MÃES! VALORES ETERNOS

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano V, edição nº.205, de 11 a 17 de maio de 1981.




MÃES! VALORES ETERNOS

NELSON LORENA



“Mãe, humana e divina que chora na alegria e sorri na desventura, transfundindo a dor e o prazer, por amor de um Amor...” (Maria Salomé). Por que escolhemos um dia para homenageá-la? Seu inconteste valor na formação do caráter do homem está a exigir homenagens e preitos de gratidão todos os dias, todas as horas, todos os instantes. Lutam as Mães pela paz no lar, na sociedade, no mundo enfim, neste mundo que a cada minuto que passa mais se arma para uma guerra nuclear, de destruição imprevisível. As Mães, por sua natureza pacifica e desprendida, aliada a sua modéstia, chegam a desconhecer o próprio valor e dele não fazerem uso para solucionar o, até agora insolúvel, problema do desarmamento bélico mundial. Mas, se algum dia, convictas de seu poderio moral unirem-se em todas as partes da Terra, poderão dizer aos fabricantes de guerras: ”Basta! Vivamos em paz, ou não teremos mais filhos; destruam-se as armas de extermínio ou o mundo morrerá dentro de cinqüenta anos!” A taxa demográfica do mundo decresce. As Mães preferem não mais procriar, a ver seus filhos como carne para canhões ou alvos para mísseis, diante da ameaça de uma guerra generalizada. Entretanto, há Mães e mães. Enquanto umas enfeixam nas mãos as rédeas da boa conduta e as alegrias do lar, outras, menos capazes, constroem a infelicidade da prole. É para todas as Mães que nosso pensamento se volta, pois é no lar que o caráter se forma. Clemente XIV, papa, dizia: ”Ser-se-á, tudo ou nada, conforme a educação recebida”. O Mestre educa pela palavra, as Mães pelo exemplo. Dizia um grego na antiguidade: ”Deixai vosso filho ser educado por um escravo; e em lugar de um escravo tereis dois”. Os exemplos exercem grande influência em nosso destino. O lar é o Reino sobre o qual a Mãe tem domínio completo. Seu contato com a prole é constante, enquanto os afazeres do Pai, necessários a manutenção da família furtam-lhe esta constância. Ele é a cabeça, mas a Mãe é o coração. Aquele dá a cultura, mas a Mãe dá o sentimento. Fabrício, pai do moço sensual de Cartago deu-lhe cultura; sua Mãe, Mônica, transformou-o no iluminado de Milão. Mère Letícia, mãe de Napoleão, ao ver seu filho nascer acidentalmente no sofá da sala, chorou desapontada; a trajetória gloriosa do corso, a extrema dedicação à família, fruto da educação recebida, encheram de orgulho e alegria a extraordinária Letícia. A grande Cornélia, mãe dos Gracos, enviuvou-se com onze filhos e uma filha. Educou-os com seu caráter viril, virtuoso e inteligência, inspirando-lhes o amor ao bem comum, a paixão pela glória e pelos grandes feitos. Seu valor como Mãe, perdura até os nossos dias! Embora suspeitos, não podemos deixar à margem, alguém de nossa família que se enviuvou com nove filhos e uma filha e que mesmo passando extremas dificuldades, educou-os com tal ternura e nobreza de sentimentos que a consideramos, a nossa Cornélia. Ama-os e é igualmente amada. Disse-nos há poucos dias que não teria medo de morrer, se este fato não trouxesse sofrimento para os filhos que a amam, a adoram e que são uns santos. Se a missão do Pai é nobre em nossa vida, a da Mãe é santificante. Reconheçamos pois as virtudes das Mães de nossa cidade dando, por exemplo, às ruas e praças os nomes olvidados de Carolina Motta, Zina Prado, Nina Mendes, América Marcondes, Geralda Cantanheide, Guilhermina Nascimento e tantas outras que construíram personalidades e caracteres que o tempo não destrói, ao invés dos nomes de pessoas, embora, inegavelmente boas, despidas do mérito de haverem contribuído de maneira relevante para o progresso de Cachoeira. É irrisório e injusto que, somente quatro por cento de nossas ruas ostentem seus nomes. Reparemos as injustiças enquanto é tempo.



*****


Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


Veja também:


NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE


A ARTE DE NELSON LORENA



*****

Nenhum comentário :