A ÁRVORE

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano IV, edição nº.169, de 18 a 24 de agosto de 1980.




A ÁRVORE

NELSON LORENA



Consideramos ação criminosa a destruição indiscriminada das florestas, autorizada e assistida por homens que desconhecem o valor da árvore, mormente quando a ganância de lucros financeiros fala mais alto. Que seria da existência humana se não fosse essa benção que Deus de infinita misericórdia lhe proporciona? Sua utilidade chega, às vezes, a superar a própria natureza do Ser humano; pois viva ou morta continua útil. Soterradas, as grandes florestas, pelas convulsões periódicas do nosso solo, petrificam-se dando à humanidade essa fonte de riqueza e caloria que é a hulha. Sem a árvore, jamais conheceríamos as grandes conquistas dos Vikings, dos Fenícios, dos Assírios, dos Gregos, dos Romanos, dos Celtas, que caminhavam nas proas de suas arrojadas frotas, onde tudo era árvore: costados, mastaréus, remos, quilhas, vergas e gurupês. Foi ela, quem avistou as terras da América, antes mesmo do “terra à vista” dos marujos de Colombo e Cabral. Emergimos para a vida no berço que ela nos dá, e submergimos com ela nos esquifes que nos acompanham. Ela é a testemunha muda e discreta das alegrias que desfrutamos no recesso do lar onde, portas, janelas, forros, soalhos e madeiramento em geral, assistem ao perpassar de nossa existência. Ninguém ignora o seu valor na história, na construção do mundo, na vida do homem. Mas, apesar de tudo, enrijece-se a mente e o coração de nossos governantes que assistem, indiferentes e sem as medidas acauteladoras, à destruição de nossas matas pelas empresas multinacionais e estrangeiras que só visam o imediatismo de lucros fabulosos, sem levar em conta as suas conseqüências. São atitudes que definem um aspecto negativo da vida, mas outras há, no entanto, dignas de louvor e que também dizem de maneira positiva o que o povo sente. Os órgãos de publicidade nos trazem a noticia de que os moradores da Rua Faro, no Jardim Botânico, do Rio de Janeiro, lutam desesperadamente contra todos e contra tudo pela conservação de uma figueira secular com 3 metros de diâmetro, que empresas construtoras pretendem cortar para edificar um grande prédio. Os moradores estão dispostos a ir até Brasília, para pedir ao Presidente a conservação da figueira. São duas atitudes diferentes, mas dignas, filosoficamente, de observações. A destruição das nossas florestas, como a da figueira, é comum à massa que se agita por estímulos cujas raízes estão no estômago. Na luta ecológica, para a sobrevivência da figueira da Rua Faro, pelos que as trazem no coração, Oxalá permita o amor à Natureza vencer os obstáculos que se antepõem ao triunfo do altruísmo contra o egoísmo, fazendo com que a patriarcal figueira, engrandecida, continue a elevar seus ramos para os Céus, à guisa de braços abertos em perene oração.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.




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