COINCIDÊNCIAS

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.313, de 01 a 08 de agosto de 1983.




COINCIDÊNCIAS

NELSON LORENA



“Tudo tem o seu tempo determinado, há tempo para todo propósito debaixo do céu, há tempo de nascer e tempo de morrer... Deus fará renovar-se o que se passou”, assim fala o Eclesiastes. A história nos aponta fatos que, periodicamente se repetem, com características análogas e que comumente atribuímos a meras “coincidências”. Para tudo há uma razão. Pitágoras tinha motivos para afirmar que a ordem dos acontecimentos no mundo estava numericamente estabelecida. Que a harmonia, no nosso lar ou fora dele, no mundo em que vivemos ou fora dele, tem seu fundamento na conciliação dos opostos; o complexo macho-fêmea, óvulo e espermatozóide tolerância e renúncia. Pitágoras aponta os números pares e impares como opostos e afirma que a harmonia das leis que regem o Universo se subordinam a expressões matemáticas. Há tempo para tudo e ele se mede por números. Há dias, alguém me perguntou como achar Deus. Respondi-lhe: Faça seu pensamento indagador percorrer o caminho precioso, marcando seus passos pela seqüência numérica ordinária e, ao fim do último, O encontrará. Dissemos acima, repetindo o Eclesiastes: “Deus fará renovar-se o que se passou”. E, como incapaz de negar ou confirmar a filosofia pitagórica, resta-me a liberdade de apontar aos leitores, curiosos fatos ou, como queiram, simples coincidências verificadas muitos séculos após sua morte. Há poucos dias, passamos pela dor de perdermos três pessoas a nós ligadas por laços de parentesco e de coração, em acidentes de motocicleta, todas com o crânio estourado numa sexta-feira. Em maio do ano de 964 da era cristã, foi assassinado o Papa João XII e em maio de 1981, tentaram assassinar João XXIII; as datas assinaladas, em seus algarismos, somam 19. No mesmo mês de maio, na França no ano de 1358, deu-se uma das mais sangrentas revoluções. Continuando, em maio de 1430, Joana D’Arc é aprisionada; em maio de 1431, queimada viva como herege; Henrique IV é assassinado em maio; o regime do Terror começou em maio. Voltaire morreu em maio, assim como Victor Hugo e Luis XV. Em maio de 1871, a Alemanha derrota a França; em maio de 1932, o seu presidente, Dumer é assassinado e nesse mesmo mês, em 1934, cai o governo francês. Continua Deus a renovar “o que se passou”; o rei Carlos X da França tinha um filho, o duque de Berry, que desposou uma princesa estrangeira e morreu de morte violenta, assassinado no dia 13 de fevereiro de 1820. Carlos X quis abdicar em favor de seu neto, que já em 1830 contava 10 anos. Era tarde demais; a revolução de 1830, que dura três dias, estava vitoriosa e ele, perdendo o trono aos 74 anos, partiu para a Inglaterra onde morreu exilado. O rei Luis Felipe que lhe sucedeu ao trono tinha um filho, que desposou uma princesa estrangeira e morreu de morte violenta, também num dia 13 de julho de 1842. Mais tarde, Luis Felipe quis abdicar em favor de seu neto de 10 anos, mas, declaram-lhe que era muito tarde. A revolução de 1848, que durará três dias, estava vitoriosa. E, Luis Felipe, perdendo o trono aos 74 anos, recolheu-se à Inglaterra, onde morreu exilado. No relógio do Tempo, renovam-se os homens, repetem-se os minutos, as horas, os dias, os anos, a vida, nas mãos Daquele que renova o que se passou. “O que é, o que já foi e o que há de ser, também”.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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