LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
OS GANSOS DO CAPITÓLIO
NELSON LORENA
A hipocrisia ainda continua a ser o maior fator de equilíbrio nas relações entre os homens. A verdade, menos aceita pela dureza que muitas vezes fere, ofende o orgulho pessoal, diminui a personalidade por força deste mesmo orgulho e gera a discórdia. Pediram-me para escrever algo sobre um assunto que, de modo geral, afeta a vida da cidade em que moramos; todos assim julgam, todos assim pensam. Receamos que alguma verdade aí contida possa melindrar alguém, não é o nosso desejo; sabemos que há orgulhosos, como também há tolerantes e compreensivos. Mas, vamos deixar estas considerações para o fim. Desde o aparecimento do homem sobre a Terra, o espírito belicoso o acompanha. Caim não foi o primeiro. Expulso do Éden, foi para a terra de Nod, onde havia um povo, que já brigava, e ali se casou. Milhões de anos antes, o homem em busca da caça, já matava o semelhante, em disputa da presa. A humanidade cresce e o espírito belicoso evolui com a massa. Pela estrada sem fim da existência, semeiam-se ódios, vinganças, crimes bárbaros, até que chegamos, como o nosso objetivo, ao ano mais ou menos 390 AC. Havia na Itália, uma cidade que possuía um templo dedicado a Júpiter, o Capitólio. Os gauleses aproximavam-se de suas fortalezas, a fim de conquistá-las. Os gansos, que ali estavam, por acaso, sentindo a aproximação dos invasores, assustam-se e em seu grasnar estridente acordam os sitiados desprevenidos, que conseguem repelir o assalto. Foi evidente a irresponsabilidade do comando, o descaso ou incompetência, pois em meio a uma época de guerras, a tropa deveria estar de prontidão. Também a vida, como luta constante, exige para sua estabilidade e segurança, o senso de responsabilidade que cresce, mormente quando o futuro de nossa família a isso nos obriga. Torna-se para nós, este senso, maior ainda quando dirigimos os destinos da coletividade, uma cidade; como por exemplo, a nossa cidade. Decorre daí, o progresso, como fruto da boa administração apoiada nos recursos e na autoridade que o voto popular nos concedeu, na esperança do bem comum. O progresso de nossa cidade está emperrado; há obstáculos irremovíveis, é certo; mas removíveis o são, morosamente. Parece-nos que uma apatia mórbida ataca a todos quantos têm deveres para com o povo que os escolheu. Não nos move nenhuma intenção de descrédito aos que enfeixam nas mãos o destino da cidade; ao contrário queremos somente alertá-los para as coisas que falam mais diretamente ao povo, ou mais de perto; ao qual devemos nos aproximar e ouvir. Isto não constitui desdouro nem servilidade; as próprias religiões o fazem. A terra é boa e hospitaleira, seu povo melhor ainda. Dela tudo se consegue. Tudo se resume na Ação. Temos um grande amigo, já no país da Luz; que fundou e manteve, maçonaria, futebol, banda de música, clube dançante, grêmio dramático, simplesmente porque quis e soube manipular a argila que o povo lhe deu. Tudo se resume na Ação. E, é justamente na falta desta virtude que pecamos. Queluz, cidade cinco vezes menos populosa que a nossa, comemorou o centenário de seu município, com uma semana de festas, com programa largamente difundido. Cachoeira ignorou seu centenário aos 9 de março, quando há um século criou-se o município. Ignorância histórica, descaso? Em agosto deste ano, completamos dois séculos de fundação. Há alguma providência para sua comemoração? Sabem executivos e legislativos, quando foi fundada? Fundador? Onde e como? Ação, senhores! Vamos despertar o Vale, para que saiba que existimos, sim por que há ainda mapas com o nome de Coxeira Paulista (sic)! Antes, porém, torna-se necessário que vos desperteis, sem que para isso seja preciso colocar gansos em nosso majestoso “Capitólio” da Avenida Cel.Domiciano.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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