LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
Com sua característica fertilidade, Nelson Lorena escreveu, em forma de crônicas, sobre história, ciências, retratos do cotidiano, crítica, política e religião, entre outros temas. Do seu acervo literário produzido entre 1977 e 1990, a matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº. 102, de 07 a 13 de maio de 1979.
CARLOS DA SILVA LACAZ
Um grande médico
Um grande médico
NELSON LORENA
Estávamos em Guaratinguetá, em 1918. A cidade, como também nossa Cachoeira, tinha um aspecto sombrio e triste, assim como, triste e sombria era a feição de um povo assolado pelo surto angustiante da gripe espanhola que, como um Molock insaciável, devorava suas vítimas. Foi num desses dias que, ao passar pela porta da casa de meu professor de matemática, o vi tendo ao colo um garotinho de 3 a 4 anos, russinho como o pai. Bom, até aí, nada de importante, pela banalidade do fato, comum em si. Mas, acontece que o subconsciente registra detalhes que, considerados, às vezes, de pouca importância, tem seu valor modificado com o tempo. Passados que vão, sessenta anos, acontece uma coisa caprichosa do destino. Venho agora a conhecer o garoto de outrora, que meu amigo se torna, investido no conceito de que muito justamente desfruta, como um dos maiores médicos da atualidade. Médico no sentido lato da palavra. Cientista e humanitário; abnegação, renúncia e desprendimento, são as virtudes que possui e que se escasseiam atualmente na profissão que exerce. Carlos da Silva Lacaz enriquece seu saber, para distribuí-lo cristãmente. É luz nas trevas do mercantilismo que ensombra as veredas da medicina atual, outrora tão luminosas, puras e humanitárias. Não vê no doente, um objeto de pesquisa e lucro, mas um irmão, em prova, a razão de ser da medicina, sem o qual a ciência médica não existiria. A vida de ambos se interdepende. Sua divisa é “humanizar a medicina”. É incrível sua capacidade de trabalho. Temos em mãos o discurso proferido pelo Dr.Edmundo Vasconcelos, na posse de Carlos da Silva Lacaz como Membro Titular da Academia de Medicina no Rio de Janeiro, onde seu currículo nos confunde pela sua magnitude. Fez 438 cursos e conferências; recebeu 16 prêmios, entre eles o Niobey e Juriskouvsky; é Membro de 27 Sociedades Científicas, nacionais e estrangeiras; possui 40 títulos de Associações Científicas e Universitárias; publicou até 1977, 891 artigos de orientação científica, médica e social; é Diretor do Departamento de Enfermagem da Santa Casa de S.Paulo. Evolui sua cultura, purifica sua alma na pugna pela “reaparição do médico como amparo ao doente na sua angústia, pela assistência consoladora da aproximação de almas, através do diálogo nas aflições”, e se firma como líder do movimento em curso da humanização da medicina. Outra faceta de sua polimorfa atividade é seu espírito de criatividade. Diretor da Faculdade de Medicina, criou 17 cargos de professores Titulados, criou o Instituto de Medicina Tropical, obra essa de “imensurável valor como Centro Tecnológico e de Investigação, na formação de tropicalistas que tem servido ao Brasil e aos paises sul-americanos”. Criou os Laboratórios de Investigação, ligados às Clínicas Médicas e Cirúrgicas. Criou o Museu Histórico da Faculdade, perpetuando a tradição e o culto aos grandes vultos da Faculdade. Escreveu quatro volumes dedicados à vida dos grandes mestres brasileiros. Foi diretor do Hospital das Clínicas, do Instituto de Medicina Tropical e exerceu o cargo de Secretário da Higiene da Prefeitura de São Paulo. Eis, em síntese, a imagem de um gigante da Arte de curar; alia ao Saber, o amor ao doente. Confessa que há um desvirtuamento dos ensinos hipocráticos. Que a profissão esta desumanizada, convertendo os médicos em simples mercadores, que acumulam fortuna com a dor humana. “Senhor! Dá bondade ao coração dos médicos, para que eles possam cumprir sua santa missão ao bem da humanidade sofredora”. Eis a Prece desse Médico bom; desse Bom médico. Que Carlos da Silva Lacaz, continue sua jornada como fiel discípulo de Hipócrates na Arte de Curar e, como apóstolo do Cristo, no amor ao próximo.
Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do Jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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