LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas, escritas entre 1977 e 1990, sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, entre outros. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano V, edição nº.228, de 19 a 25 de outubro de 1981.
O MONUMENTO DO FUTURO
NELSON LORENA
Se observarmos a configuração física do homem e da mulher, do tórax ao quadril e, se dela fizermos um diagrama, notaremos a figura geométrica de dois triângulos invertidos. O tórax masculino se estreita para o quadril e o feminino para o quadril se alarga. A cintura torácica da mulher é mais estreita que a do homem, mas sua bacia e cavidade abdominal são mais amplas, o que consiste numa sábia providência da natureza na função procriadora feminina. O fêmur da mulher é, normalmente, mais curto do que o do homem. Isto lhe aumenta o esforço, que ao homem não é tão exigido, para sustentar o peso do corpo, aumentando-lhe a força e resistência dos músculos, necessários à expulsão do feto. Os egípcios fizeram da mulher o símbolo da Verdade e da Justiça. Conhecemos um pensamento de Sholen Asch, assim: ”Um acontecimento é a semente lançada no Tempo; a semente deteriora-se e morre; o que dela germina, é a Verdade, pois, está escrito, da terra brotará a Verdade”. Verdade, Justiça, Fecundidade e Progresso, acrescentamos, dos quais a mulher é fonte. Talvez que, desta dedução filosófica haja nascido a idéia da construção das pirâmides, no esquema do gráfico anatômico feminino. Da terra e da mulher, nascem os frutos dos quais as civilizações necessitam para seu progresso. Frutos que, enquanto uns saboreiam a polpa, outros comem as cascas. Se nossos ouvidos pudessem atravessar os blocos monolíticos que representam o poderio de uma civilização extinta e se nossas vistas devassassem o seu interior, possivelmente ouviríamos e veríamos os lamentos e os fantasmas em suas imprecações, sacrificados que foram no trabalho escravo, para a glória dos Faraós. Muitos morreram esmagados sob os colossais blocos de pedra ou asfixiados na lama, pisados pelos próprios companheiros, onde, nus da cintura para baixo, preparavam num incessante trabalho de amassamento do barro, os tijolos para os monumentos. A humanidade atual é, por analogia, uma pirâmide, ou melhor, um cone, onde a Verdade e a Justiça é aquilo que serve aos mais fortes. A fecundidade da terra e os bens que dela derivam são prerrogativas de uns em detrimento de muitos; e assim, deturpada em sua estrutura mais do que nunca, a forma piramidal ou cônica persiste minada pela corrupção e pela injustiça decorrentes do desamor fraterno, do agonizante sentimento cristão. No vértice desse impróprio monumento do progresso, encontramos os poderes constituídos e, num descendo gradativo, a aristocracia, os plutocratas, os grandes industriais, depois a classe media e, na base os alicerces, suportando todo o peso nos ombros, como um eterno Atlas, a massa proletária que aluga sua força, sua pujança, por um salário de fome, sustendo a estabilidade do bloco social moderno. As contingências do mundo atual, onde a sede de poder e o egoísmo esgotaram a economia dos povos, a inflação e o desemprego ameaçam a estrutura do sólido capitalista. Notam-se primeiras rachaduras... O cupim da desigualdade social precipitará sua destruição, mercê do desemprego, fome e miséria conseqüentes. Que se diminuam os lucros exagerados e que se dê ao braço construtor a dignidade que lhe é devida. Nos mausoléus ou nas covas rasas repousam, em igualdade de condições, o explorador e o explorado. Após o Armagedon apocalíptico que os povos “religiosos” ameaçam deflagrar e que infalivelmente virá, o verdadeiro monumento do progresso da humanidade se assentará na revivência do puro sentimento cristão dos primeiros dias, em que “Todos criam, eram unidos e tinham tudo em comum; o coração era um e a alma una; nenhum dizia que alguma coisa que possuía era sua própria, mas tudo entre eles era comum; repartia-se a cada um conforme a sua necessidade”.
Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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