LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº.139, de 21 a 27 de janeiro de 1980.
ALAVANCAS DA CIVILIZAÇÃO
NELSON LORENA
Chego a confundir, às vezes, a vaidade com o orgulho, tais as íntimas conseqüências decorrentes de suas manifestações. Considerados por muitos como, condições das fraquezas morais humanas, não nos restam dúvidas que, de todas as nossas fraquezas, em breve ou longo prazo a virtude desponta. Daí resulta para nós que, no meio de nossas fraquezas está a virtude e a recíproca de que, em uma suposta verdade, um dia, o tempo nos mostrará a existência de um erro ali contido. O homem primitivo, por certo não possuía a vaidade, e, é possível que da vida em comum surgissem competições físicas e outras, resultando na vaidade e no orgulho. Nas mulheres, a vaidade tornou-se até certa idade um atributo aconselhável, justificável mesmo. Orgulho ou vaidade, eu sinto pela terra que me viu nascer, pelos pais que me geraram, pela dignidade, pelo sentimento de honra, pelo caráter e amor próprio que me legaram, em herança que conservo com carinho. Observo que a vaidade é transitória, vã, passageira e o orgulho, mais duradouro. Tanto um como outro, condições naturais ao ser humano, paixão ou virtude, não resta a menor dúvida que a eles se devem as suas grandes realizações. Cidades, monumentos, obras assistenciais, hospitais, asilos, laboratórios, descobertas nos campos da física e da química, centros de pesquisas no combate ao câncer, são realizados, em grande parte, à força do orgulho e da vaidade. E por que criticá-los, se deles derivam tantos benefícios? Orgulhosos foram os Faraós, pelas suas obras; Átila, por não nascerem as ervas onde suas tropas pisavam; Alexandre, pela precocidade de seu gênio guerreiro; César, nas suas conquistas e na vaidosa elegância que soube manter mesmo ao cair apunhalado. Luis XIV, o Rei Sol, pelo seu “L’Etat c’est moi”. Vaidosas, foram Helena de Tróia, pela própria beleza que lhe foi fatal; Lucrécia, por sua castidade e alto sentimento de honra, a grande Cornélia, orgulhosa dos Gracos, filhos que possuía, envaidecidos da extraordinária mãe que os projetou para a glória; o apogeu no mundo das letras, alcançado por Lamartine e Victor Hugo os envaideceu; nossa “Titília”, a irrequieta marquesa de nosso ardente Dom Pedro, era também vaidosa do prestígio que desfrutava no Paço de São Cristóvão. E assim, pelos ínvios caminhos da vida, o orgulho e a vaidade se confundem enquanto a civilização caminha. A propósito, a vinda agora de Frank Sinatra ao Brasil, fez-me lembrar de como a vaidade feminina e os caprichos que dela derivam pretendem e, muitas vezes, conseguem modificar a face das coisas. Há um quarto de século casaram-se, Sinatra e Ava Gardner. A bela, vaidosa, impetuosa e caprichosa artista foi com Sinatra passar a lua-de-mel em Honolulu. Queria ela, fazer uma excursão a bordo de um submarino. A tradição da marinha americana não permitia a permanência de mulheres em seus submarinos, quando em travessias, mas, era-lhe irresistível o desejo de romper com essa tola e descabida ordem do almirantado. E, o que uma bela mulher não consegue? Como água de morro abaixo e fogo de morro acima, ninguém a segura. Após insistentes pedidos, o comandante da frota do Hawai dá-lhes o consentimento. Entraram no submarino; as escotilhas foram fechadas, puseram-se os motores funcionando. Os barômetros registram a pressão na medida em que a nave se aprofunda e sofre a compressão da massa líquida. Por mais de duas horas, Ava Gardner vibra com o orgulho de haver rompido a tradição da marinha de sua terra. Mas na verdade, mais tarde chegou ao seu conhecimento que o submarinho não saiu de seu lugar e nem sequer submergiu. Os efeitos sonoros de um submarino que se deslocava, eram artificiais. A marinha americana não se curvara a um sorriso encantador. “A beleza é uma armadilha que a natureza arma à razão, mas nem sempre”!
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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