UMA GRANDE VIDA

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano IV, edição nº.196, de 01 a 11 de março de 1981.




UMA GRANDE VIDA

NELSON LORENA


Não passou despercebida para nós, como jamais aconteceria, o aniversário da morte, ou melhor, do desencarne, como nós espíritas dizemos, do grande e ilustre amigo, Agostinho Ramos. Dia 23 de fevereiro de 1979, após melindrosa operação a que fora submetido, sucumbia em São Paulo o nosso caro professor e amigo. Era um forte. Católico, apostólico romano, tornou-se um líder em defesa dos dogmas e postulados de sua crença. Conservador, intransigente em matéria de Fé, rompeu de vez com a ala progressista da Igreja. Orador nato e fluente, escritor, jornalista, poeta, historiador, tornou-se figura impar na cultura e na posse superlativa de todos estes dons. Discorria sobre um tema qualquer, sem nenhuma anotação, de improviso portanto, durante horas se preciso fosse, e tempos após seria capaz de reproduzir o mesmo tema, como pessoalmente o constatamos. Possuidor de uma espantosa capacidade retentiva de memória, era um prazer ouvir suas orações. Durante longos anos seguiu a linha rígida adotada pela sua Igreja, “como a única possuidora da Verdade”, segundo ele. Conservador, combatia o pensamento reformador da Igreja moderna. A introdução da música profana nos templos, a proibição da missa em latim, substituída pela língua de cada povo, o ecumenismo, revelado com a recepção no Vaticano da filha do ministro soviético e seu esposo e de ministros de outras religiões. O convite a pastores protestantes, feito por S.Santidade, para oficiarem missas nas igrejas romanas, as novas recomendações constantes da “Ordo Missae” de Paulo VI, principalmente quanto à hóstia dada à pessoa e não mais na boca, a exibição carnavalesca de préstitos nas procissões, onde, dizia ele, “se homenageia o Padroeiro com mulheres seminuas dançando em praça pública a peso de dinheiro”, levaram-no ao afastamento e a inconformadas censuras do ecumenismo; “Se estou com a verdade e dela convicto, por que pedir conselhos ao vizinho?” dizia ele. Sem se afastar da linha reta traçada pelos seus princípios, pela sua Fé, assim se manteve até o fim. E, nesse respeito recíproco, a consolidação da amizade e da tolerância, que o ecumenismo de nossas relações de amizade tornou eternas. Divergíamos em matéria de Fé, mas, jamais tivemos a pretensão de “tirar-lhe o rosário do pescoço”. E, na síntese desta modesta homenagem, os reflexos de uma grande vida.



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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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