LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano IV, edição nº.203, de 27 de abril a 03 de maio de 1981.
HOMENS DE POUCA FÉ
NELSON LORENA
A tempestade rugia e ameaçava a barca: “Salva-nos Senhor, que perecemos!” E Ele lhes disse “Por que temeis, homens de pouca fé?!” Mateus VIII – 25,26. Por ocasião da colocação dos painéis nos forros da Igreja de São Sebastião trouxe o Sr.Padre, de Aparecida, uma torre de madeira armada em forma de um paralelepípedo de base quadrada, com dois metros de lado por onze de altura. O carpinteiro incumbido de me ajudar, após experimentá-la declarou que ia abandonar o serviço porque a torre de madeira era uma ameaça a sua vida; não possuía segurança alguma, oscilava muito e poderia tombar a qualquer momento, a não ser que eu lhe sugerisse como lhe dar segurança precisa e assumisse a responsabilidade pelas conseqüências prováveis. Argumentei que os programas da festa da inauguração já haviam sido distribuídos à população e não mais seria possível voltarmos atrás ou adiarmos a festa. Resolvi imprimir-lhe pessoalmente a segurança necessária, ampliando o prolongamento da base com vigas pesadas e quatro rodas para sua mobilidade e, convictos da impossibilidade de acidentes, nós, carpinteiros, auxiliares e pintores, sem o menor receio, concluímos o que lá está. Há certas passagens em nossa vida que se prestam bem a conclusões filosóficas; esta é uma delas. Conclui que, quando estamos diante de uma verdade clara, sem nuances e que nos invade integralmente - no caso, a segurança da torre de madeira que fizemos - nenhum pronunciamento contrário a ela, e os houve, por mais respeitável que seja, poderá alterar a convicção que dela possuímos. Tenho assistido a uma série de fenômenos no “Fantástico” da TV Globo que, embora comuns para os estudiosos e observadores, vêm sendo considerados como “campanha sistemática” contra a Igreja. E isto porque acabo de ler um protesto dirigido ao Dr.Roberto Marinho, por alto dignitário do nosso clero, “em face à propaganda sistemática de idéias espíritas através do programa, com fatos duvidosos e interpretações equivocadas...” Principalmente uma razão justifica o protesto: o receio de que as conclusões tiradas pelas ovelhas de seu rebanho, possam tornar duvidosas e equivocadas as interpretações dos dogmas que lhes ensinaram. Uma outra razão, secundária, é a falsa convicção da Verdade que proclama, o que me parece estar bem secundado com a opinião do Cardeal Lepicier que em sua obra “O Mundo Invisível”, declara que “não é raro que essas respostas - dadas pelos espíritos dos mortos - venham lançar por terra, tudo o que até agora tenha sido acreditado universalmente”; não somente por Lepicier, mas também por Santo Agostinho: “Por que não atribuir todos esses fatos aos espíritos dos finados e acreditar que a Divina Providência faz, de tudo, uso acertado para instruir os homens, consolá-los e induzi-los ao Bem”? É evidente que a Verdade vem sendo tisnada desde que Joana D’Arc morreu queimada como herética, apóstata, demoníaca feiticeira e quatro séculos após, foi declarada Santa. Quando houve justiça? Ou injustiça? Quando condenada? Quando absolvida? O erro está evidenciado! A Fé na Verdade é, e sempre foi, dúbio, como constatamos nas palavras de S.Santidade, o papa Pio XII, ao falar pelo rádio para o Congresso Eucarístico de Boston: “A Igreja está ameaçada, não somente por fora, mas também pelas forças da debilidade e do declínio”. Ameaça esta cujo fundamento reside no evolutivo conceito da Verdade, modificado pelos fatos que aí estão em abundância, sob pesquisas e conclusões. Se possuímos Fé na indestrutibilidade da nau que nos conduz por que temer a tempestade, por maior que seja?
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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