DEPENDÊNCIA E VIDA

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.





O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº.121, de 17 a 23 de setembro de 1979.




DEPENDÊNCIA E VIDA

NELSON LORENA



A humanidade é um organismo vivo. E, como todo organismo, é constituída de células que, embora em atividades diferentes e de certa forma independentes, mantêm a estrutura e estabilidade do corpo somático. Há evidentemente um objetivo comum, qual seja o perfeito equilíbrio desse organismo, para que a harmonia entre os homens transforme a Terra num reino de paz, de fraternidade. Em busca desse objetivo, os povos, como células constitutivas desse organismo, caminhando por veredas escuras e tortuosas, à luz mortiça e bruxuleante de uma pretensa independência política, comprometem os alicerces do edifício da paz e da solidariedade humana, que um dia o mundo construirá. Vivemos numa sociedade mal estruturada, plena de ódios políticos, religiosos, ideológicos que, milagrosamente ainda se mantém viva, mesmo tendo sob os pés a ameaça da destruição nuclear. “Independência ou Morte” é o brado cantado e decantado num assomo de patriotismo, muito justamente em seu sentido político, como há pouco assistimos, mas que na realidade não tem consistência ante os fatos. Os homens, as nações e seus governos, compreendem claramente que entre eles, jamais haverá uma independência absoluta. Imperadores e camareiros, reis e lacaios, ricos e pobres, o marechal e o soldado, médicos e doentes, advogados e criminosos, industriais e operários, todos possuem na reciprocidade da dependência, a razão de suas vidas. Temos para conosco que “Dependência e Vida” é o lema que mais se enquadra, em todos os tempos da humanidade. As nações mais poderosas da Terra batem às portas das mais fracas, em busca da matéria prima que hoje lhes falta. Nossa pátria, rica de reservas ainda inexploradas, é bem o queijo que as ratazanas avidamente devoram, mesmo com o conhecimento dos poderes constituídos, faltos de recursos para adquirir ratoeiras. Esses poderosos são carentes das riquezas que possuímos; e nós, campeões da maior dívida externa do mundo, não podemos explorá-las. São nações ricas, mas não independentes. Faltam-lhes a soja, o café, o ferro, a madeira, mas possuem a argúcia, a malícia, o senso calculista e a má fé, tão necessários ao próprio enriquecimento e que o brasileiro, por índole, não possui. E assim, a "terra em que, se plantando, tudo dá” vai gastar dois bilhões de dólares, ou seja, sessenta bilhões de cruzeiros na compra de trigo, carne, leite, batata, cebola arroz e alho, para consumo de um povo, até a poucos anos, tido como “essencialmente agrícola”! Vivemos na dependência econômica, alimentícia, tecnológica e, desgraçadamente, morre-se mais de fome que de indigestão! “Dependência e Vida” é slogan para exploradores e explorados, pelo direito à sobrevivência, ainda mesmo que estes últimos se transformem em "boi de piranhas".


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.




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