LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.306, de 13 a 19 de junho de 1983.
HARMONIA PARA UM MUNDO MELHOR
NELSON LORENA
Em nossa mocidade, indiferente aos problemas que a sua observação leva à meditação filosófica dos fatos, achava, contudo, engraçado como na Banda de Música de meu extraordinário Pai, a disparidade de caracteres entre os seus músicos e temperamentos muitas vezes contraditórios, até mesmo agressivos, poderiam manter a excelência e a beleza na execução de suas maravilhosas composições. Nas ruas, nas praças, nos coretos, todos eram iguais. Como um só bloco, somente um objetivo nos impelia e nos movia, era o da perfeita execução das obras, que o talento do mais fecundo compositor musical do Vale, meu Pai, produzia! Na Música, a Harmonia é um conjunto de qualidades que faz qualquer coisa agradável aos ouvidos. Não são as qualidades ou as virtudes morais dos executantes que estão em juízo, mas sim, aquilo que sua parte produz. Era isso justamente que os nossos músicos faziam, sem que sua roupagem humana fosse observada. Hoje, como fruto de meus longos anos de existência e das observações deles decorrentes, compreendo que a arte, como todo progresso material humano, também se fixa em elementos contraditórios. Na violência do fogo e na maleabilidade do ferro se tempera o aço, no amalgama de areia, ferro, cimento e terra, fazem-se os grandes monumentos; a fortaleza do homem se revela na luta contra a adversidade. No Universo, tudo é harmonia tudo é obra divina. “As revelações do Céu reclamam bases para se fixarem na Terra”. Aparentemente, a areia do fundo dos rios, as pedras despertadas de seu repouso milenar e o barro beneficiado, não possuiriam valor, se o homem não os colocasse na escala harmônica da música do progresso. A paz, como a Harmonia entre nós, dependem, como necessárias ao equilíbrio social, da tolerância recíproca, a despeito da diversidade de temperamento, índoles, caracteres e posições sociais. Em todos os instantes da convivência humana não se pode prescindir do amor ao próximo. Os que aparentemente caminham na senda reta do Bem, devem dar as mãos aos que transitam titubeantes nas curvas dolorosas do desregramento. “Ninguém recolherá água pura de um poço, trazendo à tona o lodo que trouxe do fundo”. Devemos sempre receber com amor cristão a todos que nos procuram, sem cogitarmos de sua vida pregressa. Se houverem virtudes de nossa parte, alguém será beneficiado, se, ao contrário, nós o formos, seja onde estivermos, no lar, na rua, nos Centros de Convivência, lembremo-nos sempre sem comentários do episódio do Cristo e a mulher adúltera. Sejamos como os músicos da Banda de meu Pai, tocando os Hinos para a formação de um mundo melhor.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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