ENTRE OS MAIORES, O MAIOR

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.312, de 25 a 31 de julho de 1983.




ENTRE OS MAIORES, O MAIOR

NELSON LORENA



Ontem, após longos anos passei pela rua em que, noite de luar minhas mãos enlaçadas nas tuas, fazíamos ternas juras de amor. Cada porta, cada janela, qualquer detalhe escondia uma história revivida em recordações, cheias de saudades, prenhe de emoções. Um passado de felicidade que na esteira do tempo passou, é perfume que na eternidade nós sempre sentimos, jamais se evolou. Meditando sobre tudo que marca minha vida, nos meus passos já na última década de meus dias, embora com saúde e disposição para ver pela segunda vez o cometa Halley em abril de 85, resolvi dar uma arrumação no meu “baú”, eliminando algumas coisas e conservando as úteis à posteridade. Possuímos, aliás como toda gente, documentação moral, cultural, rememorativa, que se misturam entre lágrimas e alegrias, retratos da infância dos entes que nos embalaram nos cantos de acalanto. Foi assim que encontrei um opúsculo da palestra proferida pelo Agostinho Ramos, em 1º de maio de 1976, na Academia Paulista de Letras, a mim dedicado: “Ao sempre estimado Nelson Lorena, esta lembrança do velho amigo Agostinho Ramos”.
O tema era: João Alves Rubião Junior, Pedro Luis Pereira de Souza. O engenheiro Ivo Leal Pereira de Souza gravou a palestra, dizendo: “Parece incrível como o Senhor, de improviso sem ter em mãos anotação sequer, tenha falado fluentemente quase uma hora.” Assim o Engº Ivo, dificilmente concebeu como a mente do Agostinho pode gravar datas, nomes, detalhes, gerações dos focalizados, ilustrando ainda a palestra com dados históricos e políticos. Entre os documentos havia e conservo “O Cachoeirense” com as epigrafes: “Morreu o Professor Agostinho Ramos, às 0 horas e quarenta e minutos de 23 de fevereiro de 1979” e “Carta a um Morto”. Relendo esta última encontrei ali o tipo do super-homem, o gigante da nossa intelectualidade...mas o homem vale pelo que sabe. Não será necessário que me contem, pois, eu sei que quando os dedicados médicos cruzaram os braços e as fibrilações ventriculares, incapazes de irrigar a maravilha de seu cérebro ditaram “o fim”, você se ergueu, olhou desdenhosamente aquela roupagem em decomposição, rompeu os grilhões e, qual novo cavalheiro Bayard, “sens peur, sens reproche”, bradou impetuoso como nos tempos idos do seu ardor político: “O mors! Ubi est Victoria tua?” Não foi mesmo assim? Você, caro amigo, criou no íntimo de sua fecundidade intelectual um tipo de superconsciência, próximo do gênio...
Agora, Agostinho irá sentir sempre o sopro ameno e balsâmico da brisa que emana dos Campos Elíseos e, ali, na doce solitude quebrada somente pelas águas murmurantes do Lethes, cantará seus poemas, seus versos, para as flores e os pássaros, para a Paz que lhe rodeia. São recordações “cheias de saudade, prenhes de emoções” que meu baú guardará para sempre do Maior entre os maiores.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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