SAINT-NICOLAS DE PORT Padroeiro da Lorena.

SAINT-NICOLAS DE PORT
Padroeiro da Lorena.


Vitral da Basílica de Saint-Nicolas de Port 

À exceção de Nossa Senhora, nenhum santo tem mais igrejas que levam seu nome que São Nicolau, Saint-Nicolas para os franceses! Nascido em 271 em Pátara na Lícia, morreu em de 6 de dezembro de 342 ou 343 em Myra, na atual Turquia, onde se tornou bispo. O bispo Nicolau foi dos trezentos e dezoito bispos que participaram do primeiro Concílio de Nicéia onde defendeu ativamente as discussões teológicas para a formação da doutrina oficial da igreja fundamentada na consubstanciação do Senhor Jesus. Apesar da natureza carnal da Virgem e da humildade da manjedoura, Nicolau foi um dos que proclamaram o filho de Maria, Filho de Deus, igual a Deus. Era um filantropo e, após sua morte, logo surgiram mitos sobre ele em todo o Mar Mediterrâneo. Reputavam-lhe capacidade de acalmar os mares furiosos, resgatar os marinheiros em perigo, ajudar os pobres e oprimidos e proteger as crianças. Em 1087, os sarracenos devastaram a Lícia, invadindo e saqueando templos cristãos e Myra foi ocupada pelos árabes Saljuquides. São Nicolau apareceu em sonho a um sacerdote de Bari, na Itália e ordenou que suas relíquias fossem transferidas para essa cidade. Prontamente, um grupo de soldados de Bari incumbiu-se da missão e resgatou-as. A fama de seus milagres propagou-se por toda a costa atlântica da Europa e do Mar do Norte. É considerado o taumaturgo do seu século e o dia de sua morte, 6 de dezembro, foi adotado como um feriado europeu tradicional, independentemente da religião.



Pátara e Myra na Lícia, ao tempo dos romanos.


Estátua de São Nicolau de Bari na
Catedral de Notre-Dame de l'Assomption.
Guadalajara - Espanha



AUBERT DE VARANGÉVILLE 

Em 1098, Saint-Nicolas já era muito popular no Ocidente e Aubert de Varangéville, cavaleiro lorena, decidiu ir a Bari para assistir a inauguração de sua basílica. Durante a cerimônia, de modo a comprovar a presença do corpo do santo, o Papa Urbano II exibiu à multidão uma falange de Saint-Nicolas. Aubert aproveitou para, nesta mesma noite apossar-se da relíquia, que não estava colocada em um lugar seguro, e a trouxe para a vila de Port na Lorena.

Depositada em uma pequena capela, acorreram peregrinos de toda parte para desfrutar da poderosa misericórdia do santo taumaturgo. Aubert compreende que não pode continuar a venerá-la sozinho e propõe ao abade de Gorze, do priorado de Varangéville, expô-la para a veneração de todos. 

A relíquia foi transferida para a capela de Notre-Dame, em Port, local de passagem dos comerciantes para as feiras de Champagne e da Alemanha, sobre o rio Meurthe. Uma primeira igreja foi construída em 1104, no início do século XII e desde 1120, os duques elegeram Saint-Nicolas de Port, o padroeiro da Lorena. E uma segunda igreja, substituiu a primeira em 1193. 


Aubert de Varangéville trouxe uma relíquia de 
Saint-Nicolas de Bari para Port na Lorena.

Relicário de ouro em forma de braço, 
doado pelo duque Carlos II para guardar 
a relíquia da falange de Saint-Nicolas de Port. 


O SENHOR DE RÉCHICOURT

O Senhor de Réchicourt, Cavaleiro lorena, capturado em 1240, quando retornava da Sexta Cruzada, obteve um livramento milagroso atribuído a Saint-Nicolas e instituiu uma peregrinação à basílica, que reúne hoje cerca de 3.000 pessoas, no sábado mais próximo do dia 6 de dezembro. 
LOUIS IX E O SIRE DE JOINVILLE.

Ao retornar de sua primeira cruzada em 1252, o rei Louis IX, sua mulher a rainha Marguerite de Provence e o senecal John Steward, Sire de Joinville, enfrentam uma violenta tempestade no Mediterrâneo. Seguindo os conselhos de Steward, a Rainha implora a Saint-Nicolas e eles saem ilesos! Em 1254, o Sire de Joinville traz para a igreja de Saint-Nicolas, como gratidão da rainha, uma urna cheia de dinheiro. Infelizmente, esta peça desapareceu durante a turbulenta história da basílica. 

JOANA D'ARC

No início do século XV há guerra por toda a França e o reino está, em grande parte, nas mãos dos britânicos. Em 1429, Joana d'Arc, após as aparições de Domrémy, visita diversos lugares santos da Lorena. Ela se dirige desde Toul para Saint-Nicolas de Port onde vai venerar as suas relíquias e pedir a proteção do bispo de Myra, para a missão extraordinária que irá realizar. O duque de Lorena, Charles II, doente e decidido a ouvi-la, manda chamá-la. Em Nancy, ela dá-lhe alguns conselhos muito severos sobre a sua conduta. E, se ela não consegue convencê-lo a desistir de seus amores ilícitos, pelo menos, recebe dele um fogoso cavalo negro, quatro francos para suas despesas de viagem e, principalmente, seu apoio e o de René I d'Anjou, que a teria acompanhado durante a entrevista. 

Estátua de Joana d'Arc na Basílica de Saint-Nicolas de Port 


O DUQUE RENÉ II E O SANTUÁRIO NACIONAL DA LORENA

Carlos, o Temerário, o audacioso duque de Borgonha, pretendia reunir suas possessões de Flandres às de Borgonha separadas, entretanto, pelo território da Lorena. Em 1475 ele assediou e cercou sua capital e em 30 de novembro, dia de Santo André, padroeiro da Borgonha, entrou em Nancy. Em maio de 1476, o duque de Lorena, René II com apenas 25 anos, subestimado como "apenas uma criança" por Carlos, o Temerário, atravessa Port e parte em busca de tropas, na Suíça e na Alsácia, para reconquistar a sua Lorena.

Em janeiro de 1477, ele está de volta e, no alto das torres da igreja acende fogos para avisar os sitiados em Nancy que vai a seu socorro. Ao amanhecer de 5 de janeiro, René II e toda a nobreza da Lorena participam de uma missa solene diante do Senhor Saint-Nicolas e partem para libertar Nancy. René II, ajudado por mercenários suíços, vence a batalha de Nancy e o corpo de Carlos, o Temerário é encontrado, dois dias após a luta, próximo ao lago Saint-Jean.

O Ducado da Lorena, pequeno principado do Sacro Império Romano, após essa vitória foi reconhecido por todas as cortes da Europa como um estado independente. Torna-se necessário um Santuário Nacional para a Lorena. Em testemunho de gratidão, René II manda construir um magnífico edifício para glorificar a Saint-Nicolas. O Prior, Simon Moycet colocou a primeira pedra em 1481, mas a construção começa realmente em 1495, a fachada foi inaugurada em 1544 e as torres concluídas em 1560. A cidade também cresceu, construiu um hospital, moinhos, os comerciantes ali se reuniram e logo se tornou o grande centro comercial e espiritual da Lorena. Ali vão orar São Francisco Xavier, a Beata Maria da Encarnação, São Pedro Fourier, Madre Alix, Leclerc e São Bento Labre. Irão também os duques da Lorena, príncipes e reis da França, Henrique II, Catarina de Médici, Charles IX, Henrique III e Henrique IV.


Saint-Nicolas e René II duque de Lorena
Vitral da Basílica de Saint-Nicolas de Port.


GUERRAS E CATÁSTROFES

Em 1618, irrompe na Boêmia a Guerra dos Trinta Anos. A Lorena será duramente atingida, em particular, Saint-Nicolas de Port. Em 5 de novembro de 1635, enquanto Nancy permanece enclausurada atrás de seus baluartes, 300 cavaleiros saqueiam a cidade e massacram a população. Em 10 de novembro, chegam os suecos e os franceses e, não encontrando mais nada, queimam a cidade e incendeiam a igreja. O fogo foi tão intenso que, em duas horas a estrutura desabou. Dos onze sinos não foi possível encontrar mais do que vinte libras de metal. A cidade não mais se recuperou e os fluxos comerciais foram deslocados para Frankfurt e Estrasburgo. A igreja permaneceu, mas durante quase um século necessitou de várias restaurações e, as estruturas das torres só foram recuperadas em 1725. A estatuária e os altares das capelas laterais e absides foram repostos no século XIX. Bombardeada em 1940, ela será reaberta ao culto apenas em 1950, quando Pio XII lhe confere o status de Basílica.

Saint-Nicolas de Port é atacada por 300 cavaleiros
e a população é massacrada em 05-11-1635.
Guerra dos 30 Anos.

Franceses e suecos encontram a cidade arrasada e
incendeiam a Basílica em 11-11-1635.
Guerra do 30 Anos.

ÚLTIMO GRANDE MILAGRE DE SAINT-NICOLAS DE PORT

Camille Croué Friedman, nascida em Saint-Nicolas de Port, em 1890, aos 16 anos partiu para a América, junto com alguns de seus familiares. Em 1933, em um naufrágio ao largo da costa de Chipre, foi um dos poucos sobreviventes e atribuindo seu salvamento a Saint-Nicolas, ofereceu em gratidão, um vitral à Basílica. Depois de 1945, financiou a restauração do altar principal destruído por um obus. Fiel à cidade natal e à igreja de seu batismo, viajava todo verão para Saint-Nicolas de Port, para visitar sua família. Em 1973, apoiou a criação da Comissão do Conhecimento e Renascimento da Basílica. Em 1975, conheceu o presidente Gilles Aubert e confiou-lhe sua intenção de fazer algo por sua igreja. Após sua morte em Nova York, em março de 1980, descobriu-se que ela legara a maior parte de sua fortuna à Basílica, um legado providencial de 14 milhões de euros que patrocinou um grande programa de restauração para recuperar a sua beleza original, durante 15 anos.

A Basílica de Saint-Nicolas de Port restaurada.















Vista atual, de frente e de perfil da Basílica 
Saint-Nicolas de Port.



COMISSÃO DO CONHECIMENTO E RENASCIMENTO
DA BASÍLICA DE SAINT-NICOLAS DE PORT
1 rue des Trois Pucelles
54210 Saint- Nicolas de Port
Téléphone/ fax : 03-83-46-81-50
contact@Saint-nicolaslorraine.eu


Vista Noturna em Cartão Postal da 
Comissão de Conhecimento e Renascimento


A CIDADE HISTÓRICA DE MYRA

Myra, em Luwian, dialeto etrusco, significa "Maura", que se traduz como "lugar da Abundante Deusa Mãe". A cidade fundada pelos gregos destacou-se a partir do século V AC e Constantino escolheu-a para capital da Lícia, ao tempo de Xanthos no século I AC. Nos tempos dos romanos, no início da época bizantina, Myra era também um importante porto marítimo. Um dos seus bispos mais famosos, São Nicolau (Saint-Nicolas), ali viveu nos primeiros anos do século IV e, após sua morte, a cidade converteu-se em um rico centro de peregrinação. Muitas igrejas foram construídas e diversos milagres são atribuídos a ele. Entretanto, após a  invasão dos árabes Saljuquides no século IX DC e a seguidos desastres naturais, chegou ao seu completo abandono no século XI DC. Quando os turcos se dirigiram para Myra, foram apenas para tomá-la como uma região devastada. Atualmente a antiga cidade encontra-se quase soterrada sob a deposição dos sedimentos de aluviões trazidos pelo rio Demre.



Ruínas na estância turística de Myra-Demre, Turquia

Em 11 de janeiro de 2010, o jornal Le Républicain Lorrain publicou e comentou a seguinte manchete:

A TURQUIA RECLAMA AS RELÍQUIAS DE SÃO NICOLAU.

Parece uma anedota de mau gosto, mas o Ministro do Turismo, turco, acaba de dizer muito seriamente: "Se vamos construir um museu em Demre, antiga Myra, que possui uma basílica bizantina do século V, naturalmente a primeira coisa que pedimos são os restos do Pai Noel." Aparentemente, ele não está muito bem informado sobre a identidade do personagem. Este seria, sobretudo, Saint-Nicolas. Para o ministro muçulmano, os ossos devem ser expostos na Turquia; e não em uma cidade de piratas. Ou seja, em Bari, no sul da Itália - os italianos apreciaram a qualificação - para onde foram trazidos por marinheiros em 1087, quando a cidade estava sob ocupação árabe. Por sua vez, Aubert de Varangéville trouxe de Bari, em 1098, uma falange e alguns ossos do santo, para a cidade de Port, na Lorena. Na paróquia de Saint-Nicolas de Port, o padre Jean-Louis Jacquot considera surpreendente a requisição das relíquias por razões pouco gloriosas, para ganhar dinheiro com o turismo. Ele esclarece que o santuário do final do século XIX onde estão as relíquias, pertence ao município. Os ossos são relíquias de caráter sagrado e, se depender da diocese de Nancy e Toul, inalienáveis. O prefeito de Saint-Nicolas de Port disse que, caso tal exigência seja apresentada à França, ele e a cidade de Port estarão mobilizados para defender o culto ancestral de Saint-Nicolas na Lorena. Espera-se, portanto, um basta do governo islâmico turco.


Basílica bizantina de São Nicolau em Myra


Tumba original de São Nicolau na Basílica de Myra



ALGUMAS HISTÓRIAS DE SÃO NICOLAU


São Nicolau, ícone da igreja ortodoxa.

SANTO CASAMENTEIRO E PADROEIRO DOS ENDIVIDADOS

Havia em Pátara um homem muito rico que faliu perdendo tudo o que tinha. Sobraram-lhe apenas suas três belas filhas. O pai, inconformado com a vida de pobre, começou a engendrar um plano criminoso para ganhar dinheiro: prostituir as moças. São Nicolau ficou sabendo da monstruosidade e decidiu impedir que aquela vergonha se realizasse. Agiu em segredo, atirando um saco de moedas de ouro pela janela.
Ao receber a dádiva, o ex-comerciante resolveu que aquele seria o dote da primeira filha e casou-a decentemente. Pouco tempo depois, outro saco de moedas apareceu na casa e a segunda moça também se casou. Na terceira vez, colocou o dinheiro em uma meia que a mais moça tinha colocado para secar diante da chaminé. Essa é uma das origens do Papai Noel que desce pela chaminé ou que coloca presentes nas meias ou sapatinhos das crianças pendurados defronte das lareiras.
O religioso queria agir anonimamente, porém, como não existe segredo que os olhos e os ouvidos do povo não descubram, logo começaram os boatos de que Nicolas era o bem-feitor misterioso de muitos pobres que tinham sido socorridos de forma "milagrosa". Na Europa a lenda das Três Moças Pobres fez de São Nicolau o santo mais solicitado pelas donzelas que buscam marido e pelas famílias endividadas. Por causa de sua caridade, que começou com a distribuição de sua fortuna pessoal, em suas imagens, São Nicolau é representado com três moedas de ouro ou três bolas douradas em uma das mãos.


São Nicolau deu origem à lenda de Santa Claus/Papai Noel


SANTO PROTETOR DOS MARINHEIROS E DOS NAVEGANTES

São Nicolau viajava por mar com freqüência, entre Mira e Alexandria, onde estudava, ou com destino a lugares santos. Muitas vezes, enfrentou o mau tempo e ficou conhecido pelo seu poder de aplacar tempestades e caminhar sobre as águas, salvando navios e náufragos.
Certa vez, tomou uma embarcação em Pátara, que se dirigia à Palestina. A viagem transcorria tranqüilamente, mas São Nicolau através de uma revelação tomou conhecimento da iminência de uma tempestade, comunicando aos companheiros. Logo rebentou uma terrível tempestade e a embarcação transformou-se em um brinquedo indefeso das enormes ondas desenfreadas. E como todos pediram que ele orasse pela salvação, através da oração do santo o vento diminuiu e veio uma imensa tranqüilidade.
Certa vez, um navio navegando do Egito para a Líbia, defrontou-se com uma terrível tempestade e começou a afundar. Algumas pessoas se lembraram de São Nicolau e começaram a pedir sua ajuda, em oração. E eis que eles o vêem caminhando rapidamente sobre o mar revolto, subir para o navio e assumir o leme. A tempestade se acalmou e o navio chegou perfeitamente ao porto.


Saint-Nicolas acalma a tempestade e protege os marinheiros

SANTO PROTETOR DOS ESTUDANTES E DAS CRIANÇAS

O santo que premiava os jovens que se aplicavam ao estudo do catecismo e se comportavam bem, é protetor não somente dos estudantes, mas de qualquer criança em situação de perigo. Conta-se que, estando o bispo Nicolau de passagem por uma região, hospedou-se em uma estalagem. Era um tempo de carestia e fome. O estalajadeiro, homem malévolo e ávido de lucros, como não tinha o que servir aos clientes, seqüestrou três crianças, matou-as, esquartejou-as e armazenou as partes em um barril de salmoura a fim de servi-las como carne de porco. O bispo, descobrindo o crime horrendo, reuniu os membros cortados e ressuscitou as crianças. É o santo do socorro em variadas situações, inclusive em calamidades sociais, comunitárias.



São Nicolau ressuscita os jovens no barril da salmoura

SÃO NICOLAU E O MITO DE SANTA CLAUS – PAPAI NOEL

São Nicolau foi o modelo que as igrejas cristãs adotaram, além dos Três Reis Magos, para representar as criaturas mágicas das culturas pagãs, que distribuíam dádivas nas festividades que evocavam a fortuna e a abundância. Com a evolução da propaganda, a figura de Santa Claus tornou-se o ícone de uma época de produção em série em um mundo habitado pelas primeiras gerações de "consumidores non sense", ávidos pelos últimos lançamentos da indústria em geral, bem como, dos produtos da indústria cultural. Assim é que, Santa Claus "nascido" em 24 de dezembro de 1822 em Nova York, ganhou fama em escala mundial depois de uma campanha publicitária orquestrada pelos fabricantes da Coca-Cola. O vermelho dos seus trajes suscita a idéia de vivacidade, alegria e materialidade e sua figura gorducha e rosada é, certamente, muito diversa do São Nicolau de Bari, que jejuava sempre. Papai Noel, o Santa Claus do século XX é, ainda no começo deste século XXI, o patriarca bem nutrido da fartura, com a respeitabilidade de um tipo de avô que, possivelmente, está em extinção.


Santa Claus/Papai Noel na campanha da Coca-Cola.

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