A HISTÓRIA SE REPETE

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VI, edição nº.253, de 01 a 09 de maio de 1982.




A HISTÓRIA SE REPETE

NELSON LORENA



Possuíamos uma grande amiga que passou pelo duro golpe de ver morrer três filhos na flor da idade, em dois anos consecutivos, sempre em outubro. Lincoln foi eleito em1860; Kennedy em 1960. O secretário de Lincoln chamava-se Kennedy; o de Kennedy, chamava-se Lincoln e, inúmeras outras coincidências na vida dos dois vultos históricos.... Nos fins do século 18, existia em nossa cidade o Porto da Cachoeira. Uma passagem que foi fechada pelo Conde de Assumar, por algum tempo, pelo abuso do contrabando de ouro vindo das Minas Gerais. Aberto o tráfego, mais tarde por ali passavam as tropas que vinham por Baependy com carregamento de fumo e se dirigiam ao Rio de Janeiro e, de retorno, traziam sal passando pela estrada que o INPE fechou. Decorridos duzentos anos, volta o lugar a ser aproveitado como porto, agora, de areia. A mão de um destino caprichoso e impenetrável fadou aquela barranca do velho Paraíba, fator inconteste de um progresso passado, a exercer ou continuar o seu destino como fator de progresso de uma cidade em marcha. É agora, o porto do Narinho. Em fins do século 18, lutava a América do Norte pela sua independência. Leis de arrocho criadas pela Inglaterra (como igualmente nos criam nossos “amigos” americanos) dificultavam o progresso das colônias, refreando sua auto suficiência, prevenindo uma futura autodeterminação e, conseqüente separação ou independência. Os produtos foram rigorosamente taxados, para que daí fosse conseguido o numerário para a reorganização do exercito inglês, esgotado com a guerra dos Sete Anos (Assim como nós aposentados, taxados para cobrir um débito que outros fizeram!). Os produtos, antes de receberem melhores ofertas em portos da França e Holanda, eram obrigados a passar primeiramente pelos portos da Inglaterra. O descontentamento aumentou o anseio de liberdade e independência. Anseio inato da alma humana que se nota em nossos filhos, quando engatinhando procuram a porta da rua. Os americanos vendiam seu melaço e seu Rum aos índios fugindo à opressão econômica. Sem armas sem nenhum preparo militar levantou-se o povo em guerra contra a Inglaterra. Anos infindos de luta, e a independência amadurecia. Assim como hoje, parte do Parlamento inglês se rebela contra certas medidas impostas à Argentina, há duzentos anos o grande e incorruptível William Pitt, após cindir-se com o governo declarava: “Os americanos nem sempre procederam com prudência; mas foram arrastados ao desatino pela injustiça. E haveis de puni-los por um desatino pelo qual vós sois os causadores?” Hoje como ontem, a Argentina em inferioridade militar se levanta contra a posse de parte de sua plataforma continental pela Inglaterra. E, se Pitt fosse ainda vivo, talvez repetisse para o governo inglês como há dois séculos: “Os argentinos agiram com imprudência”. Diplomaticamente, sem derramamento de sangue a questão poderia ser resolvida sem quebra da dignidade ; mas foram arrastados a isso pela injustiça. E haveis de puni-los por um desatino pelo qual vós sois os causadores? O bom senso prevalecerá, enquanto os bloqueados, continuarão devorando nas ilhas as 650 mil ovelhas com carne e lã, 120 mil búfalos para leite e churrasco e bebendo a boa água que as Malvinas possuem. Hoje, como ontem e como sempre, a História se repete no determinismo insondável do Destino.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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