FRAGMENTOS DA VIDA

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.316, de 23 a 28 de agosto de 1983.




FRAGMENTOS DA VIDA

NELSON LORENA



O Universo é um organismo, e, os astros que o compõem se assemelham a células que obedecem às mesmas leis que regem os seres organizados. Os inúmeros aspectos da vida, os núcleos sociais nas várias atividades do homem, caracterizam-se pela afinidade de pensamentos que se exteriorizando emitem radiações magnéticas captadas por pensamentos afins. Assim, quando iniciamos um empreendimento de alto valor filantrópico ou outro qualquer que objetive um bem coletivo, nosso pensamento como força criadora, imantado pelo amor à causa, é emitido e recebido por todos os que, por afinidade de sentimentos, fortalecendo a iniciativa concretizam sua realização. De um modo geral, o fato assim acontece. Então, a idéia cresce em potencial e se concretiza, e um novo e pequeno universo nasce formado por células que se movem harmonicamente. Acontece por vezes, como em nosso corpo somático, que uma das células modifica sua estrutura mental e cria obstáculos à vida normal do pequeno universo nascente, tornando-se indesejável. Como na antiga Grécia, o ostracismo se impõe, isolando-se o indesejável por modo próprio ou por imposição da maioria. Ou morre a célula espúria, ou a vida se fragmenta. Sabemos que um órgão separado do corpo tende a morrer. Mas, se o submetem a cuidados especiais ele continuara a viver, quer seja o órgão de um ser vivo ou o de uma organização social. Se retirarmos o coração de uma rã, por exemplo, ela morrerá, mas se o mergulharmos em água à qual foi adicionada uma porção exata de cloreto de sódio (sal de cozinha) e outros sais, o coração da rã continuará a viver e pulsar por muito tempo; isto é o que a ciência afirma. Sabemos que os planetas são células fragmentadas dos sóis no Universo em que vivemos. Sabemos também de criaturas que foram banidas de organizações, com finalidades até santificantes, e que longe de morrerem no ostracismo que lhes impuseram, encheram-se de amor próprio, criaram condições especiais para sua sobrevivência e, tal como o coração da rã no sal de cozinha, elas permanecem vivas criando um novo universo maior do que aquele do qual foram afastadas. A vida pode ser fragmentada e não se extinguir, mas para isso exige a fibra do caráter.


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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


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