UM SEMEADOR SAIU A SEMEAR

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e cenas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano IV, edição nº.163, de 14 a 20 de julho de 1980.




UM SEMEADOR SAIU A SEMEAR

NELSON LORENA



Jamais podíamos pensar que algum dia nossos olhos pudessem ver um Homem que reunisse em si todos os atributos, de quais, Deus se aproveita para apresentá-lo como o modelo vivo de verdadeiro cristão. Referimo-nos a S.Santidade o papa, Carol Wojtyla. Possuidor de uma personalidade forte aliada a um magnetismo pessoal impressionante e de uma simpatia à qual se escraviza todo aquele que O ouve, o atual papa, fascina pela sua natural bondade, convence, prega e exemplifica Amor. Após visitar uma dúzia de países, providencialmente veio em nossa terra, justamente no momento em que sua visita e suas palavras se faziam necessário. Jamais na história de nosso povo, palmilhamos caminhos tão difíceis, penosos aos nossos pés; jamais nossos olhos divisaram um céu tão ameaçador, prenunciando tempestades de efeitos inconcebíveis para nosso futuro. O homem a serviço do homem, atravessa fronteiras e mares, procurando intercâmbio político, equilíbrio financeiro e interesse comercial ou financeiro, que retratam o aspecto material da vida. O homem a serviço de Deus, em sua missão vai mais longe, objetivando o aprimoramento dos dons espirituais, escudos que são para nós na resistência às misérias da carne e na luta pela consolidação das forças eternas do Espírito. Geralmente, os chefes de Estado não procuram o povo, mas sim o ciclo restrito das atividades comerciais, industriais ou bélicas em suas visitas, que não deixam saudades, pela ausência do estímulo que a massa ou o povo precisa para sua manifestação. Este estímulo soube muito bem dar S.Santidade, escolhendo o bom grão para sua semeadura no coração de um povo sofrido e desesperançado. Posso afirmar que, como povo que também sou, dentro de minha insuspeição como espírita, que todos souberam sentir o calor de Suas palavras, desse calor que todos nós precisamos. O Semeador soube escolher as sementes e os terrenos propícios a uma fecundação. Nos caminhos percorridos, longos como a circunferência da Terra, deixou sulcos de Paz, de saudades e promissoras esperanças. Nas manifestações espontâneas do povo, na alegria ou nas lágrimas sinceras brotadas dos olhos e dos corações, nas oferendas, no entusiasmo coletivo, a demonstração insofismável de que o Brasil é a Pátria do Evangelho, o Coração do Mundo, como dizem os espíritas. Um jornal londrino criticou a visita de S.Santidade à favela do Vidigal, onde segundo ele, “os favelados entendem tanto de cristianismo, como as bestas persas entendem do Corão”. O entendimento de qualquer doutrina religiosa, não é o caminho certo para senti-la. Isto só, não basta. O principal é praticá-la. O materialista pode ser cristão, pela bondade, pelo amor ao semelhante, porque Deus é Amor. E S.Santidade sabe disso, tanto que, pregou cristianismo sem falar sectariamente em sua religião. Todos souberam ver e compreender no ecumenismo de Carol Wojtyla, um homem de raro valor, que viu e sentiu em nosso Brasil, segundo uma Sua expressão, “uma Igreja aberta”, como abertas foram as portas de nossos corações, para a saudade que ficou e para as esperanças do Seu “até logo”.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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