LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
A LUTA CONTRA O TRABALHO
NELSON LORENA
Evidentemente, há uma tendência a tornar mais simples, mais práticos os problemas relacionados com tudo que diz respeito às atividades do homem. Nisto, parece haver uma rebeldia da nossa parte desde que Deus, segundo a Bíblia, impôs ao humano ser, como castigo, o trabalho na lavra da terra de onde deveria tirar com o suor de seu rosto o pão necessário a sua subsistência. E que castigo! Lavrar a terra sem enxada, arado, foice e demais utensílios, à unha; esperar o trigo para o pão nascer da terra, sem a semente de que não dispunha. Duro, não? Se tudo foi por causa de uma maçã; pior seria se fosse uma jaca?! Desde então, tem sido a luta contra o trabalho. A tendência é de tudo fazermos para evitar todo e qualquer esforço físico e mental! Visitando a usina hidrelétrica de Cubatão, observei que em uma área de, aproximadamente, meio alqueire localizada sob a terra, qualquer avaria que se desse na usina seria apontada por um só homem postado à frente de um quadro, onde os botões luminosos acusavam e localizavam a irregularidade. Ali estão os tratores, as escavadeiras, os guindastes, as máquinas de calcular, de carpintaria, de lavoura, a fazer com o esforço de um só homem, o trabalho de milhares em outras eras. Há setenta anos iniciaram-se em São Paulo as obras da Igreja da Sé, ainda inacabada; a tenacidade de um homem incomum fez Brasília em quatro anos! Até nos estudos, nas conversações, na imprensa, observa-se a inclinação para a síntese. A ciência adverte a população contra o perigo da poliomielite, a imprensa corrobora na campanha, simplificando a moléstia como “pólio” quando, segundo me parece, a enfermidade é a “mielite”; mas o povo entende. Nos estudos, sinais convencionais substituem as palavras nas anotações dos estudantes, independentemente das inúmeras siglas, em que cada letra expressa as diferentes atividades das instituições. O cinematógrafo dos irmãos Lumiére, foi reduzido de Cinema para Cine. Na conversação, lembro-me que um dia uma senhora me fez uma pergunta que me confundiu, por excesso de economia de palavras. Terminada uma casinha que construí, pergunta-me ela: “Seu Nelson, aquele pedreiro que fez aquela casa pro senhor, quantos cômodos tem?” Não me foi difícil, como não é ao leitor, atingir seu pensamento ainda que truncado, repartir a pergunta em duas e responder quanto ao pedreiro e quanto ao número de cômodos. Certo dia, um dos meus filhos disse à sua mãe: “Manhê, a galin di pin, ta chó debá do porão”. De fato, dias após vieram os pintainhos. É difícil condensar um pensamento, uma idéia, e isso parece ser o objetivo do homem, em sua corrida contra o tempo. A síntese é uma arte e, como todas as outras, é um dom que não se aprende, mas já se sabe. Eis como Marta, essa menina, esse botão de rosa, arrancado impiedosamente de sua vergôntea, pelo açoite da fatalidade, minimiza a complexidade de sua Noite Eterna: “...sigo hoje para o reino,/ onde buscamos olhos magoados/ que choram por nós./ E nesse reino nos será dado o poder de nos juntarmos/ com a negra podridão da terra/ e o suave murmúrio da fonte.” As impressoras não são infalíveis e, por isso mesmo, compreensíveis são suas falhas e que à revisão compete eliminar, quando confuso se torna o pensamento do cronista.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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