LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O DESAMOR E SUAS CONSEQUÊNCIAS
NELSON LORENA
Nos remotos tempos da antiguidade a humanidade, como até hoje, se comprazia na conquista elástica dos seus limites, objetivando o aumento de suas terras, de seus bens, de suas riquezas. A luta, travada com os precários recursos primitivos, se primava mais pelo corpo-a-corpo, onde os mais fortes e mais numerosos seriam sempre os vencedores. Com o decorrer do tempo, pelo menos essa ambição territorial decresceu. Os limites firmaram-se nos tratados, que deixaram de se constituir em farrapos de papel. Entretanto, o aumento indiscriminado da população, na razão inversa da produção alimentar, gerou a fome que mata milhões de pessoas por ano. Somente no nosso Brasil, morrem anualmente, cem mil crianças, entre zero a um ano de idade, de fome, de carência de tudo. Mas a ambição humana continua. Recursos sofisticados, desde armas modernas até a sonegação dos alimentos e os boicotes, são aplicados. A fera bípede que habita em nosso íntimo deixa seu salto de poucos metros e vai buscar na ponta de mísseis balísticos suas vítimas a milhares de quilômetros, espalhando fome e destruição, como meio de submissão. Variam os métodos, mas o objetivo é sempre o mesmo. Se, para a prosperidade e o poder for necessário o sacrifício a curto ou longo prazo de um povo, isto se fará. E, o nosso Brasil não escapa à regra. É o maior exportador de material bélico da América Latina, é o maior fabricante de álcool do mundo, está vendendo para os EEUU e o Oriente Médio milhares de botijas, ao preço de CR$ 840,00, da nossa cachaça “Nega Fulô”. Fabricou um trilhão de cigarros, e espalhou pelo povo uma carga de quatro toneladas de nicotina. Lamentável e triste realidade! Tivemos uma lição de cristandade na palavra conciliadora, apostólica mesmo, do Papa João quando aqui esteve e a massa humana lhe deu a impressão de que “a Igreja no Brasil é uma porta aberta para toda a humanidade”. Suas palavras tiveram a duração do som produzido por um tambor tocado, mas vazio por dentro. A traficância de tóxicos é um crime, um pecado, estimula a degeneração física e moral de um povo, mas os poderes públicos a praticam como fonte valiosa de seus rendimentos financeiros. A exploração, do homem pelo homem, continua como nos remotos tempos. “Homo homini lupus”, o homem é o lobo do homem e sua conseqüente miséria física, sua degeneração, se acentua com o aumento dos infelizes que se constata nas portas dos postos assistenciais, dos hospitais e Santas Casas. Se impossível por parte dos governos coibirem a produção e o consumo de tóxicos, intensifique-se a produção dos alimentos tornando-os ao alcance de qualquer bolsa, diminua-se o desemprego, estimulem-se com verbas dignas as entidades hospitalares e o seu corpo clínico. Onde há um homem que não trabalha, há outro morrendo de fome. Dizemos, nós espíritas, que o Brasil é a Pátria do Evangelho e o Coração do Mundo! Faz-se necessário que isto se confirme, que não seja indiferente aos que têm maiores responsabilidades o desfile de mendigos da saúde, às portas dos hospitais. Este o ponto, em que após delongas queríamos chegar. Nossa Santa Casa, para a qual desde nossa infância aprendemos a cooperar em quermesses e teatros, acha-se na iminência, ameaçada mesmo, de fechamento. A deficiência de recursos financeiros, a exigüidade das verbas que lhe são consignadas, o aumento dos enfermos como um reflexo da propaganda oficial dos vícios, da sua produção e consumo, a conseqüente queda da resistência orgânica do homem, muito principalmente nas crianças, exige de nossa Santa Casa uma atividade além das suas possibilidades. E neste sentido é que ela apela, e nós também, ao povo como expressão política que é, ao Sr.Prefeito, à Câmara, aos diretórios políticos e a todas as entidades do município, no sentido de uma aproximação aos governos Federal e do Estado para que tal coisa não aconteça, com prejuízo para todos nós.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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