LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
FILOSOFIA E HUMOR
NELSON LORENA
O diálogo entre pessoas amigas, o relacionamento social, os vários assuntos que daí decorrem, tornam-se uma condição inerente ao homem racional. Por outro lado a meditação, a solidão, o isolamento que os problemas da vida nos levam ao confronto, são imperativos de quem pensa, do homem racional que somos. Na contrastável de nossa personalidade surgem, o trabalho e a ociosidade, a luta e o descanso, a paz e a guerra, a morte e a vida, lágrimas e risos, dor e alegria, como vagas num vai-e-vem, beijando a praia e retornando ao seio do mar. E o homem, filosofando, conclui não saber definir as linhas divisórias dos contrastes, onde um termina e outro começa, num circulo vicioso. Há poucos dias deram-me umas sementes de fava para plantar. Com elas nas mãos pensei, germinarão? Estão vivas? Estão mortas? Mas, a dúvida é a condição intermediaria entre a falsa e a verdadeira convicção. Pequenas questões nos levam, às vezes, a conclusões maiores. Em minhas mãos elas estavam vivas e improdutivas, mergulhadas na terra desapareceriam, mortas nas raízes, no crescimento e na florescência da leguminosa. Morre assim a semente para que a vida se perpetue. Conclui que a vida depende da morte e a morte da vida. Esta concepção levou muitos estudiosos a formular hipóteses sobre os dois estados; Vida e Morte. Um palpável, de condição visível e de alguma forma explicável; outro misterioso, temido mesmo em alguns aspectos, pelos conceitos apavorantes que os teólogos lhe imprimiram. O espectro da Morte tomou forma e dominou as crenças infundindo, até nas crianças, o pavor do desconhecido. Lembro-me que, quando morreu a sogra de um amigo, cujo homônimo foi o autor das “Metamorfoses”, um sobrinho meu, criança ainda, teve que dormir justamente no quarto em que falecera a velhinha. De madrugada, já com as luzes apagadas, o genro, por necessidade, se levanta e no quarto do menino entra. Naquele tempo não se usavam pijamas. Era hábito o camisolão branco e um gorro na cabeça, por causa do frio. O pequeno, com o ruído acorda e, ante aquele fantasma, desanda aos berros, com escândalo para a família, ante o pavor do espectro que julgava ser a falecida. Deveria ter sido horrível! O conhecimento do mundo invisível com finalidade científica e, até mesmo como passatempo, cresceu de maneira extraordinária. A magnitude e importância do objetivo, empanadas pela curiosidade, têm trazido decepções. Não se brincam com as coisas que trazem o cunho divino. Um velho amigo meu, o Antenorzinho, como era conhecido, contou-me que, reunido com outros em casa de um seu amigo conversavam sobre os problemas da morte. Resolveram improvisar uma “sessão” espírita sem nenhum dos sentimentos nobres e critérios dignos que o fato exige. Reuniram-se em torno de uma mesa à meia luz com um “presidente” para dirigir o trabalho. Não sei bem se fizeram ou não uma oração. Após alguns minutos de concentração, o Antenorzinho sentiu que “alguma coisa” mexia num dos seus pés. Levou ao conhecimento do presidente que recomendou “passividade” e deixar ver até onde ia o “fenômeno”. “Será isso um sinal da tal de mediunidade?”, pensou o Antenorzinho e relaxou-se todo. Essa “alguma coisa” que começara no seu pé, foi subindo por dentro da perna da sua calça. Disse-me ele; “Eu tremia, meu coração disparava e quando “aquela coisa” chegou ao joelho, me unhou, dei um grito e bruscamente estirei a perna, atirando longe um rato branco que a dona da casa possuía para caçar os ratos pretos”. E acabou-se a “sessão”. Nas pesquisas, mesmo das coisas mais sérias, confundem-se o trágico e o cômico, o fracasso e o ridículo, pela deturpação do objetivo.
*****
Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
Veja também:
NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE
A ARTE DE NELSON LORENA
*****
Nenhum comentário :
Postar um comentário