ASPECTOS DO MUNDO ATUAL

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.304, de 30 de maio a 05 de junho de 1983.




ASPECTOS DO MUNDO ATUAL

NELSON LORENA



É interessante observar como certas palavras se modificam sob a influência dos costumes. Vimos observando o uso do substantivo “gente”, como pronome e suas variações pronominais, em sentido indeterminado. Na televisão, muito especialmente em novelas, os pronomes Eu, Ele e Nós, são raramente usados. Este hábito já penetrou pelas portas de nossas casas, nos salões na sociedade enfim. Mandei meu filho pequeno recolher uns bambus que cortei, o que fez, me dizendo; “Pai a gente já trouxemos os bambus”. Aceitei o sentido mas detestei a forma. Às vezes o sujeito fica indeterminado quando se diz: "a gente sofre; amanhã a gente se vê; hoje a gente fez"; o que pode ser Eu, Ele ou Nós. Em minha vida profissional na Central era comum, entre o pessoal da Tração, compararem-se os acidentes humanos com os da profissão. Quando alguém cometia um deslize diziam; “Fulano foi apanhado fora do marco.” Quando uma donzela era violentada diziam que “arriou o bujão”. Quando um indivíduo morria, “Puxou fogo à porta”. “Tem calo na roda”, quando alguém claudicava de uma perna. O interessante é que, às vezes, a gíria se estende além do âmbito, para o meio. Para o dono da empresa funerária, caixa de defunto é “pijama de madeira”. Já para o marginal, morte é “alívio de alça”. Entre estes, há até um dicionário em que, medroso é “Alcides”, “Estácio” é covarde, “Alfafa” é maconha, “Alívio” é habeas-corpus, “Baba” é dinheiro, “babilaque” é documento falso para aplicar golpes. “Encosto” é amante, “Encapado” é gago, “Lambari” é sabido, esperto, “Tutuca” é fuzilaria. Ninguém alheio ao meio entende a linguagem dos marginais. Tiramos de Ariel Tacla estas falas interessantes ao assunto; “Te manca, num manda essa loca que a jumenta dele tá morando na jogada”, que assim se traduz: Não roube esse policial que a mulher dele está percebendo. “Solta essa grinfa que Dona Laura tá na boca de carango”. Tradução: Solta essa mulher que a polícia está rondando de automóvel. “Vamo mandá esse trouxa que o coringa tá marcando de culatra”. Tradução: Vamos roubar a carteira desse indivíduo que ela está visível no bolso traseiro da calça. “Desengome a culatra esquerda daquele otário que eu vô mandá ele de passage.” Desabotoe o bolso esquerdo da calça daquele sujeito que eu vou roubar-lhe a carteira, de passagem. São frases e termos que nos mostram a influência da Lei da transformação, que em tudo se manifesta, quer nas letras, nas artes, nos costumes, em tudo enfim!


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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