COMO NASCEU O 1º DE MAIO

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VI, edição nº. 258, de 07 a 13 de junho de 1982.




COMO NASCEU O 1º DE MAIO

NELSON LORENA



Sempre considerei o Trabalho como força importante na formação do mundo e das coisas nele existentes, mas jamais dei-lhe tanto valor até que uma grande desventura arrastou-me à solidão. Um golpe cruel em meu destino aniquilou-me, a ponto de desprezar a própria razão da vida e de ser. Lutando contra uma situação desastrosa para meu destino e futuro dos filhos, procurei no trabalho uma experiência ou uma tentativa solucionadora para uma situação que não mais poderia se perpetuar. Resolvi trabalhar desesperadamente e, notando que enquanto por ele me esforçava reacendiam em mim o desejo de viver e a força necessária para esmagar meu desalento, continuei cada vez mais confiando no trabalho sem tréguas. Dediquei-me a múltiplas atividades para que, nas catorze horas de trabalho, idéias dispersivas não voltassem a povoar-me a mente, levando-me à solidão e à dor de um passado dorido. Após anos de luta, um esgotamento, mental e físico, fez-me compreender a necessidade de diminuir as horas de trabalho. Cheguei à conclusão de que oito horas de atividade são, normalmente, suficientes para que se construa o mundo em que vivemos, sem o sacrifício do valor do Homem. Mas, a conclusão a que cheguei por força de uma contingência dolorosa e moral, chegaram na década de 1880 os trabalhadores americanos pelo desgaste físico, pela exploração do homem pelo homem, nas doze horas diárias em que eram forçados a trabalhar. Houve uma reação contra a opressão patronal, comícios se generalizavam em defesa dos direitos da mulher operária e do trabalhador pelas oito horas de jornada. Em 1º de maio de 1886, em Chicago, houve manifestações e conseqüentes distúrbios, com feridos e mortos. No lançamento de uma bomba sobre os policiais, morreram seis. Como iremos ver nem sempre a Justiça, que é filha da Razão, se coaduna com o Direito. Por vezes outras, a Razão é deturpada por argumentos capciosos em benefício do mais forte, cuja fortaleza foi construída com o sangue do mais fraco. Em processo instaurado sobre os incidentes, líderes sindicais foram condenados à morte e a prisão. August Spies, Albert Parson, Samuel Filden, Adolph Fisher, Michael Schwab, Jorge Engel, Luiz Ling, Oscar Need, foram considerados culpados. Luiz Ling se suicidou na prisão; Schwab, Need e Filden, condenados a 15 anos de prisão. Os outros, à morte por enforcamento. No congresso realizado em Paris, em 1890, sob a égide do Operariado Internacional, reconhecidas as oito horas de trabalho, consagrou o dia 1º de maio como o dia do Trabalhador, data em que também se deu a chacina de Chicago em 1886. Foi feita a revisão do processo e julgados inocentes os indiciados. Os condenados a prisão, foram libertados; os mortos ainda sentem sobre suas cinzas o peso dessa terra que encobre os erros humanos, a injustiça da Justiça!

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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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