LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.302, de 23 a 29 de maio de 1983.
COMO ACABAR COM A POBREZA
NELSON LORENA
Diz um provérbio popular: “Para grandes males, grandes remédios”. Evidentemente, para contorná-los lançamos mão de qualquer um, seja ou não atentatório à moral, à lei, aos costumes, ao bom senso. Houve certa época na China em que se pretendia erradicar a tuberculose, matando-se o enfermo. Eliminava-se o efeito, mas a causa persistia. Dizem que os primitivos índios da América do Norte, quando desejavam saborear os frutos de certas árvores, derrubavam-nas, medidas práticas, mas estúpidas, desumanas. Existia um país neste mundo de Deus, onde era não sei, em que a fome, este flagelo que também nos bate à porta, grassava aterradoramente. Os magos das finanças, como também aqui os há, reuniram-se para discutir o magno problema e as medidas contensivas para o mal. A mortandade crescia na razão inversa da natalidade, prenunciando a morte de uma nação. Urgia acabar com a pobreza. Resolveram os ministros e planejadores convocar “democraticamente” a pobreza em geral, afim de ouvi-la e levar em conta sua opinião. A pretexto de manutenção da ordem, compareceu a Polícia. Sem conseguir solução para o grande problema, mandou o governo fuzilar todos os pobres, acabando assim a pobreza. Para grandes males, grandes remédios!
Nosso Brasil, religioso por excelência, “coração do mundo, pátria do Evangelho”, segundo uma expressão de SS Carol Wojtila, ou melhor, o papa João Paulo II, “uma igreja aberta, como abertas as portas de nossos corações”, está procurando resolver o grave problema da fome dos humanos, ou melhor, mais “divinos”, em ritmo menos apressado, mas sensível. Há três anos, quando nossa inflação era de quarenta por cento, dizia-se na Europa pelo "The Financial Times” de Londres que, quarenta milhões de brasileiros vegetavam no ranço da miséria absoluta, que de cada três crianças uma era abandonada, que de cada três bebês, um não chegava a um ano de vida e outras mais contundentes críticas humilhantes, manchado de opróbrio e vergonha a terra de Santa Cruz. Era preciso acabar com essa mancha, essa imagem vergonhosa que os nossos pobres apresentavam lá fora! Que fazer? A solução é esta: salário de fome para os quarenta milhões de nossos pobres; salário que mal dá pra feijão, arroz, açúcar e pão, excluindo-se, remédios, leite, ovos, carne, manteiga, café, vegetais e verduras, roupa, calçado, escola, etc.. A subnutrição daí decorrente, gerando raquitismo e enfermidades várias, o estiolamento da vida, a longo prazo apagará essa mancha vergonhosa que enegrece a nação. Isso reconhecem aqueles que percebendo dois milhões por mês, ou mais ainda, desgovernam a Pátria! Apresentamos as medidas acauteladoras de nosso “prestígio”. Não vamos fazer como o índio americano, nem como o chinês ao enfermo, nem como o governo do país, sei lá de onde! A morte fará o resto!
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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