LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano V, edição nº.229, de 26 de outubro a 01 de novembro de 1981.
O INTELIGENTE IAMATO TANAKA
NELSON LORENA
Por várias vezes vimos escrevendo sobre as características do povo japonês, quanto á sua tenacidade, seu amor próprio e vontade de vencer na vida. Como exemplo, já que a oportunidade se nos oferece, não seria demasiado falar sobre um tal de Iamato Tanaka, jovem de rara inteligência e elevado espírito criativo, que o levava a solucionar os problemas mais difíceis que lhe surgiam, ingressou numa das indústrias pesadas da ilha de Kiushun, no Japão, a pouca distância de Nagasaki, onde residiam seus velhos pais. A guerra, com todos os seus males que a besta humana deflagra, envolvia a Terra e, um dia, Nagasaki é destruída por uma bomba atômica: cerca de cem mil pessoas foram dizimadas. Desaparece no torvelinho das paixões e dos ódios, a família de Iamato. Somente ele salvou-se porque estava em Kagoshima a duzentos quilômetros. Restabelecida a Paz, emigra para o Brasil, a terra da promissão. Adquire um sítio na baixada fluminense, dedicando-se ao cultivo da laranja. Um dia consertou um rádio de um patrício, uma máquina de costura de um vizinho. Sua fama se estendeu, Iamato tudo fazia, e até remédio dava para certas moléstias. Tudo lhe parecia tão fácil e, invariavelmente, aos problemas que se lhe apresentavam dizia: “Japão dá um jeito”, e dava mesmo. “Japão, meu distribuidor está com defeito”, lhe diziam, e ele: “manda que Japão dá um jeito”. “Japão meu relógio não desperta.” “Manda em casa que Japão dá um jeito”. Sua plantação de laranjas, tornou-se a mais bela da região; ninguém a superava em qualidade e tamanho. A concorrência entre negociantes é gerada quase sempre por um disfarçado despeito. Seu vizinho, também citricultor, por inveja, desconhecia o processo usado pelo japonês em sua cultura. Mas, o que a inveja e o despeito não fazem quando o porco não consegue levantar a cabeça para ver o vôo da águia? Sua pátria foi arrasada porque seu progresso fê-la liderar, política e economicamente, o Oriente. Ele pressentia isto, sentindo que mais cedo ou mais tarde, prudentemente teria que se mudar fugindo à inimizade do vizinho. Fracassado economicamente, o brasileiro tinha inveja até da saúde e vitalidade dos robustos e ativos filhos do japonês, sentimento este agravado pelo fato de, casado há oito anos, não possuir nenhum. Sabendo que o filho do Sol Nascente até moléstias curava e “dava jeito em tudo”, pede para um amigo que não suspeitava da rivalidade existente entre ambos, conseguir um remédio para que sua esposa viesse a conceber. E assim, o amigo foi ao japonês Iamato e pediu-lhe a opinião e o tratamento, se possível, para remover a esterilidade da esposa do amigo. Ouvindo o caso, lhe diz: “traz ou manda a mulher aqui, que Japão dá um jeito”. Pois sabem? Deu mesmo. Nove luas se passaram, duzentos e cinqüenta e dois dias justamente, nasceu o filhinho tão desejado. Mas a felicidade do “pai” durou pouco. O garoto possuía pele amarelecida, face zigomática e olhinhos rasgados, típicos dos risonhos filhos do País do Sol. Em menos de uma semana, Iamato Tanaka e família sumiram, após uma surra tremenda em tocaia preparada. Desta vez, foi brasileiro que “deu um jeito.”
Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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