LITERATURA DE NELSON LORENA
Patrono Eternal da Cadeira Nº.13 da Academia Valeparaibana de Letras.
O acervo literário de Nelson Lorena compreende cerca de quatrocentas crônicas sobre história, ciências, crítica, política, filosofia, religião e temas do cotidiano, escritas entre 1977 e 1990. A matéria de hoje foi publicada no Jornal “O Cachoeirense” Ano VII, edição nº.339, de 06 a 12 de fevereiro de 1984.
VALORES QUE O TEMPO NÃO CONSOME
NELSON LORENA
Hoje, quatro de fevereiro, se estivéssemos pessoalmente com o Maestro Lorena, teríamos que dar-lhe um abraço e felicitá-lo pelos seus cento e oito anos de idade. Nascido em Lorena veio, pelos pais trazido, para a então Freguesia de Santo Antonio da Cachoeira, com um ano de idade, logo após a inauguração da Estação Ferroviária. Muito cedo lhe despontou o pendor para a música. Fazia flautas de bambu e juntamente com um amigo vizinho, à beira do fogão, em noites de frio tocavam canções da época. Cantava na Igreja, nas missas cantadas de seu Pai, primeiramente soprano e, subsequentemente, à medida que avançava em idade, tenor e barítono. Desde a idade de treze anos, fez-se telegrafista trabalhando na Rede Sul Mineira e posteriormente na Central, radicando-se em Cachoeira. Aí, começou a se dedicar às composições musicais e tornou-se o compositor musical amador mais fecundo do Vale. Compôs duas Missas cantadas e orquestradas, seis músicas eruditas para Bandas, inclusive a afamada “Avançada de Jofre” revivendo episódios da Batalha do Marne, em que o fragor da luta se fazia sentir no sopro dos instrumentos, sob os aplausos da multidão e da homenagem que a cidade lhe prestava, compôs mais seis Valsas de Conserto, quarenta dobrados para Bandas e inúmeras músicas populares para danças como foxes, mazurcas, boleros e sambas. Como homem público, fundou a Loja Maçônica Bom Jesus com colaboração do Dr.Rocha Junior, Comendador José de Oliveira Gomes, Agostinho Prado, professor Barbosa e outros. Dirigiu a Banda XV de Novembro durante quarenta anos, até a sua extinção. Foi um dos fundadores do atual Clube Recreativo da cidade, fundou o Cachoeira Futebol Clube em 1908. Fundou um Grêmio Dramático dando dois espetáculos por mês, sustentando quatro artistas profissionais, inclusive dois da Companhia Eduardo Vitorino, do Rio de Janeiro, que aqui viveram. “Temperamento forte, encarando a vida com a impassibilidade de um rochedo insensível a fúria dos vendavais, José Randolfo Lorena tem vencido a árdua batalha da existência”, assim a ele se refere o jornal “O Cachoeirense”, no ano de 1926. Herdou de sua Mãe o gênio alegre e pilhérico, sorrindo ante o fracasso, espalhando humor onde havia tristeza, e de seu pai, a altivez, o gosto pela música e, porque não, certo orgulho pessoal. Detestou o álcool, o fumo, todos os vícios enfim, assim como a subserviência e a deslealdade. A adversidade, e disso fomos testemunhas, chegou até as muralhas de seu caráter sem contudo ultrapassá-las. Sem os imperativos de um cargo eletivo ou político, jamais alguém fez por nossa Cachoeira tudo quando seu dinamismo realizou. Esta, a pálida imagem do HOMEM, de quem nos orgulhamos de ser filhos.
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Ao professor e jornalista, José Maurício do Prado, ex-diretor proprietário do jornal “O Cachoeirense”, os nossos agradecimentos pelo acesso aos originais.
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