LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
Com sua característica fertilidade, Nelson Lorena escreveu em forma de crônicas, sobre história, ciências, retratos do cotidiano, crítica, política e religião, entre outros temas. A matéria de hoje integra o acervo literário produzido entre 1977 e 1990 e foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº. 96, de 26 de março a 01 de abril de 1979.
CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO MONUMENTO DA PRAÇA
NELSON LORENA
Alguns rapazes desta cidade, segundo os jornais da época, tiveram a idéia, em 1933, da ereção de um monumento ao Soldado Constitucionalista. Esboçaram uma subscrição e, mais tarde, considerando o elevado custo da obra, orçada em mais ou menos trinta contos de reis, a abandonaram. Em 1935, o Prefeito Prado Filho fez voltar à tona a idéia. Nomeou comissões, delineou programas, aliciou representantes de classes, dando início aos trabalhos. Dois projetos foram feitos. Um de meu cunhado Raimundo Saraiva Leão e outro meu. Talvez que a velha amizade de Prado Filho com meu pai, houvesse influído na escolha de meu projeto, pois, o de meu cunhado era muito sugestivo. Ficou deliberado que eu o fizesse. Elevado seria o custo do monumento, propus nada cobrar pelo meu trabalho e assim o fiz, trabalhando durante catorze meses, sem prejuízo de minhas funções como ferroviário, desde julho de 1935 a setembro de 1936. O caso tomou feição política e as objeções contra Zequinha Prado eram estimuladas pelos meus desafetos, havendo mesmo um deles me dito que “este monumento somente sairá, quando o partido Republicano Paulista o fizer”. Era arrojada a minha empreitada, considerando que nunca fui modelador, escultor e fundidor. Mas, costumo realizar alguma coisa, embora problemática, quando meu amor próprio é diminuído. Estimulado por um despeito político, pus mãos à obra. Na justificativa dos detalhes do monumento, expliquei à Comissão que, todos eles representavam o ideal constitucionalista, desde os primórdios até o holocausto final. Assim, os degraus da escada de acesso, eram o Ideal que tomava forma, as colunas laterais, o entusiasmo empolgando a massa estudantil e o povo; os segmentos laterais, circulares, eram as primeiras vítimas, encimados pelos M.M.D.C. O grosso do monumento era a luta deflagrada, culminando com a morte do Soldado Constitucionalista, empunhando a espada da Justiça e da Lei. Na frente, o brasão do Estado Líder. Atrás, o medalhão “Em memória dos que tombaram pela Lei!” O pensamento do autor foi desvirtuado com as mutilações que o monumento vem sofrendo. Os degraus soterrados, os segmentos circulares destruídos, arrancada a estrela do brasão. Ora, todos os monumentos constituem uma síntese de um fato histórico, perpetuando em seus detalhes a história da Pátria. Todo povo culto os estimam e veneram. Sugeri e volto a sugerir que se isolem os alicerces, circundando o monumento, de maneira graciosa, com uma pequena fonte luminosa, pois, muita gente considera de mau gosto as plantas agressivas que o envolvem. Isso feito, seria evitado o acesso depredatório, com melhoria de sua perspectiva. As administrações se sucedem e, com elas, as deformações injustificáveis que alteram o espírito da homenagem, conspurcando a memória daqueles que deram suas vidas pela constitucionalização do país e, talvez mesmo, pelo restabelecimento da democracia que algum dia, também virá.
Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do Jornal “O Cachoeirense”, nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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