A FORÇA DE SATANÁS

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano IV, edição nº.195, de 22 de fevereiro a 08 de março de 1981.




A FORÇA DE SATANÁS

NELSON LORENA


A saúde, no conceito de sua amplitude, é o maior patrimônio que uma criatura pode possuir e sua ausência significa enfermidade. Seria a saúde perfeita aquela em que a medicina, após os exames de laboratório e análises concluísse pelo funcionamento normal de todos os órgãos? Em conversa com um amigo, perguntei pela sua saúde; respondeu-me que havia se submetido a um “checape” cujo resultado, segundo o médico, deu saúde normal, tal qual a de um jovem. Mas, no decorrer do nosso “bate-papo”, queixou-se das condições precárias e instáveis dos seus negócios, cujas preocupações chagavam a lhe tirar o sono. Meditando sobre o angustioso problema do amigo, conclui que o “checape” não foi suficiente para as conclusões médicas, no complexo “alma e corpo”, somente o corpo foi observado, com exclusão da mente. A conclusão a que cheguei foi que a saúde perfeita é o completo sentimento de bem estar físico, mental e social e que, na posse desse sentimento é que o homem deve situar a sua existência para ser feliz. E o pior, quando em sua recalcitrância arrasta a outros ao sofrimento. É interessante como, às vezes, a Providência age quando a teimosia leva de vencida o bom senso e o amor ao corpo, o “santuário do espírito”. Conheci um casal de velhinhos em cujo lar a harmonia era perturbada pelo vício de beber, do esposo. Simpatias, conselhos dos amigos, orações, promessas, nada impedia as suas fugas costumeiras para os bares, de onde voltava “cercando frango”, sob os olhos impiedosos dos outros. Um dia, após uma de suas fugas, leva uma queda no quintal e fratura o fêmur. Retido ao leito por longos meses, perna encanada, ossatura desidratada, recuperação demorada, longe do vício, esqueceu-o, e, quando pode se locomover não mais saiu à rua. Ante a recalcitrância do velho, Deus, de maneira drástica, mas fácil, nos pareceu haver resolvido o problema. Naquele tempo não existia o remédio clássico do Dr.Darwin, o “chá de vergonha na cara”, que receitava caçoando, mas dava certo. Hoje, quando os anti-etílicos não conseguem fazer do alcoólatra um homem respeitável, a medicina usa a hipnose com reais resultados, nas dores, nas toxicomanias, nos alcoólatras e tabagistas. No tratamento pela hipnose surgem, às vezes, fatos interessantes como o que aconteceu em Elktron, no estado da Virgínia, EEUU. O pastor protestante Reverendo Carrol Jay, por causa de uma dor nas costas de sua esposa, Dolores Jay, hipnotizou-a; eu diria magnetizou-a, pois, para mim há diferença entre Hipnotismo e Magnetismo, mas isto é um outro assunto. Quando terminou seu trabalho, perguntou à esposa se ainda estava sentindo dores e ela respondeu: “Nein” (Não, em alemão). Imediatamente o pastor começou a gravar todas as respostas estranhas e em seguida levou as fitas a um professor de línguas que, ouvindo-as, declarou tratar-se do idioma alemão. Vários professores se interessaram pelo caso e, durante as entrevistas, a senhora Jay descreveu toda a sua vida como Gretchen Gottleib, morta aos 16 anos, em 1870 quando se ocultava em um bosque esperando pelo seu tio que tinha cavalos, para que fugissem de Ebeswalde, onde seu pai, burgomestre da cidade, estava encarcerado por ordem de Bismarck, por participar de distúrbios eclesiásticos. Descoberta pelos soldados foi ali morta. Bismarck procurava derrotar os católicos alemães, que se haviam convertido em força política. O professor Stevenson, psicólogo, e vários outros, consideram que as 18 fitas gravadas “são sinceras e honestas”, opinando que poderia se tratar de um caso de “reencarnação”. Durante um ano, Dolores Jay assumiu a personalidade de Gretchen. “Não acho que tenhamos feito algo mau”, disse o marido. “É um trabalho científico que agora tem de ser completado, sejam quais forem as conseqüências”. Sua esposa não fala o alemão e se submeteu aos detectores de mentiras, para isto comprovar. O marido, Rev° Carrol Jay pergunta: “É um poder divino que fala através dela?” O Rev° Johnny Hensley afirma que poderia tratar-se de uma força do outro mundo, a de Satanás. Como disse de início, é interessante como Deus age quando os recalcitrantes levam de vencida o bom senso, deturpando o verdadeiro sentido das palavras de Cristo: “Ninguém entrará no reino do Céu, sem renascer de novo” e para isso, como fez ao velhinho do casal, lança mão da “força de Satanás” para que o verdadeiro espírito do Seu pensamento surja aos olhos do mundo, sem distorções acomodatícias, em todo seu esplendor.



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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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