LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
A ALMA DAS PLANTAS
NELSON LORENA
As plantas sentem? Vêem? Têm Alma? Inteligência? Quando menino, plantei uma paineira sob uma viga colocada a uns três metros de altura, no prolongamento de um rancho em casa de meus pais. Tempos após, quando a planta atingia mais de dois metros de altura, notei que se acentuava a cada dia o desvio do tronco, como que procurando uma fuga do obstáculo ao seu crescimento. Aborreci-me ao ver a elegância estética de minha paineira comprometida. Mas, ficou-me sempre uma interrogação: teria ela “enxergado” o obstáculo antes mesmo de tocá-lo? Anos depois, nas costumeiras tertúlias com companheiros sobre os princípios espiritualistas que defendíamos, recordei o fato. Classifiquei-o como uma manifestação da alma da planta em sua fase incipiente, considerando-o fato inteligente, como emanado de um princípio igualmente inteligente. Uma das minhas amigas, ante cuja cultura me curvo, delicadamente discordou de minha opinião e classificou o fato como um [i]tropismo[/i]. Como em “festa de jacu, inhambu não pia”, dei-me por vencido, mas não convencido; lembrei-me de um pensamento atribuído a Victor Hugo: “Não importa vencer, mas sim convencer”. Eu não sabia o que era [i]tropismo[/i]. Tratei logo de consultar dicionários. E achei: É a mudança da posição de um órgão (no caso a planta) na direção em que provém o estímulo. Assim, a raiz estimulada pela umidade da terra, para ela se volta; o caule, pela luz e pelo oxigênio volta-se para cima; se a raiz encontra uma pedra em seu caminho, procura contorná-la; quando colocado um veneno na direção do curso da raiz, esta o evita e foge; a planta trepadeira estimulada pela luz enrosca suas gavinhas num suporte qualquer, amparando suas hastes. Há plantas que fazem, de duas folhas em forma de concha, uma armadilha para os insetos que ali pousam e fechando rapidamente ao seu estímulo, os devoram, voltando à posição primitiva após o repasto; a [i]Mimosa pudica[/i], a nossa dormideira ou sensitiva retrai suas folhas e pecíolos ao mais leve contato de nossos dedos. Em poucos exemplos constatamos, prudência, visão, sensibilidade e inteligência, atributos exclusivos da alma e, disto estou convencido. Partindo da premissa de que Deus é a Causa Primária de todas as coisas; Suprema Inteligência do Universo. Tudo quanto criou possui a Sua essência. Como decorrência desses princípios, chegamos a outra afirmativa, pela qual, todo efeito tem sua causa e, se inteligente é o efeito, inteligente é a causa. Toda causa pressupõe uma Causa maior; e no recuo de nossas interrogações chegaremos à Causa Primária de todas as coisas, ao Infinito que é Deus. Um professor, exímio especialista policial, perito em detecção de mentiras, autor da obra “A vida secretadas plantas”, segundo nos relata Newton de Barros, reuniu seis de seus alunos e fez com que eles retirassem por sorteio um papel dobrado entre seis. Somente um, sem o conhecimento de todos os outros e inclusive do professor, tinha uma tarefa a ser cumprida secretamente que era a de destruir pisoteando, uma de duas plantas que se encontravam em determinada sala. Cumprida a missão, o professor ligou um aparelho polígrafo à planta que sobreviveu à destruição. Os seis alunos desfilaram separadamente diante da planta sobrevivente. Quando o culpado dela se aproximou, o polígrafo acusou excitação feroz. A planta viva parecia estar ainda sob a horrível impressão da tragédia que “enxergara”, tal qual sentimos quando aos nossos olhos uma pessoa qualquer cai esmagada sob as rodas de um trem, e o seu pavor, o polígrafo acusou. Já temos notícias de que as impressões dolorosas de uma planta cortada têm sido registradas e muitas hipóteses foram sugeridas sobre o fenômeno. Eu também tenho a minha, e por que não? Hipótese que à luz meridiana da Razão, podemos considerá-la como Verdade Eterna. As plantas sentem, vêem, pensam, possuem inteligência e, por fim, uma Alma. Que um dia sairá livre, de suas raízes na terra para o animal, deste para o homem, do homem para a Perfeição.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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