LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.315, de 15 a 21 de agosto de 1983.
O ESQUILO E O BEIJA-FLOR
NELSON LORENA
Andava pelos campos a roer amêndoas um esquilo, quando suas vistas se dirigiram para um beija-flor, que procurava nos cálices das flores beber o orvalho que a noite fria neles depositara. Em vôo rápido, avançava e recuava com extrema facilidade, deslocando-se de flor em flor com elegância e incrível velocidade, o que causou inveja ao esquilo. Quis ele também, voar como o beija-flor e a este pede para ensinar-lhe. Parou o beija-flor por instantes de voar e, de um galho rasteiro ao qual pousou, disse ao esquilo: “Basta saltar da árvore e bater as asas em alta velocidade”. O esquilo, que assim fez ao galgar um galho, esborrachou-se no chão na primeira tentativa. O beija-flor, enxugando as penas úmidas o repreende, dizendo-lhe: “Ensinei-lhe o princípio correto; o modo de aplicá-lo não é mais problema meu”.
Há fatos, aos quais se prendem certas passagens de nossa vida. Quando da fundação de nossa Academia de Letras e Artes, houve justa euforia e a cidade demonstrou que possuía valores capazes de justificar sua criação. Era preciso tirá-la do marasmo, da letargia intelectual e social que caracteriza sua vida. Mas, infelizmente, com a mudança de alguns de seus membros para outras cidades e agravada a situação pela incapacidade administrativa de alguns de seus diretores, despidos dos sentimentos de bairrismo, do orgulho sadio que muitas vezes se transforma em forças criadoras, apressou-se a sua extinção. Entre os seus membros, houve um que foi aceito não pela sua capacidade intelectual, primária que é, mas sim pelo acendrado amor que dedica à sua terra, pela sua boa vontade e sinceras intenções. Na fase mais promissora de sua atividade, a Academia realizou um debate sobre a Reencarnação que levou ao auditório grande massa de culta assistência, em grande parte de outras cidades. Estranho foi que os mais capazes defensores do tema não tivessem empunhado as rédeas dos postulados que aceitamos, cuja tarefa caiu em nossas mãos. Resolvemos, motivados pelo “bem servir”, subir ao galho como o esquilo da fábula, enquanto o beija-flor continuava a voar. “Fraco, fraquíssimo.”, foi como um nosso confrade classificou o debate, onde o auditório procurava salvá-lo esclarecendo alguns pontos mais obscuros da polêmica. E o esquilo mais uma vez esborrachou-se. Aprendeu o princípio correto, mas o modo de aplicá-lo, os beija-flores da nossa intelectualidade não o ensinaram. Seu mérito constitui somente na coragem, na abnegação e na alegria de fazer algo pela terra que o viu nascer.
*****
Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
Veja também:
NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE
A ARTE DE NELSON LORENA
*****
Nenhum comentário :
Postar um comentário