LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
A literatura de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentos artigos sobre história, ciências, humor, crônicas locais, crítica, política e religião, escritos entre 1978 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº.89, 29 a 04 de fevereiro de 1979.
NOSSA SALA DE VISITAS
NELSON LORENA
Não sei qual o motivo que minha imaginação se prende mais ao passado, que ao futuro. Talvez porque o futuro incerto, abstrato, quase impenetrável, nos impõe conjunturas que nos levam a um desperdício de energias mentais e daí então ao “seja o que Deus quiser”. Já o passado, mesmo plasmando na mente a mescla de alegrias e desenganos, ilusões amenas e duras realidades, torna-se atraente sedutor e, quanto mais idosos vamos ficando, mais a ele nos prendemos, sem mesmo que lhe importem as constantes e rápidas transformações que sofre, por imposições dos hábitos e costumes que a civilização hodierna impõe. No retorno ao passado, lembro-me constantemente de meu extraordinário Pai, modesto telegrafista da Central, possuidor de forte personalidade, um novo “condottieri” a transpor a ponte de Arcole, empunhando a bandeira de seu ideal, à sombra da qual, excelentes e dedicados amigos (sim, naqueles tempos eles existiam) mantinham vivos, Maçonaria, Banda de Música, Futebol, Grêmio Dramático, o melhor carnaval do Vale, e, conservava prestigio tal, que políticos de São Paulo aportavam em sua modesta residência apelando para a sua influência, à cata de votos. Com uma família de quatorze pessoas, vivia modestamente. Quando das visitas ilustres, Mamãe era a que mais se encabulava. Recebia-as na sala de visitas. Antes, porém, desfazia-a de toda a “bagunça” que os menores faziam. Ataviava-a com o que possuía de melhor, dava-lhe um aspecto agradável que ressaltava entre a modéstia e o asseio, entre algumas jarras de flores, cafezinhos, mesuras e sorrisos. Parecia-nos que a impressão que levavam, não era das piores. Acho que todos nós, procedemos assim. Uma sala de visitas é para nós, assim como uma praça ajardinada o é para qualquer povo. Possuímos uma praça ajardinada, em que os poderes públicos, compreenderam sua importância na vida da cidade, dispensando-lhe todo carinho em sua manutenção, asseio, especial cuidado às arvores, flores caprichosamente livres das depredações dos mal educados, canteiros revestidos com o manto verde da grama sempre aparada, enfim, uma área de lazer que constitui um orgulho para o povo que a possui. Meu pai, nasceu nessa cidade, possui o seu nome e, por razões sentimentais considero Lorena, minha segunda terra natal. Detenho-me às vezes no Jardim do Conde e intimamente eu sinto que este jardim é nosso também. A ele me refiro. Há três anos atrás, nosso amigo Arthur Junior, pintor e cronista, escreveu um artigo em nosso jornal onde decantava a beleza e o trato de nossa Praça Prado Filho, recomendando-a como espelho, aos poderes públicos de Lorena. Hoje, retribuo sua delicada crônica com as mesmas palavras suas, referindo-me ao nosso Jardim do Conde. Nossa Praça Prado Filho, pela amplitude, perspectiva, imponência, possui tudo quanto precisa para voltar a ser a mais bela do Vale. Possuo mais que ninguém, talvez mesmo, ninguém, grande parte de minha vida, de meu trabalho, de minha modesta arte, ali, aos olhos de todos, há quarenta e sete anos. E é, justamente, por essas razões que me sinto com bastante força moral para sugerir aos seus responsáveis algumas medidas para sua recuperação. Eliminar o “inqualificável” obelisco encimado por uma velha caixa de relógio, deslocar a chamada “torre de exploração de petróleo” colocando-a em sua função, uma vez por ano, no alto do LAM, visível, quando utilizada, para toda a cidade, gramar os canteiros de terra pura, aparar o mato que já tomou conta de alguns, limpar, plantar e cuidar de flores várias e adotar fiscalização, permanente, para evitar as depredações. Quem sugere com boa intenção, colabora. Salvemos nossa “Sala de Visitas” que está muito a desejar!
Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do Jornal “O Cachoeirense”, nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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Ao professor e jornalista José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do Jornal “O Cachoeirense”, nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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