DA QUEDA À ASCENSÃO

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.






O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano III, edição nº.144, de 03 a 09 de março de 1980.




DA QUEDA À ASCENSÃO

NELSON LORENA



O rapaz era nosso amigo, músico da banda de meu Pai, casado, com filho e, desempregado, passa por dificuldades para manter a família. Pediu-me para me interessar pela sua admissão aos serviços da Central, como ferreiro. Tudo arranjado, lá foi o meu amigo submeter-se ao exame prático necessário à admissão. O mestre das oficinas lhe deu então uma peça de puxavante de locomotiva, quebrada, para caldeamento e recuperação. Depois de muito trabalho, muito calor, muito fogo, dos movimentos de vai-e-vem da forja à bigorna, perdeu o trabalho; resultado: foi dado como incapaz para a profissão desejada. Na saída das oficinas, desapontado, derrotado ante frustrada esperança, encontra-se com o contra-mestre que lhe diz: “Olha rapaz; o mestre está removido; assim que cumpra a ordem de remoção, você volte aqui para nova prova. Você ficou nervoso, desambientado, encabulado e, talvez nisso resida a razão de seu fracasso, lhe darei nova oportunidade; com mais experiência, mais calma e confiança, lhe darei a mesma peça para ser recuperada.” Dias após, volta o meu amigo, submete-se à prova, foi feliz e admitido. Agora, pergunto eu a quem me lê. Qual o critério mais justo, mais sensato? Qual dos examinadores foi o mais piedoso, o mais compreensivo? A resposta é facílima. Então meus amigos, este será sempre o critério, será sempre a justiça Daquele que, no julgamento de nossos erros, de nossos pecados, nos dará novas oportunidades, quantas sejam preciso, dizendo-nos à entrada do Paraíso, no pórtico do Éden: “Volta filho, dos filhos de meu pai, nenhum se perderá”; volta e reinicia nova jornada, cairás muitas vezes e muitas vezes te levantarás, errarás e acertarás até o dia em que a sua fronte não mais se inclinará; a eternidade das penas não é atributo de nossa justiça. Sempre fui mau aluno de Português, mas me parece que o adjetivo BOM antes do substantivo, põe em evidência as excepcionais qualidades do sujeito. Assim é: bom médico, bom engenheiro, bom escultor, etc.. Jesus, segundo um dos apóstolos, referindo-se ao Bom ladrão disse: “Serás comigo hoje no paraíso”. Então haverá, mesmo para um ladrão, ainda mesmo que hábil em sua “profissão”, um lugar em que, após a morte do corpo, bons e maus se reúnem para uma análise do que se fez e do que se deveria fazer e, como o ferreiro fracassado da estória, retornarem às novas provas de expiação e resgate. E, nesse lugar de calma, solitude, paz, luz, sons, cantos e harmonia, o réprobo se atira a nova escalada na senda da perfeição, em busca do: “Vós sois deuses, sêde perfeitos como perfeito é vosso Pai”.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.




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