LIBERDADE

  LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.




O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.338, de 30 de janeiro a 05 de fevereiro de 1984.




LIBERDADE

NELSON LORENA



A liberdade nos conduz à realidade das coisas. As coisas, em si, são a realidade sublimada. Essa sublimação depende de como nos seja permitido, ver, apreender, saber, expressar. Sendo-nos vedado qualquer desses atributos, jamais alcançaremos a realidade procurada. E, não se diga que somente ao homem são atribuídas essas virtudes, pois, todos os seres da criação as possuem, como instinto ou como inteligência, por força imperativa da evolução e do progresso. Houve uma época em que, absorvidos por sofrimentos morais e dores acerbas, abandonamos o devido trato ao nosso pomar. Laranjeiras inteiras, carregadas de frutos e vergadas sob seu peso, solapadas pela broca até o tronco, eram derribadas. Verificamos que a broca, como larva de um inseto, penetrava pelo ápice de tenro galho e, na medida em que ia ficando adulta, se aprofundava. Ao atingir a parte inferior do tronco, tornava-se impossível recuar. A liberdade, esse direito pelo qual lutamos era, também para ela, uma fuga para a vida. Ameaçada na clausura interna do tronco, contornado por um anel desde o cerne até casca, degolava a laranjeira que, desequilibrada, era derribada pagando seu tributo à liberdade da lagarta.

Toda criança quando começa a engatinhar, mesmo entretida com brinquedos, abandona-os quando a porta da rua se abre e para ela se arremessa impulsionada pelo instinto de liberdade, procurando conhecer “um mundo novo” que lhe era vedado até então. O pássaro engaiolado aspira a liberdade e se aproveita quando inadvertidamente a porta da gaiola é deixada aberta, alcançando o vôo para a amplidão do espaço, para a vida para a qual nasceu. O que vemos com a broca da laranjeira, com a criança e com o pássaro, reflete os determinados imperativos da liberdade que movimenta as rodas do progresso. Pretender limitar, retardar mesmo, a marcha inexorável das conquistas que se iniciam com a vida, desde o infusório até o Homem, constitui processo retrógrado dos que desconhecem a explosão da liberdade, quando reprimida. E a História está repleta desses fatos. Catorze de julho de mil e setecentos e oitenta e nove, conta-nos a revolta de um povo, tal qual o nosso hoje, desesperado pela fome, miséria e injustiça, às quais foram levados por uma aristocracia injusta e corrupta. Não queremos, como na França, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Satisfaz-nos, somente a Fraternidade, porque nela se resume a vida e a Paz que almejamos. Como Deus verá  aqueles que, às noites, curvam-se contritos ante as imagens e durante o dia fabricam armas bélicas para assassinar irmãos? Como a broca que aspira a luz, como a criança e o pássaro que buscam a liberdade, assim sorrirá para o nosso Brasil a aurora feliz do terceiro milênio, cantando de peito aberto: “Liberdade, Liberdade”! Abre as asas sobre nós!”


*****


Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.


Veja também:


NELSON LORENA – O ARTISTA CACHOEIRENSE


A ARTE DE NELSON LORENA



*****

Nenhum comentário :