LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.337, de 23 a 29 de janeiro de 1984.
AS MORADAS QUE NOS ESPERAM
NELSON LORENA
Pequenos fatos de nossa vida, à primeira vista destituídos de importância, analisados a fundo trazem para quem busca a razão das coisas, revelações que não raras vezes nos conduzem à verdade. Quando minha caçula tinha cinco anos, em conversa com seu tio que nos visitava disse-lhe, entre outras coisas além de sua capacidade infantil: “Eu vim lá de cima, muita gente ficou chorando quando eu vim; lá em cima existem muitas cidades...”. Outras revelações se seguiram e talvez nos surpreendessem se, marcada a fogo, em nossa Fé não estivesse a crença inabalável, sólida e indestrutível que possuímos na imortalidade e sobrevivência do Ser. Ignorando, e ainda ignora, as palavras do Cristo, “Na casa de meu pai há muitas moradas...”, a criança classificou como cidades, o aglomerado de moradias que o Universo nos aponta no que a consideramos como certa.
Agora, as nossas conclusões e conseqüências filosóficas. Assim como no plano em que nos achamos, o aspecto, o acabamento, o gosto arquitetônico das moradias refletem, ordinariamente, a posse e recursos financeiros do morador, assim também no plano das “moradas de meu pai” são elas ocupadas de conformidade com o patrimônio moral e espiritual conquistados pelos espíritos em ascensão. A Terra, esse paraíso azul que a infinda misericórdia divina nos deu para morar, tão bela e majestosa, tão maravilhosa que nem a maldade humana dos poderosos senhores consegue modificar-lhe, é uma das milionárias moradas do Universo. Na construção do mundo em que vivemos, todo trabalho é útil, é respeitável, é nobre. A Providência acompanha com carinho todo trabalho executado, pois, de sua perfeita execução depende a segurança, a estabilidade, a perfeição da obra. O Homem, transitório que é em sua passagem pela vida, deve conscientizar-se de que seu trabalho, seja qual for, especializado ou não, rude ou delicado, na sombra ou ao sol, constitui a obrigação que lhe foi confiada na construção de um Mundo Melhor. Conseguido o objetivo, outras moradas mais ditosas no infinito, serão o seu prêmio. “A cada um, segundo suas obras”, é evangélico. Na diversidade das provas a que somos submetidos reside a harmonia da obra divina em seu conjunto. O mendigo filósofo que certo dia interrogamos, disse-nos que sua condição miserável deu-lhe a oportunidade de conhecer a grandeza de muitos corações, que jamais conheceria se a mendicância não lhe houvesse dado a oportunidade. O sofrimento também é uma Escola; e nele, nosso caráter se retempera, chamados que somos ao trabalho regenerador. O cientista, em sacrificantes vigílias, esgota sua saúde procurando o bem estar e o prolongamento da vida do seu semelhante. Comerciantes, operários, serviçais, cozinheiros, administradores, nas centenas de profissões, variadas que são, todos encontraremos o caminho certo para as “moradias mais ditosas”, que Deus nos lembrou pela boca virgem de uma criança, se em todo o nosso trabalho, em toda nossa atividade houver, crença e Amor.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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