O CICLO DA VIDA

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.






Com sua característica fertilidade, Nelson Lorena escreveu em forma de crônicas, sobre história, ciências, retratos do cotidiano, crítica, política e religião, entre outros temas. A matéria de hoje integra seu acervo literário produzido entre 1977 e 1990 e foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº. 99, de 16 a 22 de abril de 1979.


O CICLO DA VIDA
NELSON LORENA

Há palavras, que possam traduzir com fidelidade a graça, a alegria, o entusiasmo que os jovens sentem quando, num bom namoro fazem a grande descoberta de um amor correspondido? Há palavras que possam dizer do deslumbramento de nossos sentidos, ante a visão de um crepúsculo, dourando o cenário de um mundo em cuja ribalta os homens se exterminam? Na contemplação da abóbada celeste, onde milhões de sóis contam a história de Deus, nossa mente se confunde e a palavra se cala. Mesmo para o homem rico de cultura, sua palavra, transmitirá de maneira desfigurada, pálida em realismo, as imagens que somente o espírito sente ou percebe. Quando filosofamos sobre os problemas da Vida ou da Morte e suas razões, sentimos que nossos espíritos penetram na essência das coisas procuradas, mas, a transmissão pela palavra diminui, embaciada a magnitude da impressão. Assim pois, com a palavra que me é permitida, direi que no Universo, tudo obedece a um plano que se desenvolve numa espiral quase imperceptível, mas, continua ascendendo sempre para uma sublimação fatal. Nascer, viver, morrer, renascer tal é a lei cíclica da eternidade dos mundos e das coisas que neles existem. Pela semente, a árvore nasce, cresce, vive e morre renascendo ainda pela semente em perpétua renovação. As águas dos rios, nascem, dão-lhes curso, evaporam-se, transformam-se em chuvas, e retornando às fontes, eternizam a vida. E o ciclo renovador continua, quando na pequena e grande circulação, o sangue venoso se transforma em arterial e em mutações cíclicas mantém a vida e o calor humanos. A temperatura normal da atmosfera terrestre se deve ao fato de que aquecida em baixos níveis, se eleva, sendo seu deslocamento ocupado pelo ar frio dos altos níveis, que se aquecendo por sua vez em baixos níveis se eleva, mantendo assim o ciclo necessário à energia atmosférica. O universo é, segundo a ciência, curvo como toda a obra divina. Em curvas e em espirais, desde os tempos primitivos, vem a humanidade dilatando os seus conhecimentos, corrigindo erros, ganhando experiências na ascensão imperativa da Evolução. Materializando nosso ponto de vista, consideramos o nascimento e a morte separados por um eixo, sobre o qual a roda da existência, à guisa de uma mola de relógio espiralada, se dilata e se alonga. Metade mergulhada na parte sombria onde a morte nos situa; e a outra, na parte onde o sorriso festivo de uma mãe, anuncia um novo ser que nasceu. Este cresce, vive, adquire novos conhecimentos, luta, sofre, burila seu espírito nas vicissitudes da Vida, envelhece, morre, mergulhando-se na curva descendente no “País das Sombras”, para então, tempos após, arrastado na voluta sempre dilatada da espiral, romper a divisa das “Sombras” e penetrar na vida carnal, com uma bagagem maior e melhor de conceitos sobre sua razão de ser. Sobre a égide do Pensamento, da Vontade e da Ação, a Evolução se impõe como determinante divina. Adotei como norma de minhas atividades a divisa: “Eu penso, Eu quero, Eu faço.” Jamais fracassei, quando trabalhando só, fracassando, às vezes, quando dependendo de terceiros. Essa tríade filosófica também se situa na linha curva das obras do Supremo Arquiteto do Universo. O pensamento gera a Vontade e a Vontade, a Ação. Pensamento e Vontade são autônomos e independentes; deixam, no entanto, de ser quando aliados à Ação. Da Ação parte um movimento retrógrado que me leva, da Ação ao eu Quero e ao eu Penso, num movimento que vai e vem como o das águas das fontes, o da circulação sanguínea, da semente e tudo o mais. E, como numa simbiose, se interpenetram em constante movimento cíclico até a concretização do ideal colimado. Penosa, paciente e longa tem sido a marcha do homem da caverna, até o homem dos arranha-céus. Em busca da perfeição ou arrastado a ela, firma postulados certos uns, errados outros, mas sempre respeitados os ditames nobres da intenção. E, na exaltação de Deus e da Sua Justiça, firma-se como dogma irrefutável o postulado kardeciano: Nascer, Viver, Morrer, tornar a Nascer, tal é a Lei.

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Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do Jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.

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