Filho, onde outrora havia um jardim que causava inveja às outras cidades e o respeito à memória dos que tombaram pela Lei, exige uma recuperação. Nisto, teríamos a fisionomia desejada, a feição, o rosto de nossa cidade, que se sente triste ante os problemas que a sufocam, agravados com os crimes, roubos e enfermidades. Ah! Falar em enfermidade, lembrou-me de que meu objetivo era justamente este e, não sei por que, me meti em seara alheia. Nosso prezado amigo Casemiro, filho do Zico Pinto e de D.Andradina, foi internado no hospital com moléstia grave, enchendo-nos de preocupações; graças a Deus, está convalescente. Lembrei-me que o seu pai, maçom da Loja Bom Jesus, era amicíssimo de meu Pai, que era o venerável da maçonaria. Zico andava mal de saúde. Minha mãe, era amiga de D.Andradina e do Zico e estava entristecida, pois, o Zico andava tomando injeção de óleo canforado; naquele tempo quando o doente tomava óleo canforado, diziam, está com o pé na cova. Mas o Zico arribou e conseguiu ir a cidade e comprou um bilhete de loteria. Meu pai, o maestro Lorena, saiu à rua e soube do grato acontecimento. Radiante de alegria intimamente mas, preocupado pois que seu amigo precisava de saúde e não do dinheiro que não iria deter a marcha da moléstia, chega em casa, tira o chapéu, limpa o suor da testa, senta no sofá e fica a meditar sobre uma sorte que veio em hora ingrata. Papai falava pausadamente, em reticências, mormente quando era pra transmitir uma noticia, alvissareira ou não. “Imagina Dudu (minha mãe era assim tratada no lar) o coitado do Zico...sofreu tanto...mas como o destino é impenetrável...e agora...” mamãe aflita pelo desfecho, precipita-se e pergunta angustiada: ”Morreu, Lorena?” “Não mulher...tirou a sorte grande!”
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Por falar em loteria, é oportuno lembrar de um caso passado entre operários das oficinas da Central, aqui em Cachoeira. Véspera do Natal de 1922, mais ou menos. Seu Lara, encabeça um rateio entre os companheiros para adquirirem um bilhete de natal. André Diogo, Simeão, Mário Pacheco, Lara e outros, compram o bilhete. Na reunião da Loja Maçônica, em conversa com papai, contou que havia feito um rateio e comprado o bilhete de Natal. Papai, telegrafista, combinou com o Lara, forjar um telegrama comunicando o bilhete premiado. Lembraram que o seu Diogo havia ido ao Rio e resolveram que o telegrama viesse assinado pelo seu Diogo. O resultado somente chegaria à tarde pelo RP-1, nos jornais. Simeão estava reparando o areieiro da locomotiva 129, em cima do estrado. Lara chega eufórico e diz ao Simeão, leia este telegrama: “bilhete nº. tal, premiado. Ass. André Diogo”. Simeão que era amarelo, mais amarelo ficou, largou o serviço, juntou as ferramentas, entregou ao ajudante, jogou uma perna para cima, após outra, atirando os tamancos para longe, que um quase pegou a cabeça do Zildo Brandão; saiu às pressas do estrado, por pouco que não cai em baixo e saiu gritando; “Eu não preciso mais desta m... nunca mais vou lamber graxa... vou-me embora. Abandonou o serviço e mestre Borrego lhe deu três dias de suspensão. Conclusão da brincadeira do papai e do Lara: bilhete em branco e a volta ao serviço do precipitado Simeão...
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Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do Jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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A ARTE DE NELSON LORENA
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