LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.302, de 16 a 22 de maio de 1983.
OS SANTOS QUE NÃO TIVERAM MÃES
NELSON LORENA
O nosso relacionamento com o próximo difere, de indivíduo a indivíduo, de acordo com a maior ou menor centelha de Amor, de Céu que exista em nossa alma. Há criaturas que nos inspiram simpatia, logo à primeira vista; outras, porém, demonstram-nos por outro lado, frieza, desinteresse, ausência mesmo de espírito fraternal, que de alguma forma nos impõe a educação cristã. Certos valores chegam a ser subestimados por inveja, despeito ou por natural espírito critico e sistemático, mesmo por aqueles que, sob o manto translúcido da hipocrisia deista, ocultam as faces da falsa religiosidade. Encontramos em nossos alfarrábios uma série interminável de indivíduos dessa espécie, que para a maldade e o insulto escolheram por alvo a Mulher. Fugindo um pouco ao tema focalizaremos somente Salomão, o mais sábio entre os reis bíblicos. Amou apaixonadamente, com amor ardentíssimo, suas setenta mulheres e trezentas concubinas e, no seu afamado Templo declarou: “A mulher é mais amargosa que a morte, é laço de caçadores, seu coração; rede, suas mãos; cadeias. Entre mil homens achei um, entre mil mulheres nem uma”. E quanto aos Santos? São inacreditáveis as blasfêmias a elas dirigidas. São da Mãe Terra, surgem e constituem nossa existência; é do ventre da Mulher que nascem os maiores tesouros que possuímos: nossos filhos. Tiveram Mães aqueles que, considerados como Santos, tripudiaram sobre a memória da Virgem de Nazareth ao dizerem como S.João Crisóstomo teria dito: “De todas as bestas ferozes, nenhuma é tão perigosa como a mulher”. Como S.Bernardo: “Que peste soberana é a mulher. Dardo agudo do demônio. Pela mulher o Diabo venceu Adão e fê-lo perder o Paraíso”. Como Santo Antonio: “Cabeça do crime, arma do Diabo; nem mesmo uma besta feroz, mas o Diabo em pessoa”. Como S.João de Damasco: “Filha da mentira, sentinela avançada do Inferno, e que expulsou Adão do Paraíso”. Como S.Paulo: “O homem não é da mulher, mas a mulher é do homem; não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem”. Como S.Boaventura: “Toda malicia é pequena ao pé da mulher”. Como S.Gregório; “Uma mulher boa, é mais difícil se achar do que um corvo branco”. Como Santo Eloy: “Seremos tanto mais perfeitos quanto mais nos abstivermos da mulher”. Como S.Cipriano: “As mulheres são demônios que nos fazem entrar no Inferno pela porta do Paraíso. O primeiro pensamento de uma mulher casada é fazer-se viúva.” Não tiveram mães esses Santos? Será que eles, às vezes, por estímulos e circunstâncias várias deixam empalidecer a auréola de santidade que os envolvem e, como nós mesmos, mostram a outra face do homem? Não se entristeçam as mulheres. Para nós, sois a obra mais perfeita de Deus, criada para a missão mais nobre. Sobre vós, eis o que diz Diderot, o maior filósofo do século XVIII: “Quando se escreve sobre mulheres, preciso é molhar a pena no arco-íris e deitar sobre as linhas a poeira das asas das borboletas. É necessário que delas caiam pérolas, como da pata do cão peregrino de cada vez que a sacode”.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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