LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano IV, edição nº.172, de 08 a 14 de setembro de 1980.
AOS MUNDOS QUE NOS ESPERAM
NELSON LORENA
Quanto mais contemplamos o Infinito, mais nos aproximamos do exato sentido de nossa pequenez ante a grandeza, a onipotência, o poder do Criador. Milhões de sóis caminham devorando o espaço, na ingênua pretensão de alcançar o Infinito. O Infinito! Essa idéia nos confunde, mas a Razão nos leva a aceitá-lo como tal. Considerando a nossa insignificância ante esse turbilhão, ainda somos felizes por compreender que milhões de sistemas planetários estejam na esteira desses sóis e que outras humanidades das quais participaremos um dia, vivem, amam e trabalham construindo um mundo com base no mais puro amor fraterno. Se nos fosse dado representar a Terra numa esfera de três metros de diâmetro e nela fizéssemos um furo com uma agulha, nesse furo caberia o homem, esse homem que se julga sábio, infalível, que faz da Terra que é boa um inferno de iniqüidade. Esse homem que odeia, mata, seqüestra e, se preciso for elimina de vez aquele que, por defender opiniões diversas cria embaraço às suas pretensões, muitas vezes alicerçadas em interesses inconfessáveis. Esse “homo sapiens” que, isolado, nada é ante a magnitude da obra divina. Na política, tornam-se comuns os seus erros, as violências, as arbitrariedades fundamentadas em conceitos flutuantes, todos mais tarde reconhecidos e lamentados. Lamentados, sim, porque como não há ninguém extremamente mau, haverá sempre um momento no mais recôndito de sua alma, de seu coração, quando a centelha do Bem, que ali dormita, desperta e eclode como uma semente ao romper o pericarpo. E assim, o rigor das atitudes intempestivas se abranda na sua reformulação, atenuando no arrependimento a extensão do erro. A historia é pródiga em tais fatos. Dreyfus, após longos anos de prisão, teve seu processo revisto; foi absolvido e ainda condecorado com a Legião de Honra; os mártires do 1º de maio de Chicago, após a morte por enforcamento foram perdoados; Pedro II deposto e exilado, morrendo aos poucos de nostalgia, vem tendo sua memória consagrada em praças, edifícios, avenidas, cidades e no coração do povo brasileiro. A filosofia que norteou a revolução de 64, cassou os direitos políticos de Juscelino, suas condecorações civis e militares e, um acidente o libertou dessas amarguras. Hoje essa mesma filosofia se contradiz, reconhece seus méritos e o reabilita perante a nação. Aparentemente, há incoerência na doutrina que faz e desfaz, mas na realidade, houve a maturidade dos sentimentos, dentro dos quais as centelhas do amor quebram a rigidez das atitudes tornando-as flexíveis e mais humanizadas. Juscelino, médico, orador fluente, homem de ação, concretizou a mudança da capital do país, uma idéia secularmente aventada desde o século XVIII pelo marquês de Pombal, ministro de Dom José I. E ao contemplarmos novamente o Infinito, queremos fazer sentir aos nossos irmãos das galáxias, aos mundos que nos esperam, que, numa desprezível picada de agulha na esfera terrestre, existe alguém que erra reconhece os erros, reformula e humaniza suas atitudes, na esperança de algum dia “fazer de sua alma um espelho, onde se refletirá a imagem do Senhor”.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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