A DIFÍCIL ARTE DE GOVERNAR

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.






A literatura de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentos artigos sobre história, ciências, humor, crônicas locais, crítica, política e religião,  escritos  entre 1978 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal "O Cachoeirense", Ano II, edição nº. 84, 25 a 31 de dezembro de 1978.



A DIFÍCIL ARTE DE GOVERNAR

NELSON LORENA

Em toda minha vida de funcionário publico, esquivei-me a uma posição de mando. Mesmo em posição hierarquicamente mais elevada que meus colegas, preferi sempre a condição de subordinado. Jamais dei uma ordem a um contínuo ou impus deveres a um servente, que sempre me atenderam ao favor solicitado. Considero, tremenda, a responsabilidade de mandar, governar, atribuições que possuem ligação muito íntima com a Moral e bondade de coração, virtudes escassas no homem de hoje, nas quais tem seu fundamento todo princípio de autoridade. Talvez que minha idiossincrasia por uma posição de mando tenha sua razão de ser, na posse precária dessas virtudes. Os governantes, por mais honoráveis, por mais respeitáveis, por mais honestos que sejam considerados, deixam geralmente por onde passam as manchas de seus escorregões. Nas Revoluções, como na Política, é maior o número daqueles que delas se aproveitam, que mesmo o daqueles que as fazem. Os amigos, os parentes, são de ordinário, os mais beneficiados; para estes, as atenções dão prioritárias; secundárias para a coletividade. As críticas, a repulsa gerada do prejuízo coletivo, fere menos os administradores, que a animosidade, a inimizade dos amigos ou parentes prejudicados em suas pretensões. E nada nos magoa tanto, nada nos confrange tanto, como quando essa situação se cria. Daí então a razão de preferirem, os que governam, viver em paz no círculo limitado de suas amizade, ainda mesmo que para isso seja necessário menosprezar os interesses do povo. O dilema se cria, tornando ingrata a arte de governar. Tivemos um Imperador, a mais culta cabeça coroada de seu tempo. Sua honestidade, sua bondade, seu espírito de tolerância, sua magnanimidade, jamais foram postas à prova, evidentes que eram. Deixou, no entanto, de cumprir um tratado assinado com o governo inglês para a construção da Estrada de Ferro Rio Verde que deveria sair de Lavrinhas, mudando-o para Cruzeiro, e isso porque não desejava ver estremecida a amizade que lhe dedicava o fazendeiro e leal amigo, Major Novais. São fatos que enchem as páginas dos jornais, já como rotineiros. Nosso viaduto sobre a estrada de ferro, segundo dizem constitui, se verdade; um desses casos em que o sentido estético da cidade e o senso urbanístico, foram deturpados e preteridos por força de amizades pessoais, respeitáveis e dignas de serem conservadas. Ante a delicadeza do problema, tremem as mãos do timoneiro e o barco continua a deriva; mas os laços das afeições amigas não foram desatados. Somente fica, de início, o clamor público, como um eco, que gradativamente vai desaparecendo à medida que um bloco ciclópico de cimento e ferro desafia o tempo, perpetuando erros e imperfeições humanas.

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Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do Jornal "O Cachoeirense" , os nossos agradecimentos, pelo acesso aos originais.

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