LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VI, edição nº.294, de 21 a 27 de março de 1983.
A RIQUEZA EM DOIS PLANOS
NELSON LORENA
Em minha mocidade ambicionava, como todo aquele que pensa no futuro, ficar rico ou, pelo menos, possuir recursos que me proporcionassem uma vida tranqüila, ajudar meus pais em suas dificuldades no sustento de sua família numerosa. Sem os recursos para continuar meus estudos, abandonei-os desolado. Tornei-me autodidata, lendo tudo quanto me vinha às mãos e desdobrei-me em atividades várias, projetando construções, monumentos, ensinando música, lecionando no ginásio da cidade, na Escola Profissional, pintando retratos, paisagens, dirigindo orquestra, banda de música, compondo hinos sacros e, ainda atuando como funcionário da Central, num exaustivo trabalho de dez a doze horas diárias. Os anos passam velozes e nenhum indício, nem mesmo leve, a riqueza ambicionada esboçava; enquanto alunos meus enriqueciam sem que eu compreendesse como. Em meio às dificuldades o sofrimento, essa sombra que nos acompanha sempre, abriu as janelas de meu entendimento e, na tela do meu subconsciente surgiu a advertência dos primeiros padres da Igreja: “A riqueza é fruto da iniqüidade”; de Jesus: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no Reino de Céu”. A conclusão que tirei era que a desonestidade seria a condição primária para a sua obtenção. Herdando de minha mãe o sentimento piedoso e humanitário e de de meu pai a dignidade e o caráter, abandonei minhas pretensões de moço. Considerando que a vida se fixa em dois planos, material e espiritual ou físico e metafísico, conformei-me com a derrota no primeiro plano, esperançoso da vitória no segundo. Às vezes penso se estarei certo em minhas conclusões! Por que o escândalo do Banco Ambrosiano, com raízes dentro do Vaticano? Por que a frota milionária de caminhões de nossa Basílica? Por que o comércio ostensivo dentro dela? Há uma justificativa para tudo isso. Que toda riqueza, embora iníqua, deixa de o ser, quando aplicada humanisticamente. E, nessa hipótese, a frase de Santo Ignácio de Loyola, “O fim justifica os meios”, tem sua razão de ser.
Quando da maratona eleitoral em nosso país, li nos jornais que nosso João, em discurso no Norte do Brasil dissera evidenciando o trabalho: “Labor improbus omnia vincit”, fiquei aturdido em meu temperamento pobre, mas honesto, dado que pronunciado por alguém de elevada projeção no cenário político mundial. Então, meu “labor probus” teria sido mesmo uma tolice? Filosofei em meio às mais contraditórias conclusões. Previu o João que o Brasil iria mesmo ao fundo, digo ao Fundo e, à beira do caos econômico do descrédito e da insolvência, dali somente seria retirado pelo “trabalho desonesto que tudo vence”? Isso é o que veremos, ou melhor, vocês verão porque eu não terei mais esta oportunidade. Uma coisa é certa: no antagonismo das idéias, na disparidade de opiniões, no amalgama de erros e acertos, “a virtude está no meio”.
Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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