LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VI, edição nº.298, de 25 a 30 de abril de 1983.
APÓS O TOMBAMENTO, UM OUTRO TOMBAMENTO.
NELSON LORENA
Antes de entrarmos no assunto, motivo desta crônica, enunciaremos alguns dados históricos que o antecederam. Em 9 de fevereiro de 1855, foi celebrado com Edward Price, contrato para a construção do trecho ferroviário entre Rio de Janeiro e Belém, ou seja, a primeira secção. Em 20 de abril de 1858, com a firma Robert Harvey & Co, o trecho de Belém até Rodeio, hoje Paulo de Frontin. Em 29 de maio de 1858, foi inaugurado o trecho do Rio até Queimados, um percurso de oito léguas. Em 8 de novembro, foi concluído o trecho de Belém a Rodeio. Em 9 de agosto de 1885, de Rodeio a Barra do Pirai. A estrada possuía oito locomotivas com os nomes: Imperador, Imperatriz, Paulista, Mineira, Fluminense, Brasil, Progresso e Indústria. Edward Price empreitou o trecho de Barra do Pirai até Cachoeira. As estações, de Barra do Pirai até Cachoeira, vieram a ser inauguradas sucessivamente, em datas que em outro artigo já assinalamos. Em 20 de julho de 1875, inaugurou-se a estação provisória de Cachoeira, no lugar conhecido como “Mão Fria” na margem esquerda do Paraíba, com a presença de SM Dom Pedro II. Em 7 de julho de 1877, deu-se a inauguração da atual estação no ramal de São Paulo, bem assim da E.F.Central do Brasil conforme o decreto de 4 de novembro de 1840. Considerada a maior obra do ramal, suas instalações deveriam satisfazer as necessidades da evasão dos produtos da lavoura do Vale, principalmente do café. Era o Vale, o grande produtor da maior riqueza do Brasil. Os armazéns eram abarrotados com os produtos agrícolas e nossa Cachoeira progredia em ritmo acelerado. Os anos se sucedem; o café muda-se para o Leste e mata o Vale. Cachoeira sente o efeito. Seu progresso acelerado tornou-se lento, como os passos do homem velho. Ficou a nossa Estação; um marco a relembrar um passado onde cinqüenta trens circulavam diariamente, cujos salões receberam SM Dom Pedro II em festiva homenagem e, igualmente em 1922, SSMM os reis da Bélgica aos acordes de “La Brabançone”, o hino belga, tocado pela “furiosa” de meu “extraordinário Pai”.
Recebeu o autor destas linhas, da prefeita dona Édila, um pedido para lhe dar elementos históricos para pleitear o tombamento de nossa Estação, monumento de uma época de fastígio e declínio; e que não o conseguiu, segundo nos disse, por ser ela um patrimônio federal. Posteriormente, novos dados foram-nos solicitados pela administração passada e o Tombamento foi conseguido, graças a uma oportunidade que o jogo político favoreceu, assim nos parece. Em abril de 1982, entre festas, foi oficialmente efetivado seu tombamento pelo Condephat. Um ano já se passou, e o tempo e o descaso continuam a solapar sua estrutura, já quase em ruínas. Para o demagógico tombamento parte de sua fachada foi caiada, para mascarar seu aspecto de velha desprezada. As ameias sem o devido revestimento ameaçam cair, com possibilidades de acidentes pessoais, devido ao seu excessivo peso. Soalhos apodrecidos impedem o acesso aos torreões, de onde o turista poderia admirar a beleza da paisagem do lado do Paraíba. Paredes descobertas, revestimento precário, abandono completo, estão a exigir maior atenção dos poderes públicos. Eis aí a imagem, que nada mais reflete do seu apogeu, da sua magnitude, da sua razão de ser. O tombamento passou. O povo, vulgar e pouco versado no vernáculo comentou infantilmente, censurando-o, “uma medida drástica e absurda, a derrubada do prédio". Vaticínio, ignorância, sabe-se lá! Mas nos parece que se fará mesmo este “tombamento”, se os responsáveis forem omissos.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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